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leis dão amparam e ajudam no diagnóstico 23.11.2025 | 12h00

Mães contam dificuldades e superação de filhos com dislexia

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Silvano Costa - Especial para o GD

redacao@gazetadigital.com.br

Reprodução

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As mães fundadoras da Associação Mato-grossense de Dislexia.

Desde cedo, Marilda Santos, 51, percebeu que o filho, Marcus Vinicius, 20, possuía algumas dificuldades. Ele tinha uma irmã gêmea, que parecia se desenvolver com mais facilidade. Essas limitações ficaram ainda mais evidentes na escola, especialmente no processo de alfabetização. Dos 6 aos 9 anos, Marcus se sentia “diferente” dos colegas de sala, mas não sabia a causa. Foi depois de uma série de exames e contato com diversos profissionais da medicina e da pedagogia, que duraram cerca de um ano, que ele recebeu o diagnóstico de dislexia.

 

Não existe um exame específico para detectar a dislexia. O diagnóstico envolve um processo multidisciplinar e a exclusão de outros possíveis transtornos neurológicos.

 

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Com o laudo de dislexia, a vida escolar de Marcus Vinicius continuou permeado por obstáculos. "É uma luta diária. Uns professores compreendem, outros não. Uns acreditam que é 'mimimi' dos pais, outros fazem adaptações curriculares", contou Marilda.

 

Durante o processo de diagnóstico de Marcus, o pai do garoto, Carlos Diodato, 52, começou a rememorar alguns traumas da infância. Ele aprendeu a ler tardiamente, com 10 anos, e teve uma vida escolar difícil. As dificuldades do filho na escola pareciam uma transcrição exata do que ele tinha sofrido décadas antes. Aos 43 anos, Carlos descobriu a causa de tudo isso: ele também tem dislexia.

 

Um dos maiores desafios para o disléxico, especialmente no ambiente escolar (como o bullying e a intransigência de professores e da própria direção da escola), é lidar com o aspecto emocional. Quando se formou no ensino médio, em 2022, Marcus não pretendia fazer uma graduação. “Nunca mais quero pisar numa sala de aula”, ele dizia para a mãe.

 

Neste ano, porém, o jovem decidiu fazer o vestibular e foi aprovado em medicina numa faculdade do Amazonas. “E não é que eu consigo mesmo!”, ele comentou, olhando para Marilda. Em janeiro do próximo ano, Marcus irá pegar as malas, se despedir da família e embarcar para Itacoatiara, região metropolitana de Manaus. As aulas começam no dia 26, véspera dele completar 21 anos.

 

Em 2015, Gabrielle Coury, 52, já sabia que a filha tinha dislexia. Ela se reunia semanalmente com outras 7 mães para compartilhar histórias e estudar sobre o transtorno.

 

Entre um encontro e outro, surgiu a ideia de criar uma associação de dislexia em Mato Grosso. A formalização de uma organização civil daria mais corpo à causa e facilitaria a luta por direitos.

 

O trabalho da associação inclui simpósios anuais na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), cartilhas para professores, a defesa de políticas públicas, campanhas de conscientização e o encontro de famílias. As ações vêm ampliando a divulgação da dislexia tanto no estado quanto nacionalmente.

 

Para Gabrielle, o aumento no número de pesquisas sobre o tema e especialização de profissionais (como professores) é um avanço importante. Apesar de tudo isso, porém, ainda existe uma carência de políticas públicas. Segundo Gabrielle, a principal causa defendida pela associação, no momento, é que o Sistema Unificado de Saúde (SUS), forneça condições para o diagnóstico de dislexia.

 

Considerando que se trata de um diagnóstico demorado e que inclui uma série de exames e profissionais, muitos pais não têm condições financeiras de descobrir se o filho possui o transtorno.

 

Em uma década, foram aprovadas 7 leis estaduais e uma federal, todas com ampla influência da associação, o que colocou Mato Grosso como o estado do Brasil com mais leis voltadas para a dislexia.

 

Uma dessas leis (10.644/2017) institui o atendimento especializado, nos concursos públicos e vestibulares realizados no estado, para as pessoas com dislexia. Patrícia Ribeiro, 35, foi uma das beneficiadas pela lei. Há 6 anos, pela primeira vez ela conseguiu concluir uma prova.

 

A lei incluiu, além de um profissional para ajudar na leitura das questões e na fase de gabarito, uma sala separada e duas horas a mais no tempo de prova para disléxicos. Antes disso, Patrícia havia feito 5 vestibulares, sem sucesso. O pós-vestibular, por todas as dificuldades envolvidas na prova, a colocavam em um estado de tristeza profunda.

 

No sexto vestibular, a mãe, Ailma Ribeiro, 60, deu um ultimato: “É a última prova que você vai fazer”. Ela sofria com o estado depressivo da filha que sucedia toda reprovação. "Ela nunca conseguia terminar a prova. Nos concursos, nos vestibulares, quando terminava de fazer a prova, ela não conseguia passar para o gabarito”, contou a mãe.

 

Desta vez, com a ajuda que recebeu, Patrícia não só terminou a prova como conseguiu a aprovação em medicina, seu sonho de criança. Hoje ela está no internato, em fase de concluir a graduação.

 

Patrícia faz terapia desde os 8 anos, em decorrência das dificuldades na escola. Mas o diagnóstico de dislexia só veio aos 25 anos.

 

O projeto que ajudou Patricia é de autoria do deputado estadual Wilson Santos (PSD). Ele encabeçou a causa da dislexia no Legislativo, participando da aprovação de 8 leis.

 

Outras leis aprovadas em Mato Grosso incluem: atendimento especializado nas provas realizadas no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MT) para as pessoas com dislexia e a inclusão do Plano de Atenção Educacional Especializado (PAE) para os alunos diagnosticados com transtornos específicos de aprendizagem (dislexia, disgrafia e discalculia) nas instituições de ensino.

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