EM CUIABÁ 04.08.2019 | 08h05

viviane@gazetadigital.com.br
João Vieira
Um acervo de mais de 7 mil itens, entre bonecas de diferentes materiais (pano, biscuit, plástico, cera, porcelana, papel machê e celulóide), das mais variadas etnias, representando adultos e crianças, bonecas mecânicas, brinquedos de várias épocas e nacionalidades. Um universo lúdico que pode ser conferido no único museu de bonecas da América do Sul - e que fica bem ao alcance dos olhos dos cuiabanos.
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Sua fama já ultrapassou as fronteiras de Mato Grosso e alcançou prestígio nacional e internacional, porém, o Museu das Bonecas e Brinquedos, instalado na R. Bom Jesus de Cuiabá, nº 90, no bairro Santa Marta, corre o risco de fechar as portas por falta de recursos, apoio e visitação.
Há 8 anos mantendo o local com recursos próprios, a aposentada Terezinha Barros, 67, construiu um verdadeiro império do mundo da fantasia e sonhou ver seu acervo sendo apreciado por crianças e adultos.
“Foram anos de muito trabalho e investimento para conseguir montar este espaço e poder compartilhar com os mato-grossenses e com turistas – que têm à disposição um local único. Mas está sendo difícil mantê-lo, devido aos gastos e a pouca visitação”.
As despesas, todas custeadas por Terezinha, vão desde a energia elétrica, limpeza, segurança, manutenção das paredes e forro e eliminação do mofo, à restauração e aquisição de peças. “São custos muito altos para nós que não temos faturamento. O tratamento do mofo, por exemplo, é muito caro e energia também, pois precisamos manter o ambiente refrigerando por causa do nosso clima. E sempre aparece uma manutenção para ser feita. Hoje mesmo, fomos surpreendidos por uma nova infiltração no forro – que, aliás, precisa se todo trocado, juntamente com o telhado”, declara a servidora pública aposentada.
A paixão de Terezinha contagiou toda a família e, atualmente, ela tem a ajuda da filha Ana Flávia Barros, que é jornalista e auxilia na parte administrativa, atendimento e divulgação do espaço. “É um acervo muito rico e que requer muita dedicação e trabalho, além muito invesitemento. Também seria preciso contratar uma pessoa para ajudar na catalogação e atendimento ao público, mas não é viável no memento”, frisa.
O início
Tudo começou quando Terezinha ganhou do padrinho sua primeira boneca, que ela batizou de Marília, quando tinha seus 14 anos. A concretização do sonho de menina chegou um pouco tarde. Devido às condições financeiras da família, composta ainda por outras duas irmãs, os brinquedos eram raros.
“Eu era a filha do meio. Minha irmã mais velha ganhava bonecas porque era a mais velha e a mais nova por ser a mais nova e eu ficava só na expectativa. Assim, a minha vontade te der uma coleção só aumentava. Eu pensava: quando eu crescer, vou trabalhar e comprar todas as bonecas que eu puder”, conta.
E Terezinha cumpriu a promessa. Assim que pode, começou a montar sua impressionante coleção. Durante mais de 4 décadas, ela comprou, ganhou, recebeu doações e presentes, viajou para diversos locais em busca de raridades, pesquisou na internet. Ela já perdeu as contas de quanto investiu e também não faz ideia do valor do patrimônio construído.
São dezenas de vitrines e expositores, divididos em 12 ambientes diferentes – desde a entrada até o escritório das administradoras – que separam os itens por décadas de produção e lançamento.
“Entre bonecas e brinquedos expostos temos 7 mil. Além disso, contamos com uma reserva técnica de outras 7 mil peças, que estão armazenadas em outra casa exclusiva para este fim. Falta espaço para colocá-las em exposição aqui no museu”, relata Flávia.
A mãe acrescenta ainda que as prateleiras precisam de iluminação adequada – tanto para a apreciação do visitante, quanto para a preservação do acervo, já que a luz e a umidade prejudicam os materiais, como tecido, pintura, entre outros. “Isso também requer investimento e no momento não temos como arcar com mais esse custo”, lamenta Terezinha.
As relíquias
Extremamente ligada à nossa história social, cultural e econômica, as bonecas enfatizam os valores e as competências que foram consideradas necessárias para a futura esposa, mãe e atualmente, empresária, atleta, mulher realizada, bem vestida, poderosa, etc., alimentando fantasias de crianças em milhares de lares no mundo.
Provavelmente as primeiras representações da forma humana em miniatura podem ter sido feitas pelo Homo sapiens, de barro, na África e na Ásia, com propósitos ritualísticos. Consideradas o primeiro brinquedo feito de argila. Ou seja, há 40 mil anos.
Milhares de séculos depois, a humanidade continua nutrindo o fascínio pelo brinquedo, que muitas vezes nem eram utilizados nas brincadeiras. Serviam para serem expostos em uma demonstração de poder e riqueza, a exemplo das bonecas do Século XIX, como as Jumeau, as quais só as famílias de alto poder aquisitivo conseguiam ter um exemplar em casa.
Terezinha possui uma destas preciosidades no museu, que data de 1878, e relata que as Jumeaus têm cerca de 140 anos e eram deixadas nas penteadeiras das moças ricas.
Outros exemplares únicos e de grande valor sentimental para a colecionadora são as celebridades. “Gosto muito da Miss Universo da década de 60, Ieda Maria Vargas; da Shirley Temple (atriz mirim de Hollywood com a maior arrecadação em bilheteria, suas bonecas faturam milhões de dólares); e a primeira boneca da Emília do Sítio do Pica Pau Amarelo, exibido pela TV Tupi, na década de 50”.
Também ganha atenção especial Madame Alexander (de 1955) – exemplar das bonecas icônicas que refletiam história, cultura, literatura e arte, criadas por Beatrice Alexander Behrman, a partir de 1923.
Coleções
As campeãs mundiais de venda, Barbie e Susy ganharam setores exclusivos – são centenas delas. “Na última vez que contei, eram 1.007 unidades, mas o número não para de crescer. Mamãe vem e acrescenta uma aqui, outra ali”, diverte-se Flávia.
Boneca que já exerceu mais de 80 profissões diferentes, entre elas roqueira, atleta, astronauta e até candidata à presidência dos Estados Unidos, a Barbie vende sonhos e estilos de vidas, por isso, ela já usou roupas assinadas por celebridades da moda.
No museu em Cuiabá está um exemplar do primeiro casal Barbie e Ken (1959) e muitas outras, como as do estilista Christian Dior e a Scarlet O´Hara. A coleção da Susy também impressiona pela quantia e variedades.
Pela riqueza de todo o acervo, a idealizadora do projeto frisa que o museu poderia se tornar um local de pesquisa, para estudantes de moda, por exemplo. “Os itens podem ser objetos de estudo, já que podemos verificar a evolução do comportamento da nossa sociedade, costumes, vestimentas, a moda”
Além das bonecas e brinquedos, o museu conta com centenas de catálogos que podem ser consultados pelo público. “Estamos finalizando a organização deste espaço que, nos próximos dias, estará à disposição do visitante”.
Bazar
Para levantar fundos para a manutenção do museu, será realizado na segunda quinzena de agosto um bazar beneficente no local. Para isso, as administradoras estão reunindo roupas, acessórios, sapatos, entre outros. Interessados em fazer doações para o bazar ou apoiar o museu podem estrar em contato pelos telefones (65) 9 9981-4170 e 9 9214-9004.
Visitação
O museu funciona aos sábados das 14h às 17h e em horários marcados. Para a manutenção do espaço é cobrada a taxa de R$ 20 adulto e R$ 10 criança.
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Milho Disponível
R$ 66,90
0,75%
Algodão
R$ 164,95
1,41%
Boi à vista
R$ 285,25
0,14%
Soja Disponível
R$ 153,20
1,06%
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