19.01.2007 | 03h00
A fauna nacional, segundo nossas instituições ambientalistas governamentais e não-governamentais, movimenta no tráfico internacional de animais silvestre mais de 900 milhões de dólares ao ano. Mato Grosso contribui ou participa com 15% neste valor. Acusam que o comércio ilegal de animais é a terceira maior atividade ilícita no mundo - perdendo apenas para drogas e armas. A fauna mato-grossense apresenta uma das aves mais cobiçadas no exterior - a arara. Desde 1998 tal atividade tornou-se crime inafiançável. Entretanto, não se tem notícia local de prisões eficazes para combater tal tráfico silvestre, contra a propriedade natural do Estado.
De cada 10 araras traficadas 9 morrem antes de chegar ao seu destino final. Em outras palavras apenas 1% das araras mato-grossenses arrancadas de seus ninhos chegam ao destino final. Elas saem dopadas ou anestesiadas e escondidas nas malas, sacolas e nas barbas das alfândegas. Muitas viajam mortas. A fronteira nacional está aberta ao crime ambiental. Na ponta deste crime há sempre alguém que captura e conhece o Pantanal e os ninhos, o qual recebe mísero R$ 1,00 por filhote capturado. No meio o atravessador, que ganha até R$ 4,00. Na Ásia, Europa e Estados Unidos a arara sobrevivente chega a ser vendia ao preço de R$ 4.000,00. É comum na Europa (mercado especializado em Praga) ser vendida por até R$ 5.000,00. Dados de fácil obtenção ou pretensão de compra pela Internet.
Há no Pantanal sinais de uma possível redução das araras mato-grossenses. As principais causas da diminuição da população de araras podem estar na redução de seu hábitat, devido à destruição das fontes alimentares e coberturas vegetais primárias. A crescente ocupação humana e turismo bruto. Exploração irracional de florestas, pântanos e cerrado contribui para agravar a situação. No entanto, o tráfico é inegavelmente o maior motivo e mais daninho promotor da apontada redução da vida silvestre das araras. Há quadrilhas organizadas e especializadas no tráfico de araras e que são bem estruturadas para as vendas ilegais. Cerca de 20% do tráfico é para o consumo interno e o restante, 80%, para exportação. Este tráfico envolve um grande número de pessoas, iniciando por quem captura ou caça - geralmente pessoa muito humilde e que conhece o hábitat das araras. A partir daí não existe nenhum pobre ou necessitado, mas vários intermediários e grandes comerciantes na Europa, Estados Unidos etc. O tráfico interno é geralmente desorganizado e praticado por caminhoneiros, motoristas de ônibus e pequenos comerciantes. No entanto, quando se trata do tráfico internacional há sofisticação e o esquema altera totalmente. Trata-se de operação planejada com inteligência, que conta com condescendência de governo, empresas áreas etc. Nas fronteiras da Bolívia, do Paraguai temos até jatinhos particulares aguardando a chegada dos produtos silvestres com destino internacional. Muito pouco tem sido feito no combate efetivo deste famigerado crime ambiental.
É preciso proteger melhor nossa fauna. É preciso reeducar ou dotar de maior consciência ecológica os caboclos do Pantanal que colhem os filhos das araras. Além da necessidade de coibir de modo policial eficaz os intermediários e traficantes de animais silvestres do Pantanal, sob pena de nossas araras, com o tempo muito mais próximo, que se pode imaginar, termos as araras vermelhas, azuis somente empalhadas nos museus ornitológicos.
Hélcio Corrêa Gomes é advogado militante em Cuiabá e diretor-tesoureiro da OAB/MT.
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