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13.10.2025 | 12h02

A alma que habita em mim!

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Kamila Garcia

Divulgação

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Descobrir a si mesmo — eis uma tarefa que soa tão grandiosa quanto assustadora. Nos tempos atuais, essa busca tornou-se quase um mantra, um imperativo social. Falamos tanto em autoconhecimento, autoestima e amor-próprio que, por vezes, esquecemos que essas palavras pesam sobre a alma — não como um fardo, mas como uma travessia. Um movimento contínuo de ressignificar a própria existência, de revisar a lente com que enxergamos o mundo — e, convenhamos, nem sempre essa lente é nítida; muitas vezes, é turva e dolorosa.

 

E, no meio desse turbilhão, aprendi uma coisa simples: é no silêncio e no acolhimento que reconhecemos a nossa verdadeira versão. Aquele “eu” que sussurra por trás dos medos, das dúvidas e das máscaras. O temor pela vida é um cárcere. Ele nos impede de dar a mão ao desconhecido — seja um novo sentimento, uma mudança de rumo ou a simples descoberta da força interior que repousa adormecida em nós. Mas há um segredo: quando a alma desperta, mesmo que tateando no escuro, encontra uma bússola interna. E o rumo, quase por milagre, começa a apontar para um único destino possível — a felicidade.

 

E é justamente nesse encontro silencioso consigo mesmo que começa o verdadeiro aprendizado. Amar-se é lição para a vida inteira — e que aula difícil! Exige amorosidade com cada parte de si: com as curvas e as dores do corpo, com a luz e as sombras da alma. É compreender, de uma vez por todas, que nem todos te verão com os olhos de amor que você merece. E, talvez, esse seja o maior motivo para se olhar com generosidade.

 

A autocompaixão é o que nos salva de aceitar migalhas de afeto ou de permanecer em lugares que já não nos cabem. Lembro-me de algo que Jung disse e que sempre me ecoa: “Ao tocar uma alma humana, seja apenas uma alma humana.”

 

Que dom divino seria esse — o de não julgar, apenas amar e acolher com igualdade? Talvez ele nasça do entendimento de que o outro, por trás de sua armadura, também está ferido, tentando se reencontrar, procurando um abrigo onde possa descansar o corpo cansado e enxugar as lágrimas que teimam em cair.

 

A psicanálise, com sua sabedoria, lida com dores humanas causadas por... outros humanos. Por pessoas que, em algum momento da estrada, se esqueceram de cuidar de suas próprias almas — e agora precisam desesperadamente voltar para casa, reencontrar-se, reaprender a viver. É um processo que nos convida a praticar o velho e sábio mandamento: “Amar ao próximo como a ti mesmo.”

 

E a ordem das palavras aqui é crucial: como a ti mesmo. Lacan, com sua complexidade, nos lembra que compreender a alma é uma jornada sem fim — uma leitura constante de nós mesmos. Essa compreensão só floresce quando temos coragem de olhar para dentro, de encarar sentimentos nem sempre belos, e de ressignificar cada gesto e escolha que nos trouxe até aqui. Tudo isso me leva a crer que a verdadeira chave está na consciência da tríade: corpo, mente e espírito.

 

Essa integração é o que nos torna plenamente humanos — capazes de nos conhecer, de viver em presença, como já dizia Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo.” É explorar desejos e vontades com lucidez, trazendo serenidade às nossas decisões, pensamentos e atos.

 

Descobrir “a alma que habita em mim” é, portanto, a tarefa mais árdua e mais bela. É um exercício de aceitação e conexão com o mundo. É caminhar pelos labirintos invisíveis da mente humana, levando uma lanterna ao que ficou esquecido no porão da memória. É curar o que se esconde por dentro — o que o outro não vê, mas ainda pulsa e sangra em silêncio.

 

De todas as feridas que carregamos, as da alma são as mais difíceis de curar. Porque o remédio não vem de fora. Ele nasce do querer transformador de quem sofre e, ainda assim, escolhe continuar. No fim das contas, conhecer a própria alma é compreender a própria essência.

 

É perdoar o que doeu e agradecer o que ensinou. É ser amável com a própria morada — esse corpo que abriga a vida e as escolhas. E, sobretudo, é a mais profunda de todas as descobertas: a de se reconhecer, enfim, em gestos genuínos de amor — dirigidos, primeiro, a si mesmo. E talvez seja aí que a alma, enfim, se reconheça — inteira, livre e em paz.

 

Kamila Garcia é bacharel em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, com pós-graduação em Psicanálise. Atualmente é estudante de Psicologia.

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