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13.06.2025 | 14h30

PM não é 'pedreiro fardado'

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Laudicério Machado

Divulgação

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Recentemente, em um lampejo de inspiração corporativista (ou seria elitismo institucional?), o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, senhor Gláucio Castañon, resolveu iluminar os leitores com sua opinião contrária à proposta de isonomia salarial entre policiais militares e civis. Até aí, tudo bem — cada um defende seu quinhão. O problema é que, na ânsia de subir no salto alto funcional, o autor tropeçou feio na escada do respeito e da coerência.

 

Com uma elegância digna de quem se acha o Steve Jobs da segurança pública, Castañon resolveu comparar os policiais militares — soldados, cabos e sargentos — a pedreiros, eletricistas e ajudantes de obra. Já os civis, claro, seriam os engenheiros e arquitetos da coisa toda. Uma analogia, no mínimo, criativa. Se criatividade contasse como qualificação jurídica, esse artigo já teria garantido ao autor uma vaga vitalícia no STF.

 

O problema não está só na ofensa disfarçada de metáfora — que, aliás, só não é mais velha que a própria desigualdade funcional entre as corporações — mas também na desinformação que ela carrega. A comparação é não só desrespeitosa como completamente alheia à realidade.

 

Afinal, são os tais “pedreiros fardados” que estão presentes em mais de 90% das ocorrências, que chegam primeiro e, quase sempre, são os únicos a chegar. Mas, quem se importa com isso quando se está tão ocupado desenhando plantas da vaidade institucional?

 

Constituição? Nunca nem vi!

A Constituição Federal, não é uma "bobagem" de 1988 e é preciso levar a sério. Ela diz no artigo 144 que a Polícia Civil e a Militar são ambos órgãos da segurança pública, com funções complementares e essenciais. Mas vai explicar isso para quem acredita que o distintivo civil vem com uma toga embutida.

 

Ambas as corporações exigem nível superior, enfrentam riscos diários, ingressam por concurso público, respondem por ações legais e técnicas, e são fundamentais à ordem pública. Mas, para alguns, tudo isso é irrelevante. O que importa mesmo é a narrativa onde o militar é só o operário suado que carrega tijolo, enquanto o civil é a cabeça pensante que toma cafezinho na obra e aprova o projeto.

 

E vamos falar de formação? Os soldados entram com diploma de nível superior e saem como tecnólogos em Segurança Pública. Os oficiais, são bacharéis em Direito e ainda ganham mais uma formação em Ciências Policiais. Não bastasse isso, exercem funções jurídicas, lavram flagrantes, relatam termos, conduzem sindicâncias, fazem inteligência e atuam em áreas de risco onde, coincidentemente, o "engenheiro" raramente põe os pés.

 

Mas nada disso parece importar. Porque, no fundo, o problema não é técnico — é estético. Tem gente que ainda acredita que o prestígio de uma função depende do quão longe ela está da poeira da rua.

 

A proposta de isonomia salarial não quer forçar ninguém a dividir o cafezinho — só quer corrigir um abismo salarial indecente entre profissões que, goste-se ou não, são irmãs siamesas na missão de manter a sociedade em pé.

 

Mas para isso, teríamos que aceitar que o policial militar — aquele que troca tiro em favela, que trabalha fim de semana, que vive sob regras militares, sem direito à greve, com plantões absurdos — talvez mereça o mesmo respeito (e salário) que o investigador que vai ao local do crime depois que tudo já foi para o espaço.

 

Privilégios e penduricalhos: só para quem pode

Enquanto a Polícia Civil esbanja mais de 400 cargos comissionados, gratificações especiais, adicionais noturnos, insalubridade, disponibilidade e o que mais o dicionário permitir, a Polícia Militar trabalha com dois cargos de gestão e zero adicionais. Mas é claro, como bons “operários”, devem aceitar tudo com a humildade esperada de quem “não fez o projeto da obra”.

 

Enquanto isso, militares fazem 50 horas extras por mês, com pagamento que ofende até o mais resignado dos sargentos. Mas tudo bem, alguém precisa sustentar o luxo institucional alheio.

 

O policial militar não quer um trono — só quer parar de ser tratado como escada. Defender sua própria carreira não deveria ser sinônimo de atacar a dos outros. Se há algo urgente na segurança pública, não é reforçar muros de vaidades, mas construir pontes de reconhecimentos.

 

Porque o verdadeiro engenheiro da paz não é o que projeta o edifício do ego. É o que, fardado, suado, de plantão e com a arma na cintura, segura as rachaduras de um país que insiste em desprezar quem o sustenta.


Não é desmérito ser comparado ao pedreiro, operário que é essencial ao crescimento de uma sociedade, e sim uma honra, pois com suor e dedicação torna se um elemento chave no desenvolvimento de um país, função vital. Não diferente de um policial militar que com seu trabalho árduo leva sensação de segurança a todos impulsionando o crescimento melhorando e contribuindo para o bem-estar da população.

 

Sargento PM Laudicério Machado é presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Corpo de Bombeiro de Mato Grosso e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Nacional de Praças

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Comentários

Neto - 14/06/2025

Polícia Civil e a Militar são ambos órgãos da segurança pública”. Faltou dizer mais coisa no artigo. Instituições diferentes, cargos diferentes e natureza diferente. Uma coisa é superior outra coisa graduação. Dizer que o ingresso é mediante curso “superior” qualquer EAD de 4 meses serve. PC é graduação. Recente lei orgânica coloca a PC a técnico científico. Oficial não lavra nada quem lavra é o Delegado de Polícia. Oficial faz é mediante um ato administrativo abrir o IPM. PC também não pode fazer greve. PC também está de uniforme na rua diligenciando, e em delegacia suado. IPC vai ao local de crime depois que tudo foi para o espaço? Olhe as estatísticas e os resultados. Não sei se sabe, mas a autonomia para investigar, é tão somente da PC. É prerrogativa do cargo, ao contrário, da pm que insiste em usurpar função alheia. Na C.F 88 não tem dizendo que a pm pode investigar. Recente mudança no governo com a chegada do Delegado assumindo função comissionada dentro do governo é a prova dos resultados. Querer equiparação dizendo que são iguais a POLICIAIS CIVIS é querer forçar a barra meu amigo. A distinção é gritante, desde o ingresso na instituição e demais desempenhos técnicos diários. Atendimento no local, faz o bopm e conduz para a Delegacia de Polícia. Qualquer outro ato além disso seria usurpar as funções da PC. Quão valoroso seria isso. PM para mim é muito marketing e publicidade para leigos.

Militar - 13/06/2025

A culpa e dos oficiais quais aceitam tudo e joga no colo das praças para resolver. Há policiais militares doutores, mestres, especialistas e no mínimo uma graduação acadêmica, mas não existe valorização por parte dos comandantes a seus subordinados além de mais carga de serviço, cobranças exaustivas, ranking de produção e quem não produzir e transferido caso que aconteceu no batalhão de trânsito. Há cabos e soldados bem preparados comparados a certos oficiais. Uma reestruturação e necessário. Mas comparar os policiais militares como " braçais" isto mostra o despreparo dos pjc, se a pjc paralise um mês não mudaria nada, mas a PM paralisar 72 horas o caos se instala a PM e o que segura e o escudo entro o bem e o caos.

Ana - 13/06/2025

Parabéns amigo pelo brilhante texto e pelos lindos tapas com luva de película e a educação irrefutável de um Doutor!

ALEX LUCAS DE ARRUDA - 13/06/2025

Parabéns ao Sargento Dr. Laudicério pela firmeza, lucidez e elegância com que rebateu as declarações infelizes do presidente do Sindicato dos Policiais Civis. Seu texto é mais do que uma resposta — é uma aula de dignidade, respeito institucional e conhecimento jurídico. A comparação feita por Castañon, além de ofensiva, revela uma visão ultrapassada e elitista que insiste em desvalorizar quem está na linha de frente da segurança pública. O sargento, com propriedade e sem apelar para ataques rasteiros, descontruiu essa narrativa preconceituosa, resgatando o valor real da Polícia Militar e evidenciando o abismo salarial que separa funções igualmente essenciais à sociedade. Reforço suas palavras: o policial militar não quer privilégios, quer justiça. Não busca trono, busca reconhecimento. E isso é o mínimo que se espera de um Estado que se diz comprometido com a segurança e a igualdade entre seus agentes. A metáfora do pedreiro, longe de ser desonrosa, é símbolo de força, trabalho e construção — virtudes que definem a atuação da PM nas ruas. Que esse texto ecoe não só nas corporações, mas em toda a sociedade que, muitas vezes, esquece quem realmente sustenta a ordem pública com suor, coragem e sacrifício. Meus sinceros parabéns, Sargento. Seu texto nos representa.

Antônio - 13/06/2025

Os PCs são policiais de balcão, bando de covardes... Por eles o Estado estaria um caos...

MARCIO DE ASSIS SOARES - 13/06/2025

PQP MEU PRESIDENTE! MUITO BOM ! EXPÔS AOS OLHOS PÚBLICOS TUDO QUE PRECISA SER VISTO! SÓ NÃO VERÁ QUEM QUISER CONTINUAR COM AS TRAVES NOA OLHOS E, A QUAEIRA NO PESCOÇO!

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