12.10.2003 | 03h00
No século XIX, a tuberculose levou muitas pessoas, entre elas vários poetas e escritores do auge da "era romântica", a deixar este mundo ainda na casa dos vinte anos. Entre eles, Álvares de Azevedo. Mesmo apesar dos seus poucos 21 anos de vida, levados embora pela doença, ele deixou seu nome impresso para sempre nos livros de literatura. Por histórias como esta, a doença foi considerada o "mal-do-século". Muitas gerações de poetas depois, e com todo o avanço da medicina e da tecnologia, há quem diga que o mal do século 21 é a solidão. Ela não costuma levar a um final tão trágico, mas, em alguns casos, costuma causar bastante sofrimento.
Com as pílulas anticoncepcionais e a entrada da mulher no mercado de trabalho na década de 70, a atenção aos filhos em período integral ficou comprometida. O número de filhos também diminuiu. "São hoje, no Brasil, cerca de 7 milhões de filhos únicos", ressaltou a psicóloga Ireniza Canavarros de Arruda.
Mas será que é pela falta da companhia de irmãos que algumas pessoas estão se sentindo tão sozinhas? Há também o senso comum de que os filhos únicos são mais egoístas e não sabem negociar. Isso é verdade?
De acordo com a psicóloga, essas idéias sobre os filhos únicos começaram a mudar de uns 20 anos para cá. O fato é que, antes, era comum famílias com até mais de dez filhos. Quando os pais tinham só um, geralmente era por algum problema de saúde. Por isso, a carga de expectativa em cima dessa criança, além do cuidado e da proteção, era bem maior.
Hoje, pelas características do mundo contemporâneo, os pais estão planejando ter um ou poucos filhos por vontade própria. "Eles nunca deveriam decidir ter um segundo por causa do pedido de um filho. Essa decisão deveria ser tomada por um desejo dos pais", enfatizou Ireniza. "Se o filho único está se sentindo sozinho, é preciso descobrir o porquê. Até porque, mais cedo ou mais tarde (quanto mais cedo, melhor), ele vai descobrir que a gente se sente sozinho mesmo tendo irmãos", acrescentou.
É por isso que os pais, mesmo tendo vários filhos, precisam ensiná-los também a saberem viver sós. Para isso, é preciso trabalhar nada menos que a auto-estima de cada um deles. "Tenho pacientes que simplesmente não suportam ficar sós. Por isso, têm sempre uma pessoa a tiracolo. O problema é que, nem sempre é alguém com quem eles têm afinidade. Desse jeito, os "amigos" acabam se tornando uma muleta", lembrou a psicóloga.
O importante, diz ela, é a família ser esclarecida e, principalmente, afetiva. Assim, vai saber contornar os problemas, independente do número de filhos. "O principal é saber que cada filho precisa ser tratado como único, porque cada um tem suas peculiaridades", sugeriu. "Se for bem educado, com afeto, com limites, o filho único não vai ser uma pessoa egoísta, mas exigente e até mais seguro de si, porque não vai ter que ficar disputando a atenção e a aprovação dos pais", explicou.
Este é, aliás, o principal problema entre irmãos. É que o sonho de qualquer pai é que irmãos sejam "unha e carne". Mas não adianta interferir e exigir isso. Se resolverem dar uma de juízes, o máximo que vão conseguir dos filhos é que eles sejam "unha na carne", isto é, entrem em pé de guerra meeeesmo! Por isso, o melhor é deixá-los brigar "sossegados", negociarem e resolverem os impasses entre eles.
Estimular esse jogo de "quem está certo, quem está errado" dentro de casa, leva à comparação de "quem é melhor, quem é pior". Assim, o filho que for considerado o "errado", vai acabar achando que os pais gostam menos dele. "Esse jogo, vai gerar sempre aquele irmão-delator, que vive dizendo "olha mãe, o fulano fez isso ou aquilo de errado..."", ponderou Ireniza.
O fato é que, em sociedade, só há crescimento se tiver o compartilhar. "No entanto, o que se vê na sociedade hoje é, ao contrário, um comportamento muito destrutivo, que tem a ver com competição. As pessoas estão sempre se comparando para saber quem é melhor, quem tem mais, quem pode mais, etc. Essa competição envolve jogo, trama, passar o outro para trás. Esse comportamento pode começar na família ou não. Depende de cada educador", pontuou a psicóloga.
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