01.11.2015 | 00h00
Terminada a euforia da exploração do ouro, Cuiabá vai ter vida pacata por quase 200 anos. Sua população se mantinha estável. Como exemplo, já no século 20, em 1960, a cidade tinha, arredondando os números, 56 mil habitantes. A partir daí a explosão populacional foi impressionante.
Em 1970, Cuiabá já alcançava 100 mil habitantes. Militares no poder queriam conquistar a Amazônia pelo sul. Cuiabá passou a ser o tal Portal da Amazônia. Asfaltos foram ligando a cidade a Rondonópolis, Campo Grande, Goiânia, Brasília, Barra do Garças, Rondônia.
Durante o regime militar milhares de sulistas vieram para o Estado. Muitos não conseguiram se manter no campo e, não querendo retornar para seus lugares de origens, procuram a cidade para morar, como mostram alguns estudos.
Entre 1970 e 1980, Cuiabá dobrou sua população, alcançando 213 mil habitantes. Entre 1980 e 1990 dobrou mais uma vez, chegando a mais de 400 mil pessoas. Depois teve um crescimento populacional menor, hoje tem algo como 570 mil habitantes. De 1960 a 2015, em 55 anos, a pacata Vila do Senhor Bom Jesus de Cuiabá cresceu dez vezes ou 1000%.
A classe média que surgia foi se acomodando em bairros como Santa Rosa, Shangrilá, Boa Esperança, Jardim das Américas e outros. Outra parte da população foi para os CPAs. Lotes mais centrais eram caros, muita gente foi morar em lugares distantes do centro da cidade. Bairros surgiam do dia para a noite. A cidade espichou.
O poder público nunca conseguiu acompanhar aquele movimento populacional e seu desdobramento urbano. O que se tem, ainda hoje, é a falta de esgoto, asfalto, água tratada e transporte coletivo de qualidade para atender esses brasileiros. Administração após administração da cidade não conseguiu modificar quase nada do quadro urbano na periferia que começou na década de 1970.
Chama também a atenção, como consequência daquele momento, o impacto nos costumes locais. A televisão chegara em 1968. Modismos e linguagens do Rio e São Paulo entram nos lares cuiabanos através das novelas e outras formas de entretenimento, influenciando o comportamento das pessoas.
Junto com a TV, chega a telecomunicação, liga a cidade instantaneamente ao Brasil, associado a milhares de migrantes com linguagens e comportamentos diferentes. Apareciam os Centros de Tradições Gaúchas e o Vanerão. Tudo junto e misturado, num curto espaço de tempo, atropelavam os costumes e hábitos que vinham desde o século XVIII.
Costumes ou comportamentos da antiga elite e classe média da cidade quase que desapareceram. Mas o que vinha da cultura popular, do homem comum, ficou e é a marca maior da cidade. O cururu, siriri, rasqueado e a gastronomia aguentaram o tranco. A linguagem e a arquitetura sofreram arranhões.
Frente ao vendaval que ocorrera, a cidade e seus costumes mostraram força. Os Centros de Tradições Gaúchas e o Vanerão se espelharam pelo Estado. Aqui não. Levaram um ‘chega para lá’ das tradições da cidade.
Alfredo da Mota Menezes é articulista de A Gazeta . E-mail: pox@terra.com.br site: www.alfredomenezes.com
Publicidade
Publicidade
Milho Disponível
R$ 66,90
0,75%
Algodão
R$ 164,95
1,41%
Boi à vista
R$ 285,25
0,14%
Soja Disponível
R$ 153,20
1,06%
Publicidade
Publicidade
O Grupo Gazeta reúne veículos de comunicação em Mato Grosso. Foi fundado em 1990 com o lançamento de A Gazeta, jornal de maior circulação e influência no Estado. Integram o Grupo as emissoras Gazeta FM, FM Alta Floresta, FM Barra do Garças, FM Poxoréu, Cultura FM, Vila Real FM, TV Vila Real 10.1, TV Pantanal 22.1, o Instituto de Pesquisa Gazeta Dados e o Portal Gazeta Digital.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem a devida citação da fonte.