Equador inicia votação de plebiscito que pode tirar Corrêa da política

Em meio a uma campanha com direito a cenas de violência, o Equador começou a ir às urnas na quinta-feira (1º) para a votação de um plebiscito convocado no ano passado pelo presidente Lenín Moreno.

O referendo traz sete perguntas que deverão ser respondidas pelos equatorianos e uma delas pode afetar diretamente a próxima eleição presidencial, em 2021, e o futuro político do ex-presidente Rafael Corrêa.

A terceira pergunta do plebiscito pede que a população decida sobre a validade da lei que permite a reeleição de maneira indefinida, aprovada em 2015. Se essa lei for cancelada, Corrêa estará fora da disputa daqui a três anos.

Rafael Corrêa durante discurso em Quito, capital do Equador

Curiosamente, Lenín Moreno foi eleito no ano passado com apoio de Corrêa, e apesar de ambos ainda pertencerem à mesma coalizão, hoje já se tratam como adversários.

Na quarta-feira, partidários de Moreno cercaram o prédio de uma rádio na cidade de Qunindé, no norte do Equador, onde o ex-presidente dava uma entrevista ao vivo. O carro de Corrêa foi pintado e coberto de lixo pelos manifestantes.

"O governo Lenín Moreno é igualmente responsável, já que empreendeu contra mim uma campanha de difamação e calúnia, em cumplicidade com os meios de comunicação", disse o ex-presidente equatoriano.

No vídeo abaixo, publicado pela deputada Paola Cabezas em seu perfil no Twitter, é possível ver como foi a confusão em Qunindé. Manifestantes jogam ovos e até uma bomba de gás no carro ocupado por Corrêa.

"Que não reste dúvida que estes não são anjinhos revoltados protestando. Assim agrediram Rafael Corrêa com pedras, paus, jogaram até um paralelepípedo no carro. Quem responde por essa tentativa clara de agressão física?", questionou a parlamentar.

Por sua vez, o presidente Lenín Moreno defendeu o fim da reeleição irrestrita em entrevista esta semana, segundo o jornal equatoriano El Comércio.

"O 'Sim' é para a alternância, para que ninguém se considere um rei. Não estamos elegendo reis, ninguém pode se perpetuar no poder. O poder, infelizmente, é uma droga que entorpece as pessoas e faz com que elas queiram ter cada vez mais, cada vez mais autoritárias, mais beligerantes, mais corruptas", afirmou.

Votação

No primeiro dia de votação, participaram cerca de 9 mil homens e mulheres que cumprem pena em 40 centros de detenção provisória. Nesta sexta, 756 pessoas inscritas em um programa de votação domiciliar poderão participar da consulta pública. No domingo, o restante dos cerca de 13 milhões de eleitores deve votar, com a presença de observadores internacionais.

Além da pergunta sobre a lei da reeleição, os equatorianos devem responder sobre a perda de direitos eleitorais para pessoas acusadas de corrupção, reestruturação do Conselho de Participação Cidadã, eliminar a 'lei da mais-valia' de 2016, restringir a área de exploração de petróleo em Yasuní, impedir a mineração de metais pesados e eliminar a prescrição de crimes sexuais contra crianças e adolescentes.