29.04.2017 | 00h00
Há algumas semanas escrevi sobre o fenômeno do negacionismo, mostrando como, em diferentes épocas, por razões religiosas ou econômicas, tenta-se negar as evidências científicas ou a própria história. Entre outros casos, citei os negacionistas do aquecimento global e os da teoria da evolução.
Infelizmente, há também inúmeros exemplos em que a paixão ideológica ou político-partidária provoca atitudes negacionistas radicais. Se o efeito desse comportamento fosse apenas cobrir de ridículo seus militantes, o dano seria reduzido. Contudo, em certas situações, o negacionismo alcança grandes proporções, influenciando negativamente decisões políticas e causando tragédias.
Foi o caso da África do Sul em relação ao enfrentamento da epidemia de AIDS. Enquanto no Brasil desde o final da década de 80 adotaram-se diversas medidas preventivas, como campanhas esclarecedoras e distribuição de preservativos, bem como assistência aos infectados na rede pública de saúde, na África do Sul o governo de Mbeki abraçou uma visão que negava a existência do vírus HIV e atribuía a tese oposta a uma conspiração de multinacionais da indústria farmacêutica. O resultado é que em nosso país a doença atinge menos de 0,5% dos brasileiros, enquanto na África do Sul a população adulta infectada ultrapassa 15%, tendo ocorrido mais de 330.000 mortes.
Outro exemplo é o negacionismo do Holocausto praticado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Patrocinadas por organizações de extrema-direita em diversos países, as campanhas de negação dos crimes nazistas procuram apresentar o racismo fanático como uma ideologia respeitável e injustiçada e assim angariar nas novas gerações adeptos para causas políticas odiosas e segregacionistas. O recente fortalecimento de partidos racistas em diversos países europeus está bastante relacionado à intensificação do negacionismo do Holocausto.
No outro extremo, há quem negue ou tente relativizar todos os crimes praticados em nome do comunismo, tanto nos gulags stalinistas, como nos massacres cambojanos ou, ainda, na perseguição cubana a dissidentes, artistas e homossexuais. Não são poucos os que acreditam que todas as denúncias contra ditaduras de inspiração leninista são conspirações imperialistas ou então que uma suposta revolução proletária justifica assaltos aos cofres públicos, pois esses estão a serviço do Estado capitalista.
Em nosso país, também assistimos essa triste pantomina. De um lado, há os que negam, minimizam ou justificam os crimes bárbaros e a corrupção da ditadura militar. De outro, há os que juram que o mensalão nunca existiu e que a enciclopédia de crimes bilionários revelada pela Lava-Jato e outras operações não passa de uma criação hollywoodiana, financiada por grupos multinacionais interessados em destruir a economia brasileira. Parênteses: como se a estabilidade de preços não tivesse sido arrasada pelas pedaladas fiscais e pela desastrosa gestão que colocou mais de dez milhões de trabalhadores sem emprego.
Ambos grupos de negacionistas, os da ditadura e os do mensalão-petrolão-etc., ignoram fatos, provas, documentos e depoimentos e atuam raivosamente nas redes sociais e na arena política. Ambos prestam grande desserviço à democracia brasileira e à superação da crise econômica e política.
É preciso honestidade para admitir erros, humildade para rever conceitos e coragem para empreender novos rumos. Tudo isso falta aos negacionistas de todas as latitudes. Se fossem inofensivos, mereceriam nossa compaixão ou, no mínimo, indiferença. Não o são e por isso devem ser denunciados e combatidos, sob pena de alastrar-se ainda mais os vírus da ignorância e da falsidade.
Luiz Henrique Lima é conselheiro substituto do TCE-MT.
Publicidade
Publicidade
Milho Disponível
R$ 66,90
0,75%
Algodão
R$ 164,95
1,41%
Boi à vista
R$ 285,25
0,14%
Soja Disponível
R$ 153,20
1,06%
Publicidade
Publicidade
O Grupo Gazeta reúne veículos de comunicação em Mato Grosso. Foi fundado em 1990 com o lançamento de A Gazeta, jornal de maior circulação e influência no Estado. Integram o Grupo as emissoras Gazeta FM, FM Alta Floresta, FM Barra do Garças, FM Poxoréu, Cultura FM, Vila Real FM, TV Vila Real 10.1, TV Pantanal 22.1, o Instituto de Pesquisa Gazeta Dados e o Portal Gazeta Digital.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem a devida citação da fonte.