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18.11.2009 | 03h00

Deus já abandonou a África

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A frase acima foi dita por Bruce Willis no filme Lágrimas do Sol. Mas poderia ser dita também por Djimon Hounsou, em Amistad, por Don Cheadle em Hotel Ruanda, e principalmente por Rachel Weisz, em O Jardineiro Fiel, filmes que mostram a situação da África como alvo da expansão capitalista. Antes foi a escravidão, quando milhares de negros foram transportados como cargas para as colônias europeias, para trabalharem como animais nas minas, nas usinas e no extrativismo vegetal. Na viagem, os que não estavam remando ou enchendo as fornalhas de carvão, vinham amarrados em grilhões. Vez em quando, se aparecia um problema como motim, falta de víveres ou fiscalização, numa época em que passou a ser proibido o tráfico negreiro, muitos deles foram jogados ao mar, fortemente acorrentados com peças de ferro no pescoço, que era pra não pairar dúvidas sobre sua eliminação.

Depois os africanos viram seus territórios retalhados por força da Conferência de Berlim, uma das atitudes mais covardes já registradas pela história da humanidade. A decisão foi tomada em 1865, num gabinete na capital alemã, sem se respeitar a história, as etnias, as culturas, os costumes, as religiões e os tipos de produções agrícolas daqueles povos e sem se conhecer nada daquelas terras. É por isso que os limites territoriais africanos quase sempre se apresentam como linhas retas. Dos dezesseis países que participaram da reunião, cada um ficou com um pedaço do continente. Mas tem gente que ficou com mais, como a Grã-Bretanha e Portugal. Aliás, Portugal queria ir muito mais longe, pois através do projeto Mapa Cor-de-Rosa pretendia criar um corredor para ligar Angola e Moçambique, um situado no sudoeste e outro no sudeste africano, para formar uma única colônia. Incluindo novas áreas, é claro. E quantas nações africanas sabiam disso ou participaram desse evento? Provavelmente nenhuma. Era o colonialismo político, consequência do processo imperialista das potências europeias e dos Estados Unidos da América. A partir de então a África se transformou efetivamente num laboratório do capitalismo.

Na Velha Ordem Mundial, logo após a Segunda Grande Guerra, as potências europeias se enfraqueceram e surgem as duas superpotências. É a bipolarização, com os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas brincando de fazer guerras, armando as pobres nações africanas para matarem seus próprios irmãos. Acho até que Kennedy e Kruchev combinaram: não vamos apertar nossos botões. Deixa esse povo se matar acreditando que nós estamos mesmo de mal.

Mas surgiu uma luz no final do túnel. Com o enfraquecimento das economias europeias, a África reagiu e começa então um processo de descolonização. Muitas nações conseguiram sua independência, mas à custa de muito sangue, pois cada tribo queria ter o domínio do seu país. Os grandes continuaram alimentando, principalmente com armas, facções diferentes de um mesmo país, como aconteceu com Angola, com Ruanda, com a Libéria, com Uganda e com muitos outros.

Tempos depois, com a queda do Muro de Berlim, passa a valer a tal Nova Ordem Mundial . Agora é que a porca torce o rabo, pois acirram-se as diferenças entre grandes e pequenos. A tal aproximação entre estes nunca existiu. Nesse contexto, a situação da África é cada vez pior. É a Aids, de origem duvidosa, são experiências com remédios, que matam milhões de africanos, é a venda de armas antigas para financiar a produção de novas, é a exploração ilegal de pedras preciosas, enfim, são países e contrabandistas se enriquecendo com a venda de todo tipo de produto. Mais do que nunca o continente sofre com um colonialismo econômico selvagem, que traz no rótulo a "ajuda aos países", mas que tem como pano de fundo a continuidade da utilização de ideologias, colocadas em prática através de desumanas estratégias geopolíticas de dominação e expropriação. E o que faz a ONU? Ah, deixa isso pra lá, que hoje eu já falei de muita coisa ruim.

Neurozito Figueiredo Barbosa é músico, compositor, professor de Geopolítica na UFMT e mestre em Ecologia e Biodiversidade. É também membro do Instituto Histórico e Geográfico de Várzea Grande. E-mail: neurobarbos@hotmail.com

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