11.09.2009 | 03h00
Uma das religiões monoteístas mais antigas da humanidade é o judaísmo. Surgiu como um acervo de crenças religiosas, costumes, cultura e estilo de vida que formou a religião dos antigos hebreus, hoje chamados de judeus ou israelitas.
Dentre as ramificações judaicas, a exemplo dos seguidores intitulados caraítas, outros de samaritanos, supostamente descendentes de judeus da antiga Samaria, veremos o que essa religião apregoa sobre responsabilidade ambiental do ponto de vista dos rabínicos, considerado os mais tradicionais e que seguem o Tamulde. Essa obra, que significa aprendizado ou ensino, foi composta a partir de discussões e debates entre os antigos rabinos, registrados com o surgimento da cultura judaica na palestina. A base do Tamulde está nos ensinamentos apreendidos através da Torá, sagradas escrituras judaicas que se referem aos cinco livros de Moisés.
O princípio da sustentabilidade estava presente na cultura dos antigos hebreus, eles vivenciavam uma ética ecológica, viviam numa sociedade agrária e se dedicavam fielmente à preservação da natureza com responsabilidade para as futuras gerações. Eles cultivavam o conceito de que a natureza pertence a Deus e que os povos devem zelar e usar com sabedoria os recursos naturais. Um grão de arroz, uma folha de papel, um copo de água, devem ser tratados com sabedoria, isso reflete que o pensamento judaico sobre o não desperdício, mensagem básica do Tamulde que se aplica ao meio ambiente e demais áreas da vida, não é apenas uma questão econômica, se trata também de espiritualidade.
O jornalista premiado Larry Kahaner, autor do livro Valores, Prosperidade e o Tamulde, destaca que um judeu que observa rigorosamente as leis judaicas não joga fora um lápis quando a borracha da ponta está gasta, ele usa-o até o fim para evitar o desperdício. E também escreve dos dois lados de uma folha de papel porque, como o lápis, a fonte original desses materiais é uma árvore, recurso visto como preciosidade.
No Antigo Testamento, em Levítico 25.1-7, há o ensinamento de que Moisés recebeu a lei que determinava que a terra deveria descansar a cada seis anos. No sétimo ano, ninguém semearia nada, sendo um ano de descanso completo para a terra. E, através do planejamento, todos comeriam nos anos seguintes, sem falta de alimento algum. O doutor em Teologia Marcial Maçaneiro sugere que o livro de Levítico, capítulo 25, pode ser lido como um projeto de sustentabilidade.
Contudo, a sociedade produtiva capitalista de hoje pode considerar como inadequada a ideia de deixar de plantar por um ano, após cada período de seis, pois isso fará desacelerar a economia e afetará os negócios. Mas talvez não fosse necessário agir dessa forma, bastasse que todos os que usam a terra, tanto para criação de animais como para produção de grãos, seguissem à risca os planos de manejo, conforme a legislação ambiental. Essa, talvez seja a forma mais adequada de deixar a terra descansar, como nos tempos de Moisés, de maneira adequada aos dias atuais.
Kahaner mostra que os mestres talmúdicos, antigos rabinos, tinham uma grande preocupação com o meio ambiente, eles entendiam uma interconexão de tudo no mundo. Para os antigos hebreus havia um interesse em manter o meio ambiente sadio, pois isso tinha uma base econômica tanto quanto espiritual. O autor expõe vários preceitos que atestam essa atenção, desde a importância que eles davam à manutenção dos jardins nas cidades, o cuidado com o óleo no candeeiro para não desperdiçá-lo, até a proibição das chaminés nos ambientes urbanos por causa da fumaça. Os rabinos demonstravam interesse não apenas no caráter estético de uma localidade, mas também nos benefícios a saúde a ao meio ambiente natural, afirmam os estudiosos contemporâneos.
"Um curtume não deve se situar de tal modo que os ventos predominantes enviem seu desagradável odor para a cidade", consta no Tamulde de Jerusalém, Bava Batra 2:19. Embora os antigos mestres judaicos não possuíssem conhecimento para realizar análises científicas como atualmente, os estudiosos acreditam que eles intuitivamente sabiam que, quando algo cheira mal, provavelmente não é bom para a saúde, conclui Kahaner. No próximo artigo, a visão do cristianismo sobre o mundo natural.
Jair Donato é jornalista em Cuiabá, consultor de desenvolvimento de pessoas, professor universitário, especialista em Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida. E-mail: jair@domnato.com.br
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