4 gerações ocuparam o local 10.11.2021 | 14h36

jessica@gazetadigital.com.br
João Vieira
As lágrimas caem e o desespero toma conta ao ver os móveis sendo carregados para o caminhão de mudança. A tristeza, nostalgia e indignação se misturam ao dar adeus a casa onde nasceu, cresceu e criou filhos. Sem comer e sem dormir desde terça-feira (9), é assim que Maria Auxiliadora dos Santos, 58, assiste a ordem de desapropriação ser executada na casa em que viveu 4 gerações da sua família.
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Ela ainda não acredita no que presencia. Cada telha, cada pedaço de azulejo, cada pedaço de terra e grama contam história de uma vida feliz e tranquila na margem do rio Cuiabá.
Maria é filha de Paulo Alcântara. Ainda jovem o pai trocou o trabalho em fazenda no Distrito da Guia para se mudar para Cuiabá, onde se estabeleceu no beira do rio, onde funcionava a granja Santa Rita. O estabelecimento era de propriedade de Fenelon Muller, irmão do ex-governador Filinto Mulher.
“Naquela época meu avô trabalhava para Fenelon e a casa era cedida para os funcionários. Tenho aqui o contrato que permite a moradia e também o contrato de trabalho. A gente viveu bem aqui até que depois que Fenelon morreu, o filho dele veio pedir a terra e exigir que a gente saísse”, conta Meiriely Cristina Nantes, filha de Maria Auxiliadora.
Há 9 anos o processo de desapropriação tramita na Justiça e na terça-feira (9) o oficial de justiça notificou a família para que deixasse o local imediatamente. Caso resistissem, seria chamada a polícia para expulsá-la.
Sete pessoas moram na casa e não têm para onde ir. No momento, todos vão para a varanda da casa de um parente.
“Morei a vida toda aqui. Nasci aqui, eu, meus filhos e meus netos, brincamos nesse quintal, nadamos no rio. Para mim, isso aqui é o paraíso. Eu não trocaria minha casa por nenhuma melhor. Esse piso foi eu que coloquei. Esses cacos de piso eu peguei no lixo e coloquei aqui”, conta a mulher ao olhar a varanda da casa que foi cenário de tantas lembranças das 4 gerações que moraram ali.
De acordo com a moradora, depois do início do processo houve tentativas de conciliação para pagamento de aluguel. Ela relata que chegou a pagar valores por algum tempo, mas não há recibo ou contrato. Tudo acordado verbalmente.
Simultaneamente ao processo de desapropriação dos herdeiros do falecido Fenelon Muller, a família protocolou pedido de propriedade por usucapião.
A lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, do Código Civil, diz no artigo 1.238 que o usucapião é direito “Aquele que, por 15 anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis”.
Segundo a família, não houve decisão da ação ainda. Desde então, eles tiveram alguns advogados e defensor público, sem sucesso na reversão do cenário.
“É muito doloroso carregar tudo. Assim sem tempo suficiente para pegar as plantas, cachorros. Se dessem pelo menos mais dias para gente ter tempo. Vou roubar o que daqui? Vou levar a terra? Carregar a casa? Eu tenho 58 anos e nunca fui na porta de uma delegacia, Tenho 5 filhos, tenho palavra, não sou bandida. É muita humilhação. Ninguém sabe a dor que eu estou passando”, argumenta a moradora.
Além da ameaça de força policial, os familiares do dono da área avisaram que a casa será derrubada para que eles não voltem.
A família vive com a renda de filhos, netos e sobrinhos que trabalham fora e ainda moram no local.
“Eu tenho que estar de pé para carregar minhas coisas que custaram dinheiro. Buscar um lugar para morar. Só quando eu estiver no meio das minhas coisas em outro lugar é que acho que a ficha vai cair. Por enquanto, estou amortecida, não dá para acreditar. Tenho que estar de pé para apanhar minhas coisas. Eles não sabem quanto custou um ventilador”, conta.
A mulher afirma que os netos foram mandados para casa de vizinhos para não presenciar a cena. “Eles brincam aqui no quintal, correm à vontade, e não precisam ver essa humilhação da gente ser tratado como bandido. Eu não tenho estudo, mas eu sei o que é lei. Eu vou sair, não precisa disso que estão fazendo”.
A família ainda espera conseguir reverter a decisão e voltar a morar na casa.
Outro lado
A defesa da família de Fenelon Muller foi procurada e informou que os moradores tiveram possibilidade de negociação e foi acordado pagamento de aluguéis, porém estes estão atrasados. A inadimplência acarretou o despejo.
Segundo ele, não há alternativa senão a desaparição.
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Angela - 10/11/2021
Algumas pessoas são tão miseráveis que não tem nada, além do dinheiro...
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