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12.02.2025 | 11h22

Uma pitada de pessimismo

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Renato Maia

Divulgaçaõ

Divulgaçaõ

Dentre os muitos debates da atualidade, há um que ocorre nas sombras, sem manchetes, sem concílios religiosos ou discussões acaloradas nos grupos de WhatsApp. Talvez seja apenas mais uma vítima das rolagens furtivas de tela ou mais um item salvo para "ler depois" e nunca revisitado. Trata-se do embate entre o pessimismo e seu rival pós-moderno: o #gratiluz.


Esse confronto não fará o dólar oscilar vertiginosamente, não levará jovens imberbes a pegarem em armas e tampouco fará a cúpula do G-20 discutir seus impactos na geopolítica. Ainda assim, ele molda nossa forma de encarar a vida. Mesmo diante de infortúnios diários — a porta do elevador que se fecha no momento errado, a etiqueta pinicando no pescoço, a miríade olfativa do transporte público — e de desastres naturais e humanos que destroem vidas em segundos, cresce a ideia de que devemos sempre priorizar o pensamento positivo. Há quem afirme peremptoriamente que os "índices de positividade" cultivados no sistema límbico não apenas influenciam o sucesso, mas determinam seu alcance.


Essa obsessão pela positividade não é nova. Voltaire já ironizava essa visão com Cândido e Pangloss, e a empáfia do século das luzes fez com que Schopenhauer, no século XIX, tentasse mostrar ao homem, tão orgulhoso de seus feitos, a miséria de sua condição. Hoje, porém, a positividade virou um mercado bilionário. Influencers, blogueirinhas e coaches inundam as redes sociais com discursos recheados de anglicismos, fazendo-nos sentir culpa por nosso "fracasso", fruto da falta de comprometimento com uma existência “good vibes only”. No mundo corporativo, gestores ostentam bandeiras abstratas como "liderança vulnerável" e "resiliência", que, no fim, só medem o grau de culpa ecológica dos funcionários ao usarem mais de duas folhas de papel para secarem as lágrimas no banheiro da empresa.


É preciso reequilibrar esse jogo com uma pitada de pessimismo. Não um pessimismo derrotista, como o da hiena Hardy: "Oh céus, oh vida, oh azar". Mas também não um otimismo cego que ignora o sofrimento e o desamparo humanos. Tenhamos um pessimismo esclarecido. Saibamos que a vida não é um passeio, mas pode, sim, ter momentos de distração. Como um sábio disse certa vez, “ela esquenta, esfria, aperta e afrouxa, mas o que a vida quer de nós é coragem.” Tenhamos, pois, coragem. Afinal, bons marinheiros não se forjam em mar calmo. Isso, é claro, diante do andar da carruagem, se ainda houver mar…


Renato Maia é filósofo, diretor audiovisual, escritor e autor do livro “Histórias que um pessimista contaria a seus netos se tivesse decidido ter filhos”

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