Venezuelana grávida aos 17 anos não tem moradia

Grávida aos 17 anos e a apenas uma semana para dar à luz, a venezuelana Maria José Herendía está no limite do tempo de abrigo previsto pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ficar na Pastoral do Migrante, entidade beneficente que acolhe estrangeiros de passagem por Cuiabá. Ela veio para a capital há 2 meses, junto de seu esposo, Dioscar José, 21, sua mãe e um irmão.

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A jovem deve dar à luz na próxima semana, no Hospital e Maternidade Santa Helena, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). O menino que carrega no ventre, além de vir ao mundo sem ter moradia, ainda não tem roupas, fraldas e utensílios básicos para o seu desenvolvimento. 

"Desde que eu cheguei eles já estão me mandando embora. Eu vou, mas como eu vou se eu não tenho emprego, não tenho geladeira, não tenho nada? Eles dizem que não é problema deles e que a gente precisa encontrar um lugar para viver em 15 dias", explicou. 

A situação de Maria não é uma exceção. Depois da crise política e econômica instaurada no país, os venezuelanos vêm para o Brasil em busca de melhores condições de vida, mas se deparam com o cenário do desemprego e do abandono. No caso da jovem, ela e sua família chegaram em dezembro de 2017, em Boa Vista, Roraima, considerada a porta de entrada do país. 

A cidade, no entanto, sofre com a superpopulação de imigrantes, o que faz com que venezuelanos procurem outros lugares do país para tentar a vida. O Governo Federal, inclusive, criou um programa de interiorização para facilitar o deslocamento dos refugiados. 

Maria, Dioscar e sua família desembarcaram em Cuiabá em julho, em um grupo de 24 pessoas. Conforme apurado pelo , Cuiabá já recebeu este ano 143 imigrantes. Dois grupos chegaram entre abril e maio, o terceiro em julho e o quarto em setembro. 

"Quando saímos de Boa Vista a ONU falou que teríamos direito de ficar aqui por 3 meses até que conseguíssemos um emprego, mas a Casa Pastoral diz que temos apenas 40 ou 45 dias. Estão faltando respeito com a gente", disse. 

Por medo de represálias, o casal conversou com a reportagem em um conjunto de quitinetes distante 4 quadras da Pastoral do Migrante, no bairro Carumbé. O local, estreito e abafado, é composto majoritariamente por venezuelanos e haitianos, que desembolsam R$ 300 por mês no aluguel. José Gregório Silva, 43, é um dos moradores do local. 

Otmar de Oliveira

 José Gregório Silva, 43 anos.

O quarto em que vive é preenchido apenas por uma cama de solteiro, que conseguiu por meio de doações.

Ele chegou a Cuiabá em maio e desde então pede por dinheiro ou por uma oportunidade de emprego nas imediações da avenida do CPA. "Soy venezuelano, preciso trabalho ou uma ajuda", diz o anúncio, que carrega todos os dias junto ao corpo, enquanto transita entre os carros. 

Na Venezuela, José era guia turístico na cidade de Maracay. Sua filha, uma menina de 18 anos, ainda vive no país e chegou a passar 100 dias comendo apenas arroz. Sua mulher ainda está em Boa Vista, mas não conseguiu encontrar emprego.

"Eles dizem que os venezuelanos estão trabalhando, que está tudo bem, mas é mentira", completou.

A Pastoral

A Pastoral do Migrante tem capacidade para acolher 100 pessoas. O entra e sai dos estrangeiros, contudo, é diário. A estimativa da instituição é que os imigrantes consigam emprego em 45 dias. 

"Ele realmente têm conseguido trabalho. Nós temos um balcão do trabalhador e eles buscam empregos para os venezuelanos. A oferta maior é em chácaras, pousadas e restaurantes e eles estão absorvendo esta demanda", disse a coordenadora da Pastoral, Eliana Vitaliano. 

Para doações, Maria José atende no (95) 9 9135-4902 e José Gregório (65) 9 9614-2860.