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Consciência Negra em MT 20.11.2025 | 07h00

Pesquisadora traz o legado de Teresa de Benguela em filme; 'É farol para mulheres'

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Maria Klara Duque - Especial para o GD

maria.klara@gazetadigital.com.br

Divulgação

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Quem foi Teresa de Benguela? Para muitas pessoas em Mato Grosso essa resposta ainda não está clara, e é justamente nesse desconhecimento que se revela a dimensão do apagamento histórico sobre o protagonismo negro no estado.

 

Para a cineasta e pesquisadora Danielle Bertolini, que há 10 anos trabalha na produção de um filme sobre a líder quilombola, Teresa é "disparado, a mulher mais importante da história mato-grossense".

 

A diretora conta que sua relação com essa figura começou em um festival de cinema que realizava em Chapada dos Guimarães. A surpresa virou indignação. “Meu primeiro questionamento foi: como as pessoas não conhecem essa mulher?”. A partir dali, iniciou uma jornada que envolveu pesquisa histórica, trabalho de campo em Vila Bela da Santíssima Trindade e até sua dissertação de mestrado.

 

Teresa de Benguela: a líder revolucionária do Quilombo do Quariterê
No século XVIII, Teresa comandou o Quilombo do Quariterê, também conhecido como Quilombo do Piolho, considerado um dos mais longevos já existentes na América Portuguesa. Ela criou um parlamento, organizou a produção agrícola, estabeleceu moeda própria e comercializava minérios com espanhóis, um feito que colocou a comunidade na mira da Coroa portuguesa.

 

“Hoje ela já seria considerada revolucionária; naquela época também foi”, afirma Bertolini.

 

O impacto de Teresa inspira até hoje. Em 25 de julho, celebra-se o Dia de Teresa de Benguela e da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, reconhecimento que extrapola Mato Grosso. Em 1994, ela foi tema do enredo da Unidos do Viradouro, com pesquisa conduzida por Joãozinho Trinta diretamente no estado.

 

Além disso, Vila Bela, cidade marcada por forte herança africana, preserva o imaginário da líder quilombola. “As mulheres de Vila Bela acreditam que a força e a resiliência delas vêm da presença viva de Teresa. Para elas, Teresa virou mito, um farol”, diz a diretora.

 

O protagonismo negro em Mato Grosso
Embora Teresa seja a figura mais emblemática, Bertolini destaca que outras lideranças contribuíram para a formação do movimento negro em Mato Grosso:

 

A Casa das Pretas, liderada por Antonieta Costa, tornou-se referência atual na luta por direitos, identidade e cultura afro-mato-grossense.

 

O Aquilombamento Audiovisual Quariterê, coletivo formado por profissionais negros do cinema, fortalece a representatividade em uma área historicamente desigual.

 

Para Bertolini, essas referências mostram que a luta por identidade e reconhecimento sempre existiu, mas ainda precisa ganhar visibilidade: “A gente ainda não se vê completamente como esse povo miscigenado que é o Brasil. E não é negar o racismo, é reconhecer que fomos criados em uma estrutura racista e que precisamos transformá-la.”

 

O apagamento histórico e a falta de reconhecimento
Ao ser questionada sobre como os moradores de Mato Grosso enxergam essa presença negra, a diretora é direta: “Não, não existe essa noção.”

 

E ela traz números para provar: embora o estado tenha 70 escolas indígenas, existem apenas 5 escolas quilombolas na rede pública, atendendo pouco menos de dois mil alunos. “Isso mostra o quanto ainda falta para valorizarmos de fato essa herança.”

 

No campo cultural, ela reconhece progressos importantes. Os editais da Lei Paulo Gustavo passaram a adotar cotas de 50% para pessoas negras e indígenas, o que, segundo ela, começa a corrigir desigualdades históricas e a abrir portas.

 

Para a cineasta, porém, não se trata apenas de representatividade, mas de reconstruir as formas de narrar: “Não quero fazer filmes sobre, quero fazer filmes com. Por isso nossa equipe tem maioria negra e de mulheres. Nosso processo é afrofuturista e afrossubjetivo: questionar o passado, revisitar o presente e imaginar novos futuros.”

 

O filme “Somos Teresa” e a disputa pela memória
A produção, em fase final de montagem, traz o olhar das mulheres de Vila Bela sobre Teresa de Benguela, incluindo a versão que contesta os registros oficiais portugueses, segundo os quais a líder teria tirado a própria vida. “Elas não acreditam nisso. Dizem que Teresa fugiu, envelheceu e transmitiu seus conhecimentos. Essa história é viva para elas.”

 

Bertolini afirma que a primeira exibição pública do filme será em Vila Bela, como promessa às mulheres que participaram das filmagens. A previsão é que aconteça entre abril e maio do próximo ano.

 

A cineasta não hesita em dizer que o principal caminho para fortalecer a consciência negra em Mato Grosso começa na escola. “Se a gente não levar esse debate para as crianças, os preconceitos vão se perpetuar.”

 

A cultura, segundo ela, faz o papel que pode, mas ainda falta o básico: “Precisamos ensinar nossa própria história. Precisamos nos reconhecer naquilo que somos: um povo miscigenado, com uma herança negra muito forte e ainda pouco valorizada.”

 

E é por isso que, para ela, Teresa de Benguela segue mais necessária do que nunca: não como personagem distante do século XVIII, mas como símbolo diário de resistência, identidade e futuro para Mato Grosso.

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