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20.10.2025 | 11h34

Existe polarização?

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Jorge Verlindo

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Precisou uma amiga, quase trinta anos à frente de mim, me revelar sua batalha atual, para que eu relembrasse o valor da conexão. O ser humano também é feito daquilo que esquece.


No meio da sua explanação, ela falava sobre quão raro é conectar-se com o outro, que requer envolvimento de no mínimo dois universos. Pensei na frase do yogi e escritor indiano Sadhguru: não há substituto para o envolvimento.


Enquanto concordava com minha amiga, pensava em como um sinal de conexão não é evidência dela: procriar não significa conectar-se à prole. Uma aliança no dedo não prova vínculo com o parceiro, ter companhia para a resenha do fim da semana não é ter amigos.


Voltando pra casa, ecoava em mim aquela troca. Lamentei por quem não encontra alguém para partilhar e pensei no quanto o sistema joga contra. Imagine, com o nosso tamanho, se realmente conectados: poderíamos derrubar uma PEC nefasta, aprovar isenções e o que mais? Contudo, há quem prospere com nosso isolamento, e lhe vista uma fantasia de polarização. Ora, quem, afinal, em seu íntimo, é contra ter mais saúde? Mais educação, mais tempo na semana para estar entre os seus, para amar, para regenerar-se?


“Polarização” é um artifício conceitual. Um pacificador de adultos, como é o álcool, a dopamina barata e a meritocracia. Tire qualquer um desses por um tempo e veremos o que acontece.


Dos efeitos sombrios do isolamento, o que mais me aflige é o definhamento do amor, que gera medo da vida, pulsões de morte e, persistindo o suficiente, nos rouba o espírito.


Um contraponto é o reconhecimento. Não a glória, o reconhecimento do outro, ver o outro, o vínculo. Uma escolha desafiadora, revolucionária. Quem opta por conectar-se, reconhece o valor do laço. Laço que reinventa relações, que pede e concede perdão, propõe a ponte. Mesmo quando tudo o que se tem é a conexão consigo, a primeira possível. Há que se começar de algum lugar.


Não me iludo com utopias, nas quais todos estariam conectados, zelando uns pelos outros. Vale os Sonhos de um Homem Ridículo, do Dostoievski, hoje, como valia quando foi escrito.


Mas celebro as conexões que se apresentam a mim e me esforço para não destruí-las. Pessoas no leito de morte não lamentam o patrimônio a mais que não fizeram, o sucesso que não alcançaram, nem o respeito dos pares, pelo qual tanto lutaram. Elas lamentam não ter tido tempo para familiares e amigos, não terem se autorizado a desacelerar, a gozar do tempo curto que lhes escapava enquanto corriam atrás de quimeras.


Chega uma mensagem da minha amiga, agradecendo o encontro. Dizendo que as nossas conversas têm esse eco, que depois geram o que pensar, mudam perspectivas, hidratam a alma. Sei do que ela está falando, desejo isso também a você, que me lê.


Jorge Verlindo é designer, escritor e autor do livro “Jogos Marcados no Corpo de Deus”

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