11.11.2025 | 11h58
Divulgação
Eu olho para o espelho, e a imagem que me devolve não é de uma heroína, nem de alguém que escalou montanhas ou fez grandes discursos. É só a minha — a mesma de sempre — um pouco mais marcada pelo tempo, talvez com um brilho recém-acendido nos olhos.
Não tenho feito nada demais — apenas o que sempre soube fazer de melhor: renascer de mim mesma.
Renascer das cinzas, sim. Daquelas cinzas que se acumulam depois de um incêndio — seja ele provocado por dores antigas, por ausências gritantes, ou por toda a sorte de coisas que, com uma insistência quase sádica, tentaram me apagar.
Tenho vivido dias de uma tarefa laboriosa — e, confesso, um tanto solitária —: a de me refazer, de me reconstruir com as próprias mãos. É um trabalho de ourives, em que cada pedacinho quebrado é lixado, polido e transformado em algo novo. As feridas, aquelas que antes me faziam mancar, estão virando... bem, estão virando asas.
E a analogia da Fênix — que de tão clichê se tornou quase um insulto — nunca fez tanto sentido. Eu volto a me erguer em chamas, mas não para fazer um show para a plateia.
Não tenho de provar nada ao mundo lá fora, que mal se importa com os meus escombros.
Eu me levanto para lembrar a mim mesma que sou feita de fogo e de luz.
Que, por mais que o tempo e as quedas tentem me consumir — e olha, como tentaram! — há dentro de mim uma força silenciosa, teimosa, que insiste em recomeçar. É o motor de partida que sempre funciona, mesmo quando a bateria parece zerar.
E o que me encanta — o que me faz parar e rir da minha própria sorte — é o quão curiosa é essa força. Porque, mesmo depois de tanto, ainda encontro espaço para o amor.
Mesmo depois das tempestades — aquelas que fizeram o chão tremer e o telhado voar — o coração insiste em bater. E bate bonito, sabe? Cheio de fé, cheio de ternura. Ele não se tornou uma pedra fria, como eu pensei que se tornaria.
Talvez seja isso, no final das contas, o milagre da vida — o verdadeiro ato de bravura: continuar amando, mesmo depois de tudo. Amar a si, amar o dia que chega, amar a xícara de café quente, amar as lembranças doces e, sim, amar a promessa de um novo afeto.
Não, eu não tenho feito nada demais. Estou apenas voltando a ser quem sempre fui — alguém que não desiste, que renasce, que acredita. Alguém que entende que o fogo que queima e incinera também pode aquecer e iluminar. E que, no fundo, todo recomeço é um ato de amor: por mim, pela vida e... por você também, que de alguma forma esteve (ou está) no meu horizonte.
Porque renascer é isso: olhar para as próprias cinzas e, em vez de ver o fim, enxergar nelas a promessa de um novo voo. E a certeza serena de que, desta vez, o meu vai ser ainda mais bonito.
Soraya Medeiros é jornalista
Publicidade
Publicidade
Milho Disponível
R$ 66,90
0,75%
Algodão
R$ 164,95
1,41%
Boi à vista
R$ 285,25
0,14%
Soja Disponível
R$ 153,20
1,06%
Publicidade
Publicidade
O Grupo Gazeta reúne veículos de comunicação em Mato Grosso. Foi fundado em 1990 com o lançamento de A Gazeta, jornal de maior circulação e influência no Estado. Integram o Grupo as emissoras Gazeta FM, FM Alta Floresta, FM Barra do Garças, FM Poxoréu, Cultura FM, Vila Real FM, TV Vila Real 10.1, TV Pantanal 22.1, o Instituto de Pesquisa Gazeta Dados e o Portal Gazeta Digital.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem a devida citação da fonte.