14.07.2025 | 13h38
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Colunista
Vou mudar de consultório. O dono da sala onde atendo hoje ainda não sabe. Tomara que não me leia por aqui. A dona da sala nova também ainda não sabe. Mas desconfia. Já liguei, já mandei mensagem e marquei de encontrar hoje na hora do almoço. Ele se chama Ignácio, ela Lílian. Parece, não é? Dois Is, um N, um A e um acento agudo para cada. Fica por aí a parecência. Lílian, conheço pouco.
Até agora sei que gosta de abreviações. Para ela segunda-feira é “2f”, 12h30 é “12,3” e a gente vai se falando é “VSF” (agora pensando, pode ter sido um xingamentozinho quando sugeri que trocasse o carpete por piso de madeira no nosso primeiro contato - sou alérgica). Sr. Ignácio ao contrário é a formalidade em pessoa. Para ele sou doutora D´Albuquerque, assina mensagem de WhatsApp com “desejos de semana próspera”, me visita uma vez ao ano para checar o estado do consultório de terno e gravata e nega o café que lhe ofereço com o argumento de que já gasto com ele o preço do aluguel, “faço questão de lhe economizar as cápsulas” (meu café é coado).
Em comum, ambos têm também a firmeza na negociação. Nenhum dos dois arreda pé de combinado. Preço de anúncio é preço de anúncio, reajuste é reajuste, pão é pão e queijo é queijo.
Isso até me conhecerem. Eu gosto de gente firme. Mas gosto mais ainda de negociar. Não tem nada no mundo que me anime mais do que uma negociação. E quanto mais tinhoso for quem está do outro lado da mesa, melhor. Em minha defesa, digo que sou ótima inquilina, cuido, não atraso e venho pra ficar, pra não dar trabalho mesmo. Estou na sala do Sr. Ignácio há 5 anos. O tempo que morei nesse apartamento que também vou deixar agora no segundo semestre. E só vou sair porque
gosto de trabalhar perto de casa, perto assim de chegar em 5 minutos.
Já disse, Lílian ainda não sabe, mas hoje, na hora do almoço, vou comemorar a assinatura do contrato. O aluguel será mais barato do que o da sala antiga (no anúncio está maior - bem maior) e ela vai reformar antes que eu pegue as chaves. Sim, o carpete sai. Juro pra vocês. Foi assim igualzinho com Sr. Ignácio, e olha que ele me pegou entre uma pandemia e um divórcio, autoestima de centavos. Sabe por que? Porque é o justo. Eu sei, ela sabe, Sr, Ignácio sabia. E depois, o que todo
mundo tá com vontade de fazer é apertar na mão e dizer “negócio fechado”. É ou não é? Enfim, torçam por mim. Ou pela Lílian, vocês que sabem (choose your fighter). Semana que vem, eu conto.
Beijos otimistas.
Roberta D'Albuquerque é psicanalista, atende em seu consultório em São Paulo e escreve semanalmente no Gazeta Digital e em outros 17 jornais e revistas do Brasil, EUA e Canadá. E-mail: contato@robertadalbuquerque.com.br
Coluna semanal atualizada às segundas-feiras
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