DEU EM A GAZETA 10.10.2025 | 06h46
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JOãO VIEIRA
“Acredito que estavam sendo enganadas. Alguém prometia uma vida fácil, talvez para explorá-las. Elas iriam na inocência”. A afirmação é de Dayane Aparecida Gomes da Silva, 31, mãe da menina de 11 anos que fugiu de casa com duas amigas, de 13 e 14 anos. O plano, de acordo com o relato das meninas, que fugiram durante a madrugada do bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, e foram localizadas no bairro Novo Milênio no início da manhã de terça-feira (7), era para ir até o bairro Pedra 90, onde um carro passaria para buscá-las e, então, iriam embora para Manaus (AM).
O pai da adolescente de 14 anos, Catarino Reis, afirma que a filha conheceu o suposto aliciador por meio do Instagram. Segundo ele, o homem usava um perfil falso com a foto de uma mulher para enganar as meninas. “Eu achei o perfil dele, mas é fake”, contou, ainda abalado com a situação. Ele relata que a filha chegou a passar o número de telefone do homem, que teria proposto a fuga para Manaus, mas apagou todas as conversas antes de ser localizada.
“Ela não contou o que combinou com ele, nem o que fariam lá. Só disse que iam embora. Depois disso, eu fiquei com o celular e não pretendo devolver. Vou entregar somente para a polícia”. Segundo o delegado Guilherme Fachinelli, titular da Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Informáticos (DRCI), a Polícia Civil busca identificar o que de fato aconteceu.
“As famílias ainda não procuraram as autoridades, tomei conhecimento da situação pela imprensa e estou buscando informações para dar início às investigações. Os responsáveis legais e as adolescentes envolvidas serão chamados e ouvidos”.
LOCALIZAÇÃO
A rápida mobilização das famílias em grupos de whatsapp e nas redes sociais ajudou a localizar o trio antes que o desaparecimento fosse formalmente registrado na polícia. As meninas foram reconhecidas por uma funcionária de um posto de saúde, no bairro Novo Milênio, onde elas pararam para tomar água. A funcionária é amiga da família de Dayane, que imediatamente avisou os pais. Segundo Dayane, foi por volta das 3h que ela percebeu que a filha não estava em casa. “Levantei durante a noite e vi a porta encostada e o portão aberto.
Logo depois, o pai da amiga dela, de 14 anos, me ligou dizendo que a filha também havia sumido. Fomos até a casa de outra amiga delas, de 13 anos, e descobrimos que ela também tinha fugido e deixado uma carta de despedida. Aí começou a correria. Mobilizamos as pessoas nos grupos de whatsapp, saímos a procura pelas ruas e várias pessoas começaram a compartilhar nas redes sociais”. As meninas foram encontradas por volta das 8h30, após pararem na unidade de saúde para beber água.
“A funcionária reconheceu minha filha, ligou para mim e as segurou lá até meu ex-marido chegar”, contou Dayane. De acordo com a mãe, essa foi a primeira vez que a filha fugiu de casa. Ela disse acreditar que a menina quis acompanhar as amigas, influenciada por uma delas que estaria em contato com uma pessoa pela internet.
“Essa pessoa prometia levá-las para Manaus, no Amazonas, dizendo que teriam uma vida melhor. As meninas disseram que, depois de sair do posto de saúde, iam para o bairro Pedra 90, onde um carro passaria para buscá-las.” Dayane contou que a filha não tem celular próprio, mas costuma usar o aparelho da mãe após ela chegar do trabalho. “Eu deixo ela mexer um pouco enquanto descanso, sempre dou uma olhada, mas nunca vi nada suspeito. Estou surpresa e assustada com tudo que aconteceu”.
Após a filha ser localizada, Dayane percebeu que todas as conversas do celular haviam sido apagadas, mas encontrou fotos de apartamentos com piscina na galeria. Por segurança, a menina agora está morando com o pai e sem acesso a celular. “Ele é mais rígido e mora em outro bairro, o que evita o contato com as amigas. Conversamos muito com ela, mas o medo de que fuja novamente é tão grande que ainda não a mandamos de volta para a escola”. A avó da menina, Joelma Gomes, também desabafou sobre o susto.
“Ela é uma criança tranquila, nunca imaginei que faria isso. A gente vê tanta coisa acontecendo com adolescentes na internet, mas não pensa que vai acontecer na nossa família. Que isso sirva de alerta para outros pais. Passei mal de tanta preocupação”.
A mãe contou que a filha chegou a relatar que as amigas a convenceram e que ela não queria deixar as amigas irem sozinhas. “Expliquei para ela que nada vem fácil, que o mundo não é assim. Agora quero saber quem estava por trás dessas mensagens”.
‘NÃO SEI MAIS O QUE FAZER’
Catarino Reis conta que a filha adolescente passou a morar com ele este ano, após apresentar problemas de comportamento na casa da mãe. “Ela some durante o dia e depois volta. Então, passou a viver comigo, mas ela nunca havia fugido antes. Eu trabalho o dia todo de entregador e não consigo monitorar minha filha com constância”. Catarino revela que não consegue entender o motivo que levou a filha a aceitar o convite.
“Ela é criada com amor, não falta nada em casa. Converso com ela, tento orientar, mas não sei mais o que fazer. Agora vou procurar ajuda psicológica. Foi um susto muito grande”.
CARTA DE DESPEDIDA
A reportagem teve acesso à carta escrita pela adolescente de 13 anos que também participou da fuga. O bilhete foi deixado em casa e encontrado pela família. Na mensagem, endereçada à mãe, a jovem tenta se justificar. “Não sou a melhor filha, mas eu te amo muito mesmo. Eu sei que estou errada em várias coisas, mas tem coisa que eu nem fiz e você me julga e não conversa comigo, mas fala para os outros e eu odeio isso. Então estou fora de casa para distrair a cabeça.” No início da carta, a adolescente escreveu que decidiu sair de casa para “deixar a mãe viver em paz”, por reconhecer que não é “uma pessoa fácil de lidar”.
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