A Expedição Roosevelt - Rondon - final

Quando Roosevelt comunicou ao filho e ao naturalista Cherrie sua decisão de suicidar se, Kermit recusou veementemente a ideia do pai e deixou claro que só sairia dali com ele.Em confidência a um amigo mais tarde, Roosevelt afirmou que:‘Eu sabia que ele não me abandonaria nem morto, tentaria levar meu corpo junto.Percebi que se quisesse que Kermit se salvasse, teria que deixá-lo salvar minha vida’.
A Expedição Científica continuou, Roosevelt passou a ser carregado e mais problemas surgiram, o remador Simplício morreu afogado e o sargento Paixão foi assassinado pelo camarada Júlio de Lima. Roosevelt defendeu a pena de morte para o assassino e Rondon não permitiu.
Roosevelt e Rondon voltaram a se desentender numa outra ocasião, quando o ex-presidente cada vez mais doente e desesperado,convocou o Cel. brasileiro em sua tenda e exigiu que o Rondon não atrasasse mais a Expedição com seus trabalhos topográficos de levantamento do Rio da Dúvida e seus principais afluentes.
O jornal New York Times, em 23 de março de 1914, manchetou que o Cel. Roosevelt ‘perdera tudo’ nas corredeiras dos rios amazônicos e que sua localização era ignorada, causando um alvoroço nos E.U.A.
Na verdade a Expedição continuava sua sina de enfrentar corredeiras, ameaça de ataques indígenas, fome, doenças e afogamentos, além de deslocar se o tempo todo em baixo de chuvas.Sobre os índios,a Expedição atravessou os territórios das nações Parecis,Nhambiquaras e Cinta Larga. As duas primeiras já pacificadas por Rondon, porém os Cinta Larga não tinham contato com os ‘civilizados’ e desses índios sabia se apenas que eram canibais. A travessia das terras Cinta Larga foi muito tensa, Rondon tentava aproximar se com presentes deixados em pontos estratégicos e os índios os acompanharam, sem serem vistos, em toda a extensão de suas terras, sem atacar, provavelmente por que não chegaram a um consenso sobre a necessidade de destruir a Expedição.
A saúde de Roosevelt era cada vez pior,a malária não dava trégua, corria risco de tétano, mal conseguia levantar a cabeça da canoa que o transportava e o médico da comitiva, Dr. Cajazeiras, passou a aplicar quinino direto em seu abdômen.Com a grave infecção na perna machucada, Roosevelt aceitou e foi operado em plena selva, na beira do Rio, sem anestesia.
Um mês e meio depois da largada no Rio da Dúvida a Expedição encontrou os primeiros seringueiros da região, que os confundiram com os temidos Cinta Larga.Passada a confusão inicial,os 20 homens puderam comer e dormir com um mínimo de segurança e conforto, era o paraíso! Duas semanas após esse contato, em 26 de abril, finalmente a Expedição atingiu a foz do Rio da Dúvida, no encontro com o rio Aripuanã, onde um grupo de militares aguardava havia varias semanas, por ordem de Rondon.
Em 19 de maio de 1914, Roosevelt entra no porto de New York, 25 kg mais magro,apoiado numa bengala,envelhecido significativamente e para o espanto de todos, o ‘Alce’, acabara de passar a experiência mais dolorosa de sua vida.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro e o American Museum of Natural History de New York receberam as espécimes da flora e da fauna amazônica coletadas pela Expedição que tornou se famosa,foi retratada em livros e no cinema e Roosevelt e Rondon passaram a compor o Panteão dos maiores desbravadores do mundo.

Wilson Santos é professor e ex-prefeito de Cuiabá