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27.10.2025 | 10h22

Multitarefa; a corrida que ninguém vence

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Lucas Freire

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Vivemos em um tempo em que ser produtivo se tornou sinônimo de valor pessoal. A rotina acelerada, os prazos curtos e a exigência por resultados fazem com que muitos se orgulhem de conseguir "dar conta de tudo". Mas, por trás dessa imagem de eficiência, há um esgotamento crescente que poucos reconhecem, e menos ainda ousam nomear.

O hábito de realizar várias tarefas ao mesmo tempo parece um sinal de competência. Na verdade, é o contrário. Pesquisas em neurociência mostram que o cérebro não faz multitarefa de verdade: ele apenas alterna rapidamente entre tarefas, perdendo até 40% da eficiência no processo. É como tentar ouvir várias músicas ao mesmo tempo: o som vira ruído, e nada se aproveita por completo.

Essa busca constante por produtividade nasce de uma cultura que nos ensinou desde cedo que nosso valor está no que entregamos, não no que vivemos. É como se fôssemos máquinas em manutenção permanente, sempre precisando provar que ainda funcionamos. O descanso, o tédio e até o silêncio passam a ser vistos como desperdício de tempo.

Assim, mesmo quando o corpo para, a mente continua em movimento, pulando de um pensamento a outro, incapaz de desligar. A tecnologia, que deveria facilitar a vida, acaba ampliando essa dinâmica, e estamos sempre disponíveis, conectados e distraídos.

O resultado é uma sensação de cansaço permanente. Dormir não basta, relaxar parece impossível, e a ideia de tempo livre perde completamente o sentido. Você acorda cansado, passa o dia cansado e dorme cansado, sonhando com as tarefas do dia seguinte.

Com o tempo, essa rotina cobra um preço alto, e geralmente em lugares que você não esperava. A pressa rouba a presença. Você está com seu filho, mas pensando na reunião de amanhã. Está no jantar, mas checando e-mails. Está na cama, mas o cérebro já montou a agenda da semana que vem. A necessidade de estar sempre ocupado impede que se perceba o essencial: que vida é essa, afinal, em que você não está realmente presente em lugar nenhum?

Aqui entra algo que muda completamente o jogo, mas que quase ninguém te conta: o play (em português, seria algo como "brincar", mas a palavra não traduz a complexidade do fenômeno). Play não é "atividade de integração" da empresa. Não é aquele videogame no escritório que ninguém usa por medo de parecer improdutivo. Play é um estado biopsicossocial que envolve corpo, mente e relações, tirando você do modo sobrevivência e colocando no modo viver de verdade.

Pense comigo: quando foi a última vez que você fez algo completamente "inútil"? Algo que não ia render um post, melhorar seu currículo, queimar calorias mensuráveis ou aumentar sua produtividade? Algo gloriosa e magnificamente inútil? É exatamente aí que mora o antídoto para a exaustão coletiva.

A ironia cruel é que vivemos cercados de "entretenimento": Netflix infinito, TikTok sem fim, jogos, séries, memes. Mas isso não é play genuíno. É distração algorítmica, consumo passivo que mantém você ocupado sem renovar suas energias.

Desacelerar, hoje, é quase um ato de coragem, de rebeldia até. Concentrar-se em uma única coisa. Desligar o celular por algumas horas. Permitir-se o tédio. Simplesmente não fazer nada pode parecer simples, mas exige resistência contra uma cultura que glorifica o excesso e mede seu valor pelo quanto você aguenta.

A verdadeira eficiência não está em fazer mais, mas em escolher o que realmente merece atenção. Reconhecer que seu cérebro não foi projetado para essa corrida maluca de estímulos constantes. Ele foi desenhado para alternar entre foco intenso e recuperação real, entre trabalho e play, entre fazer e ser.

Talvez a solução não esteja em produzir sem parar, mas em reencontrar o ritmo natural das coisas, aquele em que o tempo não é inimigo, e sim um espaço para existir com mais clareza, leveza e presença. Lembre-se sempre: quanto mais você tentar dar conta de tudo, mais esquecerá de dar conta de si mesmo.

Lucas Freire é psicólogo e autor de "Exaustos: Imaginando saídas para o cansaço diário"

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