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Política de MT - A | + A

DEU EM A GAZETA 07.09.2019 | 08h06

Por duas vezes, Mato Grosso sonhou ser independente

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Lázaro Thor Borges

lazaro@gazetadigital.com.br

Rafael Zanol/Reprodução quadro de Moacyr Freitas

Rafael Zanol/Reprodução quadro de Moacyr Freitas

Muitos anos depois, em 1892, o coronel João da Silva Barbosa não recordaria a remota noite do dia 30 de maio de 1834 quando Bento Franco de Camargo, chefe da Guarda Nacional, levou o povo às ruas de Cuiabá em uma luta ensandecida

contra o poder português, que mesmo depois da independência do Brasil ainda reinava na cidade provinciana.

 

O episódio, que ficou conhecido como Rusga, é tão esquecido quanto o levante comandado pelo coronel Barbosa. Os dois acontecimentos relembrados neste 7 de setembro, dia que se comemora a Independência do Brasil, mostram que antes e depois da separação do reino português já havia entre alguns mato-grossenses um desejo de se desvencilhar de Portugal e, em alguns casos, até do Brasil.

 

Pode soar estranho hoje, em se tratando de um Estado totalmente incorporado ao governo. Mas, naqueles idos, o desejo separatista era irmão da revolta causa da pela presença maciça de portugueses no comércio e na cultura local. Foi este

sentimento que fez com que cuiabanos apelidassem os portugueses de bicudos, referência ao peixe glutão, que engole tudo que vê pela frente. Alcunha que servia como crítica à ambição e a avareza dos lusitanos.

 

De certa forma foi um movimento liberal que nasceu logo depois da independência e que tinha semelhança com outros movimentos, também contra a elite portuguesa, como a Cabanada no Pará e a Farroupilha no Rio Grande do Sul, explica o economista Wilson Fuáh, que se considera um pesquisador da história cuiabana. A diferença é que em Cuiabá não exaltamos

essa revolução, muitos vêem como uma página obscura na nossa história, porque muitos portugueses foram degolados, espancados, decapitados, a violência foi muito grande, conta Fuáh.

 

Confira reporagem completa na edição do Jornal A Gazeta

 

Revolta militar

Mais de 58 anos depois, já

na República, outro movi

mento encabeçaria o desejo

dissidente de alguns mato-

grossenses. Um levante ini

ciado nos quartéis provoca

ria um golpe e levaria a

derrubada do então gover

nador de Mato Grosso, Ma

noel Murtinho, pelas mãos

do coronel João da Silva

Barbosa.

Em 31 de março de 1892, os

militares reunidos no 21º

Batalhão de Infantaria co

gitaram a criação da Repú

blica Transatlântica de Ma

to Grosso. A ideia não en

controu apoio e terminou,

como na história da Rusga,

com a prisão dos dissidentes

e o fim de um sonho um tan

to quanto esquecido hoje: a

independência política.

Em Cuiabá houve uma

junção de forças e os revol

tosos foram expulsos de lá e

o governador Manoel Murti

nho retornou ao cargo,

conta o jornalista Sérgio

Cruz, que atua em Campo

Grande. O presidente Flo

riano Peixoto mandou o

Exército para ocupar o For

te Coimbra e retomar o po

der ao Murtinho, é então

que surge a proposta de se

paração de Mato Grosso do

país, explica.

A provável separação aca

bou provocando repercus

são internacional, sobretu

do em jornais ingleses. O

Daily Telegraph, em 14 de

abril de 1892, chegou a pu

blicar artigo. No texto, o ar

ticulista comete um erro de

avaliação, ao sugerir que a

separação foi incentivada

pela Argentina.

É sabido que o governo da

república Argentina tem ul

timamente estado a com

prar armas da Alemanha a

fim de preparar-se para um

possível conflito com o Bra

sil, o que pode ser ocasiona

do pelo problema de Mato

Grosso, diz trecho da pu

blicação.

Outro jornal, o The Econo

mist, publicou um longo edi

torial, dois dias depois, em

que elogia a separação e

defende que só poderia ha

ver dano ao país em caso do

provável restabelecimento

da escravidão em território

mato-grossense.

A separação de Mato

Grosso da União Brasileira

deve ser sentida por causa

das consequências resultan

tes. Os estados têm poucos

interesses comuns e, em al

guns casos, os interesses são

até divergentes e opostos.

Não falando das diferenças

de população, os estados

marítimos ressentem-se do

Rio de Janeiro, e os do inte

rior, que não têm ligação

natural com a capital, só so

frem com as suas constantes

revoluções, diz trecho da

publicação catalogada por

Sérgio Cruz em seu blog

Histórias de Mato Grosso.

A proposta de separar a

província não deu certo

porque ela já foi feita no de

sespero, foi uma das saídas

que tentaram, não evoluiu

muito. Quando o levante

militar foi feito, os oficiais

esperavam que o então pre

sidente, Floriano Peixoto,

fosse apoiar o movimento, e

isso não ocorreu, no fim das

contas Peixoto apoiou Mur

tinho, desmobilizando os re

voltosos, afirma Cruz.

Revoluções vencidas

A repercussão internacio

nal não foi o suficiente para

conter as forças do governo,

que logo barraram o levan

te. Pior, porém, ocorrera

com os revoltosos da Rusga.

Os líderes do movimento fo

ram detidos e condenados,

em junho de 1835, mais de

um ano depois do início dos

protestos.

Naquela altura, o movi

mento já havia se espalha

do por toda a província de

Mato Grosso, alcançando

Diamantino e Miranda, por

exemplo, cidade que hoje

pertence a Mato Grosso do

Sul. A violência tomava

conta, as casas eram invadi

das e portugueses eram ca

çados por todos os cantos.

Nos tumultos, pessoas de

ambos os lados foram mor

tas ou feridas, segundo os

registros históricos. Para

Wilson Fuáh, o fato de ou

tras revoltas violentas se

rem lembradas nos estados

que passaram por estes con

flitos no período regencial

do império brasileiro mos

tra que é preciso fazer o

mesmo em Mato Grosso. Ele

recorda, por exemplo, o ca

so do Rio Grande do Sul, em

que se comemora a data em

que eclodiu o movimento se

paratista entre os sulistas.

Nós como cuiabanos, te

mos que ser os porta-vozes

da história, são fatos políti

cos, apesar da violência do

movimento, tudo isso acon

teceu aqui, e não tem como

esconder ou julgar como al

go que dever ser esquecido

ou jogado na lata do lixo,

afirmou.

lazaro@gazetadigi

tal.com.br

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Comentários

Sebastião Soares da Silva - 09/09/2019

Esses episódio deveriam fazer parte do currículo estudantil principalmente aqui em MATO GROSSO. MOS MATO-GROSSENSE DEVERIAMOS TER A LUZ DO QUE SE PASSOU NO NOSSO ESTADO.

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