Histórias assustadoras perpassam gerações da cuiabania

Era carnaval quando Teodora, enterrada no Cemitério da Piedade, em Cuiabá, levantou de sua sepultura e decidiu que iria se divertir em um bailinho no Clube Feminino, no centro da Capital. A lenda se passa na década de 40, mas perpassa gerações e os cuiabanos mais antigos ainda as guardam em suas memórias.  

Neste dia das bruxas, o historiador Aníbal Alencastro compartilhou com o algumas histórias da cuiabania, que registrou em seu livro "Cuyaba: história, crônicas e lendas". No caso de Teodora, a lenda foi adaptada também no curta "Teodora quer dançar", da cineasta Samantha Col Debella.   

A lenda diz que um rapaz do Rio de Janeiro veio a Cuiabá para passar o feriado e conhecer a cidade. No Clube Feminino, encontra uma moça muito bonita, que se apresenta como Teodora. Eles dançam a noite inteira. Ela se recusa a tirar uma máscara negra que usa no rosto.   

"Ele disse 'ah, então tudo bem' e continuaram a dançar, dançar, dançar. Naqueles tempos os carnavais daqui eram muito animados", contou Aníbal. Antes da meia noite, Teodora se apressa e avisa o carioca que não pode chegar em casa depois da virada da noite. Era uma noite de fevereiro chuvosa, o moço empresta para Teodora um casaco e eles tomam um táxi.   

"Eles entraram no táxi e seguiram sem rumo porque ela não dizia o endereço onde morava. Ela dizia 'sobe ali naquela rua, desce na outra', mas por fim chegou na rua do cemitério e ela pediu para parar", disse.   

Teodora então desceu e as portas do cemitério da Piedade se abriram automaticamente, sem esforços. O taxista, que olhava a cena assustado, acelerou o carro e partiu. O carioca, encabulado, passou a noite questionando o destino de sua amada. 

"Na manhã seguinte ele decidiu retornar ao cemitério para tentar entender o que aconteceu. Ele perguntou para um moço que trabalhava no local se ele conhecia alguma Teodora, mas sem sucesso, foi então que decidiram olhar na lista  de registros dos sepultados".

Ao olhar o livro, o carioca confirmou sua suspeita. Teodora havia falecido há pelo menos 5 anos. Ele caminhou o cemitério em busca de sua sepultura, onde encontrou sua capa de chuva, dobrada, em cima da lápide.  

O morto enterrado por engano  

Ainda no Cemitério da Piedade, o português João Emanuel estava prestes a ser enterrado quando abriu os olhos no caixão. Ele não havia morrido. O português, portador de uma doença de nome catalepsia, que faz com que o corpo não funcione por muito tempo, passou a vida inteira com medo de ser enterrado por engano.   

"Ele sempre teve esse receio de desmaiar e acabarem enterrando dele. Ele era muito ligado a igreja e resolveu fazer uma promessa para Nossa Senhora dos Passos, que na época tinha um oratório", explicou Aníbal.   

Quando acordou no fatídico dia de seu enterro, decidiu que construiria a Igreja Nossa Senhora dos Passos, na rua 7 de Setembro, com seus próprios recursos. "Ele ficou muito agradecido", finalizou.