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18.04.2004 | 03h00

Os mistérios dos que são mais fortes do que doenças graves

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Dia 16 de abril de 2002. Esta data dificilmente será apagada da memória da universitária Clair Teresinha Heberle, 35. Era uma quarta-feira, ela estava em sala de aula apresentando um trabalho. De repente caiu no chão, pálida, desmaiada, em coma.

Clair foi socorrida e levada às pressas para um hospital. Ficou 24 horas em coma e outros dez dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Os exames diagnosticaram aneurisma cerebral.

O quadro clínico de Clair era grave. Ela poderia morrer a qualquer momento. Foram dez dias de incerteza. Vida e morte andaram juntas dentro do quarto de UTI.

A história da universitária não parou por aí. Ela venceu a doença, se recuperou totalmente e hoje tem uma vida normal. Clair está em meio a um seleto grupo de pessoas que passa pela experiência de se defrontar com a morte, mas consegue dar a volta por cima, reagir, vencer, sorrir e ser feliz.

Existe uma explicação para isso? Evidentemente que entra em questão o tipo da doença, o tratamento, a idade, sistema imunológico, fé, entre outros fatores variados levados em consideração para fechar um diagnóstico. A medicina, porém, não tem dúvidas que as pessoas alegres, bem humoradas, que conseguem rir das próprias desgraças reagem melhor às doenças, podendo ser uma gripe ou um câncer.

"A pessoa positiva, perseverante e otimista, escuta mais o médico, encara o tratamento de frente, é disciplinada, faz questão de fazer tudo certo para melhorar. Quem é bem humorado se recupera mais rápido. Dezenas de pesquisas e estudos realizados no mundo inteiro já mostraram isso", destaca a psicóloga Ireniza Canavarros.

A universitária Clair Heberle sabe bem o que significa isso. Depois de se submeter a uma cirurgia para "clipar" a veia que se rompeu na cabeça, ela seguiu a risca todo o tratamento prescrito pelo médico. "Não baixei a cabeça em momento algum. Sempre pensei que iria me recuperar. Fiz o tratamento direitinho", conta.

De acordo com pesquisas, 85% das pessoas que sofrem aneurisma cerebral morrem na hora. Das 15% que sobrevivem, 10% morrem durante ou após a cirurgia. Restam ainda 5% sobreviventes, destas 3% ficam com sequelas. Apenas 2% voltam a ter uma vida normal. Clair está inserida neste pequeno universo. "Me considero uma heroína. Nasci de novo", comemora.

Devido à cirurgia, Clair teve que cortar os longos cabelos pretos. No lugar ficou uma enorme cirurgia feita de um extremo ao outro da cabeça. "Fiquei sem cabelo, minha pálpebra caiu, fiquei completamente diferente. Eu, porém, não quis usar lenço nem colocar óculos escuros. Saía para todos os lugares, as pessoas me olhavam, mas eu não estava nem aí. Depois de 45 dias que eu fiz a cirurgia fui na faculdade rever meus colegas", lembra.

A alegria de viver, o otimismo, o bom humor e a fé também deram nova vida à professora Vânia Nunes Meireles, 47. Ela enfrentou nada mais nada menos que dois cânceres de mama.

Em 1996 depois de um auto-exame ela constatou que estava com um nódulo na mama direita. Os exames atestaram que se tratava de um tumor maligno.

Vânia foi submetida a uma cirurgia para a retirada do nódulo. "Felizmente não precisei fazer a mastectomia radical, ou seja, retirar totalmente a mama", observa.

Na sequência da cirurgia a professora foi submetida a sessões de radioterapia e quimioterapia. "Foi horrível. Fiz três sessões de quimioterapia e não quis mais saber", lembra.

O médico receitou para Vânia uma medicação que iria esterelizá-la. Apesar de ter dois filhos do primeiro casamento, ela não queria ficar impedida de ter outro bebê. "Eu tinha me casado novamente e meu esposo não tinha filhos. Fiquei triste por isso, mas não perdi a esperança, não fiquei com auto-piedade, resolvi procurar outro médico", destaca.

Veio então a boa notícia. Vânia não precisava tomar o medicamento. Meses depois, a gravidez. A professora teve o bebê que amamentou em apenas um seio. "Como tinha feito a cirurgia na mama direita, ela não produziu leite. Usei a outra. Foi lindo", orgulha-se.

Quando o bebê de Vânia estava com um ano e sete meses, uma outra notícia bombástica: ela estava com um outro nódulo no seio já operado.

"Dessa vez fui ao chão. Chorei muito, fiquei três dias em depressão, mas como amo demais a vida resolvi mais uma vez enfrentar o problema de frente. Não aceitei aquilo como uma sentença de morte. Só que dessa vez fui para a igreja, tudo foi mais fácil", assegura.

A professora mais uma vez foi submetida a uma cirurgia, teve que retirar o seio todo. Os médicos fizeram o esvaziamento da mama e restauraram com silicone. "Eu escolhi o silicone que iria ficar melhor. Quando sai da sala de cirurgia já estava com a prótese. Não fiquei mutilada", explica.

Vânia atribui a sua recuperação a Deus. "Foi ele sem dúvida, eu escolhi o caminho certo. Era para eu estar a sete palmos embaixo do chão. Estou aqui viva, feliz, trabalhando, com minha família, meus amigos. Isso é maravilhoso. Sou realmente uma pessoa muito, mas muito feliz", assegura.

A professora destaca que o fato de ser uma mulher otimista e perseverante em muito lhe ajudou. "Eu não fiquei com pena de mim. Não me lamentei. Não fiquei perguntando por que isso está acontecendo comigo. Eu reagi. Fui a luta e venci. Dez dias depois da cirurgia eu estava fazendo a matrícula dos meus alunos", diz.

Para quem está passando por uma situação semelhante, Vânia faz questão de deixar um recado. "Não se desespere. Busque a palavra de Deus. Mantenha a alegria de viver. Sorria para a vida", orienta.

Há 11 anos a também professora Leiry Maria Rodrigues, 40, achou que tinha recebido a sua sentença de morte. Em suas mãos estava um exame de HIV positivo. "Pensei: é o fim!", lembra.

Leiry descobriu que era portadora no dia 11 de agosto de 1993. "Naquela época, muito pouco se sabia sobre HIV. Sinceramente achei que iria morrer. Entrei em depressão, foram seis meses de angústia. Em março de 94 comecei a sair dessa. Em vez de ficar me lamentando fui em busca de informações", conta.

A professora partiu em busca de um mundo desconhecido. "Aprendi que para viver teria que tomar os remédios todos os dias, me alimentar na hora certa, não perder noites de sono, pois têm pessoas que precisam e dependem de mim", ressalta.

Ela diz que hoje, quando um médico lhe fala "eu acho", não entra mais em pânico. "Tomei pé da minha vida. Sei que viver bem ou não depende de mim. Faço o tratamento direitinho, me alimento corretamente, não me dou ao luxo de farrear, sinto falta de sair para dançar, mas sei que perder uma noite de sono traz consequências ruins para mim. Eu tenho que ser honesta comigo", se cobra.

O tratamento de Leiry consiste na ingestão diária de dois comprimidos, um de manhã e outro à noite. "No dia 4 de maio completa sete anos que tomo a medicação. Já briguei com os remédios, joguei no lixo, peguei de volta e continuei tomando. Gosto de estar viva. Não quero morrer. Me entregar seria suicídio", acredita.

Apesar de saber que tem uma doença ainda incurável para a medicina, a professora não lamenta. "Não fico me perguntando por que isso aconteceu comigo. No início tive auto-piedade, não queria morrer, mas depois passei a mudar estes conceitos", diz.

Há seis anos Leiry engravidou do seu segundo filho. Na época, por ser portadora do vírus, o médico chegou a sugerir que ela fizesse um aborto. "A gravidez não foi planejada, mas não quis retirar meu bebê".

Ela foi a segundo mulher em Mato Grosso que teve um filho sendo portadora do vírus.

O bebê, uma menina, nasceu e com ela veio o desespero da mãe, que demorou 1 ano e 8 meses para confirmar que a filha não tinha o vírus. "Foram meses e meses de puro desespero. Ela espirrava eu corria para o médico. Foi muito angustiante", confessa.

A psicóloga Ireniza Canavarros destaca que é comum as pessoas que tiveram experiências como essas passarem a ver a vida de um outro prisma.

"Essas pessoas ficam mais contemplativas. Refletem mais, mudam a vida, querem se sentir úteis, passam a fazer trabalhos voluntários, a valorizar pequenas coisas, ficam mais com a família", explica.

Este é o caso de Leiry. "Antes eu me preocupava com fofocas, briguinhas. Hoje eu não tenho mais tempo para picuinhas. Os valores mudaram. O importante para mim é continuar vivendo", garante.

Ela é a coordenadora a Organização Não-governamental "Corações Amigos", fundada em 1997, para dar apoio a portadores do HIV. "Hoje não me pergunto por que eu não tenho um carro. Se tiver que ir a pé, de ônibus ou de carona eu vou. Não lamento. Vivo, viver é maravilhoso", ensina.

A universitária Clair Heberle também afirma que mudou muitos conceitos de vida. "Eu dava importância para muita coisa pequena, briguinhas, desentendimentos com o marido. Não tinha muita paciência com meu filho. Hoje não levo as coisas tão a sério. Tenho mais paciência, sou mais calma, mais feliz", assegura.

As pessoas que enfrentam doenças graves normalmente procuram "se agarrar" a alguma coisa. Além da fé e da esperança a família e os amigos têm papel fundamental nesse processo de recuperação.

"A família, o filho, o esposa ou o marido, a mãe, o pais, enfim, essas pessoas são a inspiração de quem está doente", diz a psicóloga Ireniza Canavarros.

A universitária Clair concorda. "Meu filho foi minha inspiração. Eu só pensava nele, sabia que tinha que melhorar, que ele precisava de mim", afirma.

Independente da doença, da gravidade ou do tempo de recuperação, as entrevistadas têm uma opinião em comum: a vida é maravilhosa.

Algumas pessoas percebem isso quando nascem, outras no decorrer da existência, existem aquelas porém que morrem sem ter percebido.

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