celular apreendido 21.08.2025 | 14h42
Pedro Kirilos/Estadão Conteúdo
O pastor Silas Malafaia, em uma das mensagens trocadas com o ex-presidente Jair Bolsonaro e obtidas pela Polícia Federal, afirma que um embate entre o Brasil e os Estados Unidos seria como um “mico contra um gorila”. “Quem é o Brasil para peitar os EUA?”, completa.
O diálogo acontece no dia 10 de julho, um dia após o anúncio do presidente americano, Donald Trump, sobre as taxas de 50% a produtos brasileiros importados pelo país.
“Presidente! Você voltou para o jogo. Podem usar bravatas aqui, vão ter que sentar na mesa para negociar. Você é o cerne da questão”, afirmou Malafaia em seguida.
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Na mesma mensagem, o pastor também informa a Bolsonaro que vai publicar um vídeo no qual vai mostrar que a próxima retaliação vai ser contra os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e as famílias. “Vão dobrar a aposta apoiando o ditador? Duvido”, diz o pastor, em referência ao ministro Alexandre de Moraes.
“A forma previamente ajustada de ação, em sintonia com os objetivos dos demais investigados, demonstra aderência subjetiva do líder religioso ao intento criminoso”, diz o relatório da PF, que ressaltou que os investigados passaram a falar “abertamente” que as sanções aos membros da corte e pessoas ligadas a eles seriam os próximos passos.
No dia seguinte, Malafaia critica um suposto pedido do ex-presidente para uma visita do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) à embaixada americana. “Você cometeu o maior erro político da sua vida”, disse a Bolsonaro.
Segundo o pastor, Lula iria “deitar e rolar” caso Trump recuasse na questão das tarifas sem resolver a situação do ex-presidente que, na opinião do religioso, é o “motivo principal da taxação”.
“O endereço para acordo é o STF. [Eles] são os únicos que podem pressionar Lula e arrumar uma saída honrosa para eles, que estão com o r*** na reta. Eu não tenho medo ele [sic] pancada em redes sociais”, disse em mensagem.
‘Amadorismo político’, diz Malafaia
Durante as críticas que fez ao filho do ex-chefe do Executivo, Silas Malafaia também critica um possível vazamento para a imprensa de uma suposta “discussão violenta” entre Bolsonaro e o filho, possivelmente se referindo à conduta do deputado nos Estados Unidos, conforme as mensagens encontradas pela investigação.
“O amadorismo político de vocês me impressiona”, afirma Malafaia.
Em resposta, o ex-presidente afirma que qualquer pessoa que tentou negociar com o encarregado de negócios americano “perdeu tempo”.
Além disso, comentou a situação com os filhos. “Não tenho discussão violenta com filho nenhum meu. Então (incompreensível). Querem dividir o tempo todo”, disse Bolsonaro.
Críticas a Eduardo
Em um dos principais áudios, Malafaia xinga o parlamentar e diz ter enviado uma mensagem com críticas duras: “A próxima que tu fizer, eu gravo um vídeo e te arrebento”, teria dito a Eduardo.
No mesmo arquivo, o pastor elogia a postura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que, em entrevistas, defendeu a necessidade da anistia.
“Mas dá parabéns ao Flávio, tá? Foi certinho, é isso aí. Vou dar parabéns a ele também. A faca e o queijo estão contigo”, afirmou.
Entenda o caso
A PF decidiu indiciar Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro por tentativa de interferir na ação penal em que o ex-presidente é réu por tentativa de golpe de Estado.
No relatório final, os investigadores apontaram indícios de crimes de coação no curso do processo (art. 344 do Código Penal) e abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L).
O documento foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e à PGR (Procuradoria-Geral da República).
Segundo a PF, Eduardo buscou autoridades dos EUA para tentar impor sanções a ministros do STF, membros da PGR e da Polícia Federal, com o objetivo de interferir na ação penal e garantir impunidade ao pai.
Ele também teria usado redes sociais em inglês para atingir o público internacional e coordenado a divulgação de narrativas favoráveis aos investigados.
Ainda de acordo com o relatório, Eduardo recebeu R$ 2 milhões de Bolsonaro e realizou operações de câmbio e transferências para ocultar a origem do dinheiro.
Acusações contra Jair Bolsonaro
A PF afirma que o ex-presidente financiou e corroborou as ações do filho. Ele teria descumprido medidas cautelares, mantido comunicação coordenada com aliados para coagir autoridades e até planejado fuga do país.
As investigações também apontam movimentações financeiras atípicas para financiar atividades ilícitas.
“O conjunto de elementos probatórios arrecadados indica que o ex-presidente Jair Bolsonaro atuou deliberadamente, de forma livre e consciente, desde o início de 2025 e, com maior ênfase, nos meses de maio, junho e julho de 2025 — quando se intensificaram as ações de Eduardo Bolsonaro no exterior — para se desfazer dos recursos financeiros que tinha em sua posse imediata, bem como evitar possíveis medidas judiciais que limitassem ou impedissem a consumação do intento criminoso”, escreveu a PF.
Defesas
Nas redes sociais, Eduardo disse que lhe “causa espanto” ser apontado como participante de crime sem que a PF identifique os autores.
Em nota publicada no X (antigo Twitter), classificou a acusação como “delirante” e questionou por que autoridades americanas não foram incluídas:
“Se a tese da PF é de que haveria intenção de influenciar políticas de governo, o poder de decisão não estava em minhas mãos, mas em autoridades americanas, como o presidente Donald Trump, o senador Marco Rubio ou o Secretário do Tesouro Scott Bessent. Por que, então, a PF não os incluiu como autores? Omissão? Falta de coragem?”, escreveu.
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