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10.08.2025 | 08h00

Ser pai é escolher fica

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Maria Homem

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Não se nasce pai, torna-se pai. Gosto de começar por essa frase porque ela desmonta, de início, a ideia de que a paternidade seja um dado natural ou instintivo.


Mesmo a maternidade, que tantas vezes começa com sensações físicas — um enjoo, o inchaço, a náusea que precede a consciência da gravidez — não é uma experiência automaticamente subjetiva. Ainda assim, há um corte do real no corpo da mulher. E para o homem?


Para o homem, esse processo é muito mais sutil, elaborado, psíquico. Porque não existem marcas imediatas no corpo. Há, no entanto, algo tão ou mais profundo: acolher a paternidade. Isto é, implica revolver identificações antigas, arcaicas até, com o próprio pai. É aí que o menino reencontra seu herói, ou aquele que faltou, falhou, silenciou.


A função paterna é simbólica por excelência: ela é a base do que chamamos cultura patriarcal, estruturada ao redor da figura do pater. Ser pai é ocupar esse lugar. É estar entre dois polos: ser ainda filho, com tudo o que se recebeu (ou não recebeu), e, ao mesmo tempo, espelhar-se como referência para um novo ser que chega ao mundo.


É por isso que a paternidade pode ser tão angustiante. Tocar esse lugar simbólico nos convoca a nos implicar. E muitos não dão conta. Muitos fogem, “saem fora”, como diz a expressão popular.


E essa saída, essa desimplicação subjetiva, é um dos silêncios mais profundos da nossa sociedade. Ela reverbera em sintomas: autoritarismos, hedonismos, vícios, adoecimentos psíquicos. O vazio da função paterna cobra seu preço.
Mas também vejo outros caminhos. Vejo homens dispostos a ocupar esse lugar com presença, com afeto, com escuta. Não se trata de ser um pai perfeito, mas de estar. De poder cuidar, amar, educar, transmitir.


Para isso, é preciso antes se reconhecer como filho, reconhecer o legado que recebeu, perdoar as falhas possíveis, metabolizar as ausências, para então poder seguir com um novo bastão simbólico.


É esse movimento que me interessa: o de homens que escolhem assumir a paternidade. Que assumem essa travessia com coragem e delicadeza. Porque, no fim, ser pai é isso: uma construção, uma aposta, uma possibilidade de transmitir amor.

Maria Homem é psicanalista e coautora do livro “Coisa de Menino? Uma conversa sobre masculinidade, sexualidade, misoginia e paternidade”, escrito em parceria com o psicanalista Contardo Calligaris.

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