17.01.2004 | 03h00
Lênin já dizia, tudo está relacionado com tudo. A moderna teoria do caos alude a que um fargalhar de asas de borboleta em Pequim pode provocar um furacão na Califórnia. Tudo é interdependente. Às vezes, um acontecimento aparentemente insignificante é responsável pela irrupção do novo. O pequeno produz o grande. É a dialética de sempre, nos recorda Leonardo Boff. Trata-se do efeito borboleta.
O termo nasceu de pesquisas meteorológicas de Edward Norton Lorenz a partir da década de cinquenta no Boston Tech, hoje transformado no Massachusetts Institute of Technology, o lendário MIT, em Boston. Aos 38 anos, Lorenz ocupava a cátedra no departamento de meteorologia assim como a direção de uma pesquisa sobre a previsão estatística do tempo. Buscava-se a consolidação de uma nova ciência. O clima, imprevisível, atraía desde sempre a curiosidade e a busca de regularidades que permitissem a previsão. Lorenz dizia que "se a teoria estiver correta, o bater de asas de uma gaivota é suficiente para alterar o curso do tempo para sempre". Coincidentemente, a representação gráfica do "efeito gaivota" se assemelhava às asas de uma borboleta.
Nascia o "efeito borboleta", no contexto da teoria do caos. O próprio Lorenz publicou em 1972 um artigo intitulado "o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadeia um tornado no Texas?". Edward Lorenz e James Gleick são considerados os pais da moderna teoria do caos, reforçada com a publicação do livro de Gleick em 1987, "Caos, a criação de uma nova ciência". Caos no sentido de ações imprevisíveis, mas passíveis de estudo científico rigoroso.
Diferentemente do sentido vulgar da palavra, o caos não está necessariamente associado à idéia de desorganização ou balbúrdia. Seu sentido primeiro remete à noção de formação material do mundo, quando os elementos ainda sem forma definida se apresentavam, aparentemente, de modo confuso e desorganizado. Em linguagem simples, o caos implica na existência de ações imprevisíveis, não lineares. Caos, portanto, não implica em aleatoriedade. Dizia Henry Adams que "o caos frequentemente cria a vida, enquanto a ordem cria o hábito".
E na economia, como se apresenta o caos? Depois de desmistificar a dureza da economia enquanto ciência em A morte de economia, Paul Ormerod, que chefiou a unidade de avaliação econômica do The Economist, publicou O efeito borboleta. Dedicado à imprevisibilidade na economia, à semelhança do que acontece com o clima, Ormerod sustenta uma análise sofisticada mas lucidamente ajustada à compreensão dos não-iniciados. Seus argumentos permeiam a família, o crime, a biologia, a moda e muitos outros temas aparentemente distantes da economia. Mas suas conclusões não deixam dúvidas: a previsibilidade do comportamento humano é mínima. Por mais que Fred Skinner tenha insistido na tese em O comportamento dos organismos desde 1938.
Mas atenção: Imprevisibilidade do comportamento humano não implica em desresponsabilização e muito menos na atribuição mágica de causas externas e distantes a processos que dependem muito mais da iniciativa no plano local. Tornou-se lugar comum atribuir à globalização econômica o fracasso ou mesmo a inação no plano local, como se a diminuição de distâncias e barreiras atravessadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação fossem empecilho para que se arregacem as mangas e se articulem iniciativas locais.
Ao nos recordar a relação interdependente de tudo com tudo, Lênin e Boff chamam a atenção de que não basta a constatação imobilista. A omissão imobilista é reconhecimento do fracasso. O farfalhar de uma borboleta, como querem uns, ou de uma esquadrilha de borboletas asiáticas, como querem outros, não justifica a inação. A fracassomania deve ser combatida com a iniciativa proativa, criativa, em parceria com o poder público e com o suporte da sociedade. Para dar mais ida à vida.
Paulo Speller é reitor da UFMT
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