Publicidade

Cuiabá, Quinta-feira 18/09/2025

Opinião - A | + A

17.01.2004 | 03h00

A borboleta asiática

Facebook Print google plus

Lênin já dizia, tudo está relacionado com tudo. A moderna teoria do caos alude a que um fargalhar de asas de borboleta em Pequim pode provocar um furacão na Califórnia. Tudo é interdependente. Às vezes, um acontecimento aparentemente insignificante é responsável pela irrupção do novo. O pequeno produz o grande. É a dialética de sempre, nos recorda Leonardo Boff. Trata-se do efeito borboleta.

O termo nasceu de pesquisas meteorológicas de Edward Norton Lorenz a partir da década de cinquenta no Boston Tech, hoje transformado no Massachusetts Institute of Technology, o lendário MIT, em Boston. Aos 38 anos, Lorenz ocupava a cátedra no departamento de meteorologia assim como a direção de uma pesquisa sobre a previsão estatística do tempo. Buscava-se a consolidação de uma nova ciência. O clima, imprevisível, atraía desde sempre a curiosidade e a busca de regularidades que permitissem a previsão. Lorenz dizia que "se a teoria estiver correta, o bater de asas de uma gaivota é suficiente para alterar o curso do tempo para sempre". Coincidentemente, a representação gráfica do "efeito gaivota" se assemelhava às asas de uma borboleta.

Nascia o "efeito borboleta", no contexto da teoria do caos. O próprio Lorenz publicou em 1972 um artigo intitulado "o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadeia um tornado no Texas?". Edward Lorenz e James Gleick são considerados os pais da moderna teoria do caos, reforçada com a publicação do livro de Gleick em 1987, "Caos, a criação de uma nova ciência". Caos no sentido de ações imprevisíveis, mas passíveis de estudo científico rigoroso.

Diferentemente do sentido vulgar da palavra, o caos não está necessariamente associado à idéia de desorganização ou balbúrdia. Seu sentido primeiro remete à noção de formação material do mundo, quando os elementos ainda sem forma definida se apresentavam, aparentemente, de modo confuso e desorganizado. Em linguagem simples, o caos implica na existência de ações imprevisíveis, não lineares. Caos, portanto, não implica em aleatoriedade. Dizia Henry Adams que "o caos frequentemente cria a vida, enquanto a ordem cria o hábito".

E na economia, como se apresenta o caos? Depois de desmistificar a dureza da economia enquanto ciência em A morte de economia, Paul Ormerod, que chefiou a unidade de avaliação econômica do The Economist, publicou O efeito borboleta. Dedicado à imprevisibilidade na economia, à semelhança do que acontece com o clima, Ormerod sustenta uma análise sofisticada mas lucidamente ajustada à compreensão dos não-iniciados. Seus argumentos permeiam a família, o crime, a biologia, a moda e muitos outros temas aparentemente distantes da economia. Mas suas conclusões não deixam dúvidas: a previsibilidade do comportamento humano é mínima. Por mais que Fred Skinner tenha insistido na tese em O comportamento dos organismos desde 1938.

Mas atenção: Imprevisibilidade do comportamento humano não implica em desresponsabilização e muito menos na atribuição mágica de causas externas e distantes a processos que dependem muito mais da iniciativa no plano local. Tornou-se lugar comum atribuir à globalização econômica o fracasso ou mesmo a inação no plano local, como se a diminuição de distâncias e barreiras atravessadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação fossem empecilho para que se arregacem as mangas e se articulem iniciativas locais.

Ao nos recordar a relação interdependente de tudo com tudo, Lênin e Boff chamam a atenção de que não basta a constatação imobilista. A omissão imobilista é reconhecimento do fracasso. O farfalhar de uma borboleta, como querem uns, ou de uma esquadrilha de borboletas asiáticas, como querem outros, não justifica a inação. A fracassomania deve ser combatida com a iniciativa proativa, criativa, em parceria com o poder público e com o suporte da sociedade. Para dar mais ida à vida.

Paulo Speller é reitor da UFMT

Voltar Imprimir

Publicidade

Comentários

Enquete

O ano de 2000, além da virada do milênio, marcou a votação totalmente eletrônica no Brasil, contudo ainda há quem queira a volta da cédula impressa. Você prefere qual?

Parcial

Publicidade

Edição digital

Quinta-feira, 18/09/2025

imagem
imagem
imagem
imagem
imagem
imagem
btn-4

Indicadores

Milho Disponível R$ 66,90 0,75%

Algodão R$ 164,95 1,41%

Boi à vista R$ 285,25 0,14%

Soja Disponível R$ 153,20 1,06%

Publicidade

Classi fácil
btn-loja-virtual

Publicidade

Mais lidas

O Grupo Gazeta reúne veículos de comunicação em Mato Grosso. Foi fundado em 1990 com o lançamento de A Gazeta, jornal de maior circulação e influência no Estado. Integram o Grupo as emissoras Gazeta FM, FM Alta Floresta, FM Barra do Garças, FM Poxoréu, Cultura FM, Vila Real FM, TV Vila Real 10.1, TV Pantanal 22.1, o Instituto de Pesquisa Gazeta Dados e o Portal Gazeta Digital.

Copyright© 2022 - Gazeta Digital - Todos os direitos reservados Logo Trinix Internet

É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem a devida citação da fonte.