conflito de agenda 12.08.2025 | 08h54
Diogo Zacarias/MF
A falta de progresso nas negociações entre Brasil e Estados Unidos sobre as tarifas de 50% preocupa autoridades e, sobretudo, exportadores brasileiros, que veem a incerteza se prolongar.
O contato do governo brasileiro com o dos EUA parece ainda mais distante depois que foi cancelada uma reunião que ocorreria nesta quarta-feira (13) entre o secretário do Tesouro Americano, Scott Bessent, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Os dois falariam sobre o tarifaço. Conforme Haddad, a meta era buscar entendimento e tentar reabrir o diálogo com Washington.
O motivo oficial do cancelamento, informado por email, teria sido conflito de agenda.
Na avaliação de especialistas, o adiamento é negativo para o Brasil. Para o CEO da Referência Capital, Pedro Ros, adiar o diálogo em meio à tensão comercial global eleva o custo político e diplomático, ao passar a impressão de falta de urgência na solução do impasse.
“O cancelamento posterga qualquer chance de distensionar o ambiente e amplia a incerteza no curto prazo. Cada dia sem avanço alimenta volatilidade nos mercados, enfraquece a posição negociadora do Brasil e mantém o risco de perdas bilionárias em exportações estratégicas”, afirma.
O CEO do Grupo IOX, Richard Ionescu, diz que o cenário reforça a importância de diversificar mercados e abrir novas frentes de negociação.
“Para o setor produtivo, a prioridade agora é acompanhar de perto os próximos passos e preparar-se para diferentes cenários, mantendo flexibilidade para reagir rapidamente a qualquer evolução nas tratativas”, recomenda.
De todo modo, ele avalia que ainda há possibilidade de o encontro ocorrer. “O adiamento da reunião com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos adia também uma oportunidade importante de diálogo, mas não significa o fim das negociações”, comenta.
O cientista político André César considera Bessent um dos integrantes mais flexíveis do governo norte-americano. “Ele já manteve interlocução com Geraldo Alckmin, indicando boa vontade maior que a de outros membros”, destaca.
Tarifaço em vigor
A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros entrou em vigor na quarta-feira da semana passada (6), conforme ordem executiva assinada pelo presidente Donald Trump.
A Casa Branca justificou a medida afirmando que o Brasil representa “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional e à economia americana — alegação contestada por autoridades brasileiras.
Segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, 35,9% das exportações brasileiras aos EUA serão afetadas. Produtos como suco de laranja, aeronaves civis, petróleo, veículos e peças, fertilizantes e insumos energéticos ficaram de fora.
Produtos atingidos pela nova tarifa
Café — Maior exportador global, o Brasil tem nos EUA um dos principais compradores. Em 2024, embarques somaram quase US$ 2 bilhões, equivalentes a 16,7% do total exportado.
Carne bovina — O mercado norte-americano absorveu 16,7% das exportações brasileiras do produto em 2024, o que representa 532 mil toneladas e US$ 1,6 bilhão em receitas. A Minerva projeta queda de até 5% na receita líquida.
Frutas — Mais de 1 milhão de toneladas foram exportadas em 2024, e parte expressiva terá aumento tributário.
Máquinas agrícolas e industriais — O decreto prevê isenções para peças da indústria de papel e celulose e itens da aviação civil. Máquinas e componentes fora desses segmentos serão integralmente taxados.
Móveis — Alguns modelos escaparam da taxação, como assentos e estruturas metálicas ou plásticas usadas em aeronaves. O restante será atingido pela nova alíquota.
Têxteis — A isenção é restrita a itens específicos, como fio de sisal para enfardamento e materiais aeronáuticos.
Calçados — Todos os modelos brasileiros passaram a ser taxados, agravando a situação de um setor já pressionado pela concorrência global.
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Milho Disponível
R$ 66,90
0,75%
Algodão
R$ 164,95
1,41%
Boi à vista
R$ 285,25
0,14%
Soja Disponível
R$ 153,20
1,06%
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