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Ricardo Noblat - A | + A

01.06.2015 | 00h00

Il Padrino!

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Em um sábado de junho, há exatos dez anos, depois de tomar uns tragos a mais na Granja do Torto, uma das residências oficiais do presidente da República em Brasília, Lula falou em renunciar ao mandato. Acabara de saber que o publicitário Marcos Valério, um dos operadores do mensalão, ameaçava envolvê-lo no escândalo. A informação vazou no fim da tarde. Soube por um ministro. E a postei no meu blog.
Aquela foi a primeira vez que Marcos Valério pediu dinheiro ao governo para não contar o que sabia. Avisado em São Paulo, onde passava o fim de semana, José Dirceu, na época ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, voou às pressas a Brasília, com a missão de apascentar Lula e de garantir o silêncio de Valério. Conseguiu. Mais tarde, o dinheiro pedido acabou entregue.
No segundo semestre de 2006, Valério voltou a atacar. Procurou o senador Delcídio Amaral (PT-MS), então presidente da CPI dos Correios, que investigava o caso do mensalão. Queixou-se de estar quebrado. Acumulava dívidas sem poder honrá-las. Seus bens haviam sido bloqueados. Caso não fosse socorrido, daria um tiro na cabeça ou faria com a Justiça um acordo de delação premiada.
Delcídio pediu uma audiência a Lula. Recebido no gabinete presidencial do terceiro andar do Palácio do Planalto, reproduziu para o presidente o que ouvira de Valério. Em silêncio, Lula virou-se para uma das janelas do gabinete que lhe permitia observar parte da vegetação do cerrado. O silêncio durou menos do que pareceu a Delcídio. Lula estava fisicamente abatido.
Então perguntou ao senador: ‘Você falou com Okamotto?‘. Delcídio respondeu que não. E Lula mais não disse, nem lhe foi perguntado. Seria desnecessário. Paulo Okamotto era uma espécie de tesoureiro informal da família Lula. Hoje, é o presidente do Instituto Lula, local de despacho do ex-presidente em São Paulo. Delcídio, que nega o encontro com Lula, falou com Okamotto. E bastou.
Naquele mesmo ano, Valério gravou um vídeo com partes da história do mensalão que comprometem Lula. Fez quatro cópias. Deu três a Renilda, com quem era casado. E mandou uma para quem mais poderia se interessar por ela. Ordenou a Renilda que entregasse as três cópias aos jornais O GLOBO, ‘Folha de S. Paulo‘ e ‘O Estado de S. Paulo‘ caso ele desaparecesse ou fosse morto.
Faltou alguém em Nuremberg! Faltou alguém na denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a ‘organização criminosa‘ que tentou se apossar do aparelho do Estado. Desviou-se dinheiro público. Comprou-se o apoio de partidos. Subornaram-se deputados para que votassem como o governo queria. E eles votaram.
Ao ‘Estado de S. Paulo‘, depois de ter deixado o governo, Dirceu disse que nunca fizera qualquer coisa sem que Lula soubesse. À ‘Playboy‘, afirmou que Lula jamais daria um cheque em branco a qualquer pessoa. A mim, contou que Delúbio Soares era amigo de Lula; dele, não. Com um parlamentar, segundo a ‘Veja‘, desabafou: ‘Lula devia falar das visitas que o Valério fez à Granja do Torto‘.
O STF condenou Dirceu por chefiar a quadrilha dos mensaleiros e por corrupção. Em seguida o absolveu pelo primeiro crime. O processo do mensalão passará à História como o que condenou o maior número de pessoas por corrupção - 25, entre elas Marcos Valério, sujeito a pena de 37 anos, a maior. E também como aquele onde uma organização criminosa agiu sem que ninguém a chefiasse.

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ricardo noblat. noblat@oglobo.com.br
 

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