O petróleo da Noruega

A Noruega é o país mais próspero do mundo. Possui o maior pib per capita do mundo que em 2014 chegou a ultrapassar a marca dos 100 mil dólares. O pib per capita do Brasil é de cerca de 8.700 dólares. Quarenta anos depois da descoberta do petróleo no Mar do Norte, a Noruega conseguiu traduzir esse recurso natural em prosperidade e igualdade. Segundo a ONU, jamais uma sociedade atingiu nível de desenvolvimento humano igual ao da Noruega. O salário mínimo é de 4,8 mil, cerca de R$ 14 mil, o desemprego é de 2% e, mesmo em uma era de austeridade, o sistema do bem-estar social se manteve intacto.

A Noruega foi um dos poucos países a atravessar a crise global sem grandes impactos e, nas últimas eleições, o único debate era o que fazer com o dinheiro que sobra nos cofres públicos. A história do petróleo na Noruega demonstra o quanto o Brasil está na contramão do país que melhor aproveitou seu ouro negro em benefício da nação. Aquele país ao descobrir grandes reservas, aí pelos idos de 1970, traçou um plano fabuloso que redundou em sucesso absoluto.

Hoje a Noruega detém o maior fundo soberano do mundo cujo valor aproxima-se de 1 trilhão de dólares. Esse fundo é uma poupança do estado norueguês, oriunda do petróleo. É uma riqueza da população e será sempre empregada em benefício da sociedade. O plano norueguês, no início, se caracterizou pela chamada às grandes empresas petrolíferas multinacionais. A Noruega não tinha tecnologia para implantar sua indústria petrolífera. Era um país pobre, sem recursos. Com o tempo, foi criando empresas em toda a cadeia produtiva do petróleo e absorvendo tecnologia. E aí criou a Statoil, empresa estatal de excelente performance, que hoje é a líder em exploração na Noruega e trabalha sob o regime de partilha hoje em voga no Brasil, mas que vem sendo desmontado pelo governo de plantão.

O modelo norueguês tem esse componente: a forte presença do Estado em praticamente todos os campos da economia. Hoje, o estado controla a Statoil, o grupo de telecomunicações Telenor, a fabricante de fertilizantes Yara, e o maior banco do país, o DnBNor. Segundo matéria do Estadão, as contas positivas e o sentimento de que os recursos são de todos também transformaram a maneira pela qual a população se comporta. Os sindicatos, por exemplo, negociam a cada ano seus salários, dependendo das necessidades do setor exportador e para garantir que o produto nacional continue competitivo no mercado global.

Nas eleições, partidos prometem não cortar impostos. O imposto de renda é elevado, atingindo 42%. Mas existe um consenso de que o valor é justo para manter o sistema e que, de uma certa forma, tudo é devolvido em serviços. O estado paga do berçário ao enterro, financia estudantes e até banca férias. Com este espírito foi criada a Statoil que se tornou uma gigante e hoje está presente em 30 países. No Brasil, a Statoil tratou de comprar recentemente o grande campo de Carcará e já é a maior produtora de petróleo por aqui, exceção feita à própria Petrobras.

O Brasil caminha no sentido inverso. De uma grande empresa estatal, a Petrobras, que já foi das mais importantes multinacionais do mundo, presente em vários países, caminha, a passos rápidos, para abrir mão de uma das maiores reservas de petróleo do mundo que poderia gerar uma riqueza incalculável a ser aplicada, por exemplo em educação maciça de qualidade para o povo, tirando o país da idade média educacional em que vive e finalmente alçando essa sofrida nação a um lugar de destaque proporcional à sua riqueza e potencial.

Superintendente da Eletronorte-Gerencia de Obras de MT e Mestre em Economia pela UNB. E-mail: heliomonti56@gmail.com