TEME ESQUECIMENTO DE CRIME 19.10.2025 | 11h48
mariana.lenz@gazetadigital.com.br
Arquivo Pessoal
Um ano e 5 meses após a morte do sargento da Polícia Militar, Odenil Alves Pedroso, 46, executado a tiros em frente a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Morada do Ouro, a família ainda luta por respostas. O principal acusado pelo assassinato, o faccionado Rafael Amorim, ainda não foi localizado. Com apenas um envolvido no financiamento do crime preso, o homem que apertou o gatilho segue solto e não há informações sobre os mandantes ou motivação do crime.
Ao , a viúva do sargento, Rafaely Adriane Alves de Moura, conta que a família tem feito cobranças recorrentes às autoridades policiais e ao governo do Estado, contudo, sem respostas concretas sobre o andamento das investigações e principalmente, sobre o assassino.
“Com todo esse aparato, ninguém conseguiu prender o Rafael [atirador], eu já acredito que nem vivo ele está mais. Não entra na minha cabeça como ele conseguiu sair daqui de Mato Grosso. Ficamos sem respostas, eu já até desisti das respostas, cobramos, tentamos falar com delegado, governo, mas, infelizmente, não temos nada. Como conclui inquérito sem prender o mandante?”, questiona a mulher.
A procura de explicações para o crime ainda não solucionado, Rafaely faz diariamente a si mesma dezenas de questionamentos e relembra o último dia de vida do marido. Poucos dias antes do dia trágico, a família teve uma rotina de absoluta normalidade e que, nos 27 anos de Polícia Militar, Odenil nunca havia tido problemas com facções criminosas.
No fim de semana em que o faccionado conhecido como “Satã” foi morto, o sargento estava com a família em um sítio. Dias depois, a execução de Odenil seria atribuída a retaliação do Comando Vermelho pelo homicídio do criminoso. Contudo, narra a esposa, sequer tinham conhecimento do tal indivíduo. Conforme Rafaely, até hoje as peças do quebra-cabeça não se encaixam.
Segundo ela, Odenil foi um dos pioneiros da Patrulha Rural. Conhecia rotas em chácaras, fazia cadastramentos, sempre estava à frente dos trabalhos, sendo referência no serviço. Lotado no 3º Batalhão, patrulhava na região da comunidade do Rio dos Peixes, Aguaçu e Ponte de Ferro, também prestava apoio à Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e fazia plantões no Portão do Inferno. Na segurança de chácaras e sítios, lidava com a repressão de assaltos no campo ou encontro de corpos desovados em locais de difícil acesso em matas.
Na semana em que morreu, foi escalado para trabalhar dois dias seguidos na UPA Morada do Ouro. Essa prática, conta Rafaely, era comum, uma forma que o sargento encontrou para complementar a renda familiar. No momento em que saía da UPA para ir até uma lanchonete, o militar foi baleado, surpreendido pelo atirador, que estava em uma moto. Uma câmera de segurança na região registrou toda a ação. Ele chegou a ser levado de helicóptero para o Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), mas não resistiu.
“Ele era um profissional exemplar, ele gostava de trabalhar, tinha um amor pela profissão, ele era muito correto, muito preparado. [...] Quando chegou a notícia para mim, eu jamais imaginei que isso poderia acontecer na UPA. Eu não acreditei, tinha acabado de falar com ele, nem meia hora que mandou mensagem. Foi um baque saber disso”, recorda.
Com 24 anos de casados, a viúva tenta reconstruir a vida aos poucos diante dos meses de dificuldade que a família vem enfrentando. “Os dias estão passando e nada está acontecendo. Tiraram a vida dele e ficou por isso mesmo”, desabafa.
Horas antes de morrer, Odenil levou a mãe ao médico pela manhã e depois buscou a esposa no centro. Ela havia ido comprar uma roupa para a filha. Almoçou em casa e chegou a comer a sobremesa feita pela esposa. Despediu das duas com carinho e foi trabalhar, sem saber que seria seu último dia. O momento ficou na memória de Rafaely. As semanas que sucederam não foram fáceis.
“Passamos por psicólogo, psiquiatra. Eu tinha medo que viessem [bandidos] atrás da gente. Pensei em mudar de casa. Começaram a atacar meu filho na escola, fiquei com medo de represálias. Nós dormíamos todos no mesmo quarto por medo. Quando Odenil estava vivo e fazia escala e chegava meia-noite, eu só dormia depois dele chegar. Depois que ele morreu, eu cheguei a ficar sem dormir 3 dias, eu não aguentava mais”, conta.
Com ansiedade e sinais de depressão, a viúva teve de engolir suas dores para apoiar os filhos e a família. Narra que só não pensou em tirar a própria vida, pois não aguentaria deixar os filhos sozinhos. O sargento deixou 3 menores órfãos.
“Esse cara não matou só Odenil, matou a família inteira. Odenil ajudava a todos, as irmãs contavam com ele para tudo, os pais dele também, gostava do sítio. Não foi fácil nos adaptar, era só eu e ele. Tive que mudar toda minha vida, eu não trabalho mais para cuidar dos meus filhos”, lamenta.
Reservado, o sargento não tinha redes sociais e evitava fotografias por discrição. Mesmo com os poucos registros, a esposa imprimiu fotos e fez um álbum para recordar. Sempre que pode, revisita as conversas antigas que tinha com o esposo no WhatsApp e ouve áudios.
Em datas comemorativas o baque é ainda pior. É difícil reunir a família, o choro vem, relembram dele e da tragédia. “Ele era muito alegre, ir para a chácara ficou triste, não é a mesma coisa sem ele. Ele amava a mãe, cantava para ela. [...] Meu marido tão cheio de vida, ajudava tanto as pessoas, ia na igreja, era um coração tão grande. O que precisasse ele estava lá, foi uma perda grande. Ele dizia ‘faça o bem, o que a mão esquerda dá a direita não precisa saber, faça sua parte”, relembra
Agora a preocupação é com a proximidade de dois anos de falecimento do marido. Rafaely teme que a morte caia no esquecimento e que os culpados não sejam penalizados conforme a lei.
“Eu estou esperando pela lei de Deus, eu não acredito que esse cara, com todo aquele aparato, saiu daqui. Não dá para saber se ele está vivo, se sumiram com ele, se foi morto. Eu me questiono porque fizeram isso com ele? Por que na UPA? Eu só espero respostas, quero que peguem esse cara, de quem partiu a ordem? Por que mandou? De quem partiu a ordem também é assassino, vai ficar impune?”.
Prisão de líder
Em 19 de fevereiro deste ano, a Polícia Civil prendeu no Rio de Janeiro (RJ) o líder do Comando Vermelho, A.A.C, 'Tucão', foragido da Justiça de Mato Grosso, suspeito de ter financiado a fuga dos suspeitos envolvidos no homicídio do sargento Odenil.
Até o momento, o inquérito policial que apurou a morte do sargento foi concluído com o formal indiciamento de Rafael
Amorim de Brito pelo crime de latrocínio. A denúncia imputou a Rafael os crimes de latrocínio e integração de organização criminosa. Porém, ele nunca foi localizado.
A ação penal encontra-se na fase de apresentação de resposta a acusação por parte de outro denunciado. Quanto a Rafael, está na condição de foragido, com mandado de prisão preventiva em aberto.
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