Generosidade & Planejamento Fiscal

Um rico pai de família levou seu filho para passar um dia numa pequena casa de taipa de um sítio. Queria que ele percebesse como existem pessoas que vivem em extrema pobreza e com isso levá-lo a valorizar os bens materiais, o status, o prestígio social e outros benefícios que o dinheiro oferece.
- O que você achou da viagem filho? - Muito boa, papai! - Viu a diferença entre viver com riqueza e na pobreza? - Eu vi que não temos cachorro em casa, e eles têm quatro. Nossa piscina nem se compara com o riacho lindo. Nossa varanda iluminada por lâmpadas está longe da deles que tem a lua e as estrelas. O jardim deles é uma floresta inteira.
A saudável reflexão do filho nos leva a meditar com lucidez valores despercebidos por muitas pessoas anestesiadas pelo poder dinheiro que tem. E refletir também sobre a importância de devolver à sociedade parte da riqueza que conseguimos acumular. É o exemplo de muitos.
O atualmente, homem mais rico do mundo Warren Buffett doou em vida 85% de sua fortuna para fundação Bill & Melinda Gates, que financia escolas públicas e pesquisas para a cura de doenças.
O próprio Bill Gates é um doador de bilhões para a mesma fundação. Ele diz que ‘acredita na filosofia de que um milionário deve deixar a seus filhos o suficiente para que eles façam qualquer coisa, mas não o suficiente para que eles não precisem fazer nada’.
Mas o motivo de tanta generosidade dos americanos não é somente amorosidade. É na verdade, planejamento fiscal de suas fortunas. Lá existe um imposto sobre a transmissão de grandes heranças que pode atingir até 50% do montante a ser repassado para os herdeiros.
Então para eles é melhor criar fundações com objetivos sociais e colocar os filhos para comandá-las, do que transferir o patrimônio diretamente a eles. Abatendo inclusive imposto de renda de boa parte do dinheiro investido em causas sociais.
É um modelo a ser copiado pelos legisladores brasileiros. Aqui não tem incentivos para investimentos sociais de pessoas físicas, enquanto lá até 100% do imposto de renda pode ser abatido pelas doações aqui somente 2% do lucro.
Grande paradoxo do Brasil com tantas dificuldades na distribuição de riquezas, na formação e educação da sociedade, ter um contexto tão desfavorável para a filantropia sem incentivos fiscais.
Construtivamente iremos sempre pensar como o filho do pai rico que aprendeu na sua singela viagem o quanto eram ‘pobres‘, e assim possibilitar um país mais justo para seus filhos. Pense nisso, mas pense agora!

Saulo Gouveia (www.seubolso.net)