triste realidade 09.11.2019 | 15h00
thalyta@gazetadigital.com.br
Chico Ferreira
Michele* acorda sempre cedo. Seja pelo calor, ou pelo choro do recém-nascido da colega de cela, é quase impossível dormir. As 6 gestantes, uma mulher e o bebê dividem um quarto pequeno e sem janelas, a ala materna da Penitenciária Ana Maria do Couto, em Cuiabá. Mesmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para que as grávidas cumpram prisão domiciliar, o futuro delas é incerto.
Além da cela pequena – e quente – essas mulheres passam por várias dificuldades durante a gestação atrás das grades. “Estou de 5 meses e só fiz um ultrassom. Ainda nem ouvi o coração do meu bebê”.
Situação que ocorre com todas as grávidas na penitenciária, a dificuldade de acesso aos exames médicos é frequente. Aos 4 meses de gestação, Suzana* não fez nenhum ultrassom. Só conseguiu os exames mais simples, como de sangue e urina. Preocupada com a saúde do bebê, que ela ainda nem sabe o sexo, ela reza para que a criança nasça com saúde.
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Ao serem presas, as mulheres em Mato Grosso respondem a um questionário. Uma das perguntas é sobre a gravidez. Se houver pelo menos suspeita ou chance de uma gestação, é realizado um exame de sangue para se confirmar a situação. Em caso positivo, elas acabam sendo transferidas para as unidades que possuem ala materna, em Cuiabá ou Nortelândia (253 km a médio-norte).
Nesses espaços, as grávidas ficam separadas do restante das presas, mas nem sempre isso significa muito mais conforto. “Mas lá em Nortelândia não é lugar para criança não. Não tem nada, nem um berço para ajudar. Em Cuiabá o lugar é bem melhor, mas também é difícil”, conta Maria*.
A principal reclamação das gestantes é sobre o calor. Com apenas um ventilador para amenizar a sensação térmica, as noites são difíceis. “É muito calor, quando fecha aquela tampa, vira uma sauna. Não é lugar para ninguém ficar, imagina uma criança, um bebê inocente”, argumenta Michele.
Segundo as presas, a decisão do STF é apenas um sonho distante, que só se concretiza após o parto. “Demora muito para chegarem os processos para o juiz. Quando chega o bebê já nasceu. Mas a gente sempre tem a esperança de ter o parto quando estiver em casa”, explica Maria.
Depois do nascimento, o trâmite costuma ser acelerado e elas acabam indo para a casa com o bebê, para cumprir prisão domiciliar. No entanto, os primeiros dias após o parto são passados dentro da ala materna, uma “cela” com menos grades.
Para passar pelo “resguardo”, período depois do parto que a mulher deve fazer o repouso, as presas contam a ajuda das outras grávidas, que fazem tarefas como lavar a roupa do bebê, auxiliar no banho e até reclamar quando a comida separada para as mães não chega no horário.
“Mulher que tem neném não pode comer a mesma comida. Tem que ser sopa, uma coisa mais leve. Mas tem dia que demoram para trazer e ela fica sem a manhã toda sem comer nada. Em outras dias fazem um miojo e pronto. Ela deveria comer bem para ter leite”, denuncia Michele sobre a situação enfrentada pela colega que passou pelo parto há poucos dias.
Com poucas visitas das famílias, especialmente as que moram no interior do estado, a força para enfrentar a situação vem das outras detentas. Quem tem parentes na Capital pede para que se traga comida, leite e até fraldas, no caso dos bebês. Pode ser um remédio, uma fruta ou mandar a mensagem para a família no interior: elas se unem para tornar um pouco menos sofrido o período atrás das grades.
Para o futuro ainda incerto, Maria só deseja que o pequeno Romeu tenha uma vida melhor. “Espero que ele tenha um futuro bem diferente do meu. Porque a gente volta para a prisão porque é obrigada, porque isso não é vida”.
Outro lado
A superintendente de Políticas Penitenciárias da Secretaria de Segurança Pública, Michelli Dias Monteiro informou que já foram feitas melhorias para as alas maternas em Cuiabá e Nortelândia, porém, algumas questões como a instalação de ar condicionado dependem de obras na rede elétrica, o que já está em andamento.
Monteiro explica que dentro da unidade existe uma estrutura com ginecologista, clínico geral e enfermagem, porém, a realização de exames é feita pela Secretaria de Saúde e segue a fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS).
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