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26.03.2018 | 00h00

Mexicanização do Brasil

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Na esteira do crescimento avassalador da violência e da criminalidade, o Brasil vai se parecendo cada vez mais com o México. São várias as similaridades que hoje são identificadas no modo como o fenômeno criminoso se manifesta nos dois países. Decapitações, massacres em presídios, atuação de milícias, chacinas em bares e feminicídios. Essa sombria expressão do crime já é conhecida dos mexicanos há, pelo menos, uma década. O Brasil agora começa a experimentar de forma mais disseminada essa selvageria que parece estar muito associada ao crime organizado.

No México o crime organizado recebe o nome de "cartéis", no Brasil a denominação utilizada é "facções criminosas". Em ambos países o crime organizado se alastrou, elevando a um novo patamar a desordem e a violência. Nesse contexto o crime passa a ser realizado e reivindicado por novos atores, os faccionados, pequenas células autônomas que se declaram pertencentes a uma ou outra "facção". Segundo a sua lógica perversa, pertencer à determinada facção representa uma condição especial que concede ao criminoso ou a sua quadrilha o direito de explorar a prática de delitos como extorsão, roubo e tráfico de drogas em determinado bairro ou região da cidade.

Como no México, em que o crime organizado foi aos poucos migrando da capital Cidade do México - que foi palco de várias operações militares para liquidar redes de tráfico - para o interior, o mesmo se observa no Brasil onde a cidade do Rio de Janeiro, antes epicentro do crime organizado, hoje é mais uma filial do crime ao lado de outros poderosos centros de consumo e distribuição de drogas, como Manaus, Fortaleza e São Paulo.

Para Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, o crime organizado no Brasil está em processo de nacionalização desde o início dos anos 2000, e hoje já se encontra em etapa de internacionalização, tal qual aconteceu no México anos atrás. O pesquisador explica que para se expandir, as facções tiveram que se aliar a outros grupos existentes, mas quando há resistência ou disputa de poder com esses grupos locais, ocorrem então as grandes irrupções de violência que custam a vida de dezenas de milhares de brasileiros. Os crimes estão ligados, em diferentes estágios, à disputa pelo controle territorial entre facções criminosas que nacionalizaram suas ações a partir do Sudeste, principalmente em direção aos estados do Norte e do Nordeste.

Infelizmente, os barbarismos cometidos pelo crime organizado estão em evidente crescimento e já atingem regiões até então pouco vulneráveis a sua ação, como é o caso da cidade de Cuiabá. Assim como ocorreu no México, no Brasil o crime organizado está se espalhando perigosamente. É importante entender como aconteceu esse alastramento por lá, para evitar que esse fenômeno se repita por aqui. No México já se sabe que vários fatores agravam muito a incidência do crime. Naquele país, a sociedade sofre com uma epidemia de sequestros, enquanto por aqui esta modalidade criminosa é menos frequente. Embora a corrupção seja intensa no Brasil, no México ela atinge camadas ainda mais amplas e profundas da polícia e da política. O México ainda luta contra o tráfico de pessoas escravizadas na tentativa de migrar para os EUA e também combate o recrutamento forçado de jovens para trabalhar nas fileiras dos cartéis de drogas. Isto é, a situação da segurança pública no Brasil é dramática mas pode se deteriorar ainda mais.

A experiência mexicana na luta contra o crime organizado reserva inegáveis lições para o Brasil, especialmente em relação a algumas iniciativas como a centralização do combate ao narcotráfico no governo federal e emprego das forças armadas. O debate é amplo e complexo, mas um ponto de partida razoável pode ser a constatação que não se deve subestimar o poder inusitado das facções na economia, na política e na cultura brasileira. É um erro crer que se trata apenas de problema de segurança. É muito mais intrincado, envolve políticas públicas de saúde e raízes culturais.

Daniel Almeida de Macedo é doutor em História Social pela USP e escreve neste espaço às segundas-feiras

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