Maior campeão de MT, Mixto faz 89 anos de 'cara nova'

Criado em 20 de maio de 1934, o Mixto Esporte Clube completa hoje 89 anos de história. O maior vencedor do Campeonato Mato-grossense, com 24 títulos, possui uma grande trajetória marcada na vida dos mais antigos moradores da cidade, que viram sua fundação e ascensão.

Inspiração para criação do Mixto veio de dois times da época, um era o Clube Esportivo Feminino, fundado em 1928 por moças cuiabanas lideradas por Zulmira Canavarros, o outro era o Clube Esporte Pelote, liderado por Nali Hugueney que possuía uma equipe de vôlei.

Os fundadores do clube, Ranulpho Paes de Barros, Maria Malhado, Gastão de Matos, Naly Hugueney de Siqueira, Avelino Hugueney de Siqueira (Maninho) e Zulmira D'Andrade Canavarros tiveram a ideia de fazer um time que integrasse homens e mulheres para o entretenimento eclético, cultural e esportivo, já que a maioria dos clubes esportivos eram compostos apenas por homens, por isso Mixto, da palavra misto na nova ortografia.

Com sua história iniciada como time de vôlei, o Mixto teve como um dos fundadores da equipe de futebol Ranulpho Paes de Barros, que dá o nome ao centro de formação do clube.

Seu filho, Antero Paes de Barros, hoje é um dos gestores do clube, e conta como sua história com o começou.

“Quando eu nasci, meu pai já era dirigente do Mixto há muito tempo. Então, com uns 4 anos, ele me levava para ver os jogos do Mixto, aí eu ia com ele, vestido com o uniforme do Mixto, e ele me levava para tirar fotos com o mascote do time. Aprendi a amar e a admirar esse clube, porque era a paixão do meu pai”, conta.

Como estava sempre presente com o dia-a-dia do time, Antero foi se identificando com o clube, virou torcedor e também jogou na equipe de aspirantes, onde foi bicampeão, atuando também na equipe de futebol de salão.

Arquivo

 

Cuiabana, Edwiges da Cruz, 65, também teve seu pai como principal inspiração para torcer para Mixto. Ela conta que sempre participou de todos os jogos do time com a família no Verdão e no Dutrinha.

“Nós tínhamos bandeira. Meu pai tinha um radinho com o CD que tocava o hino do Mixto. Toda a família ia para o estádio assistir o time e eu cresci assim. Quando tive meus filhos também foi sempre junto no futebol, sempre no estádio. Nunca deixei de ir. Nós crescemos ouvindo o hino do Mixto e toda minha família é Mixtense”, conta.

Sempre acompanhando a equipe, Edwiges conta como a queda do Mixto "deu uma esfriada" na rivalidade do futebol mato-grossense.

“Foi muito difícil ver a fase ruim que o Mixto estava, porque a rivalidade era muito grande, entre Mixto e Operário. O meu sonho é que o Mixto estivesse entre os maiores, disputasse contra o Cuiabá, que aí seria uma das maiores rivalidades na cidade”, explica.

Com um clube que sempre se preocupou com a participação das mulheres no esporte, não é surpresa nenhuma que atualmente, o clube briga para garantir seu acesso para a série A2 do Campeonato Brasileiro.

“Acho que o caminho mais rápido para o Mixto chegar ao primeiro andar do futebol brasileiro, é através do futebol feminino. O Mixto foi o único clube de Mato Grosso fundado por mulheres, tendo com primeira presidente, a professora, musicista e produtora cultural Zulmira Canavarros, que inclusive é a autora do hino do Mixto. O sucesso do Mixto no futebol feminino, não é algo inusitado, porque foi fundado por um clube com homens e mulheres”, explica Antero.

Chico Ferreira

 

Com a nova gestão, o dirigente pontua que o clube vive por um momento de reestruturação, e ressalta que a compra do time pelo empresário João Dorileo Leal, voltou a trazer credibilidade para o Mixto.

Como Antero e Dorileo pegaram o time "do zero", nesta nova fase, buscam reformular o time por completo para "imprimir a nova cara" algo que está dando certo. Atualmente, o clube possui dois objetivos muito claros: conquistar o brasileiro feminino e levar o Mixo à série D do Campeonato Brasileiro.

“Eu tenho uma amizade muito grande com o Antero. Conversando, nós decidimos assumir o futebol do Mixto, que é o time mais tradicional, com maior torcida, de maior paixão, o maior campeão de todos os tempos em Mato Grosso. Então é um clube com maior apelo popular, e que não é comparado aos demais”, conta Dorileo Leal, gestor do Mixto.

Dorileo conta que sempre foi muito ligado ao esporte de Mato Grosso e que cresceu no ramo da comunicação devido aos contatos que tinha graças ao futebol.

"Sempre tive uma ligação muito forte com o futebol local. Foi ele que me fez dar os primeiros passos na comunicação de Mato Grosso. E quando eu comecei a dirigir um grupo de comunicação, eu tinha um compromisso com o futebol. Eu vejo no futebol de Mato Grosso uma grande fonte de renda e um negócio promissor, quando pensei em investir nessa área.", explica Dorileo Leal.

Antes da nova gerência, o Mixto passou por momentos difíceis na sua história, não só com dívidas, mas perdendo sua credibilidade, e seu respeito no futebol regional. Dorileo Leal conta como recebeu o Mixto e a situação do clube atualmente.

Chico Ferreira

 

“Nós assumimos quando o time não tinha uma meia para calçar. Hoje não, hoje o Mixto está estruturado fora de campo, o clube tem centro de treinamento, tem como se locomover, paga salário em dia, e isso tem reverberado no Brasil a fora. Hoje, atletas que nunca tinham ouvido falar do nome do Mixto, estão querendo jogar aqui.”, conta.

Após um ano da nova administração, já é possível perceber a ascensão do clube, principalmente a feminina.

Visto como referência no futebol feminino no estado, a equipe já conta com 3 títulos estaduais e é o único clube que representa o Mato Grosso no campeonato série A3.

“Eu vejo a movimentação dos outros clubes para formação do futebol feminino, provocado por essa ascensão do clube, e, porque hoje, Mixto domina essa categoria no estado”, relata o gestor.

Clube do povo, sem discriminação, com união e lealdade, foram algumas das características que os gestores deram ao clube. “Um clube que não discrimina ninguém, aberto a todos e a conquistar o coração de todos os mato-grossenses”, finaliza Antero.

“O Mixto é o time do povo, que, mesmo sem ter nenhuma competição, conseguiu colocar mais gente no Dutrinha, do que o Cuiabá na final do estadual”, finaliza Dorileo.

A história do clube é grande e ele ainda há de dar muito orgulho para todos os mato-grossenses.