08.11.2016 | 00h00
A relação entre homem e natureza se dá não apenas no âmbito biológico, ocorre também em níveis culturais e psicológicos. Segundo o físico austríaco Frijot Capra, a natureza é tão complexa que a denomina como uma ‘teia da vida’. Ela se entrelaça e possui interdependência com todos os fenômenos. Uma breve viagem ao tempo favorece a compreensão sobre o comportamento e o estilo de vida do homem na Terra.
As concepções da natureza criadas pelo ser humano ao longo da história foram diversas, a começar pela visão sacralizada, quando conhecer os fenômenos naturais era adorá-los, época de quase nada em conhecimento científico. A natureza era então um mistério panteísta povoada por muitos deuses. Havia uma concepção politeísta e também anímica. Ou seja, era repleto de espíritos para cada fenômeno, pois eram atribuídos deuses para o fogo, para a água, para o trovão, para a relva, para a chuva, a lista era infindável.
Veio então a descoberta da agricultura e da pecuária, o início da dessacralização, rumo ao profano. Daí surgiu o processo discrepante na relação do homem com o meio ambiente. Ainda por volta do século VI a V a.C., no mundo helênico, os pensadores deixavam de cultuar, eles simplesmente contemplavam a natureza e refletiam sobre ela e os respectivos fenômenos. Alcançaram nessa época uma visão mais interrogativa e holística que englobava a natureza, os seres nela existentes, inclusive os humanos, e ainda os deuses.
Veio depois, com o tempo, a visão judaico-cristã, uma semidessacralização que retirou a cosmovisão holística e aderiu toda criação natural a uma entidade, laveh para os judeus, como processo da história. Após esse rumo do povo hebreu-judeu, parte do mundo natural perdeu o caráter de sacral.
Já com a visão mecanicista da natureza, no auge cristão do ocidente, prevalece de vez o postulado judaico-cristão no mundo. Fortalece concomitantemente no homem a concepção de portar-se como o senhor da natureza. E que os corpos, sejam humanos ou dos animais e até o Universo, funcionariam como meras máquinas projetadas.
Por fim, desde o início do século XX, com o desmoronar da concepção mecanicista, veio o surgimento da incerteza, momento em que o absolutismo foi contestado, características de uma visão organicista contemporânea. Surgem nesse contexto a teoria darwinista, sobre a evolução das espécies, a teoria da relatividade e a aproximação científica da vida, a exemplo da biologia molecular, quando o homem passou a ser visto intrínseco ao contexto bioecológico, composto também por traços comuns à natureza.
Essa rápida passagem pela linha do tempo na relação do homem com o meio em que vive e dele depende, apresentada detalhadamente pelo pesquisador Arthur Soffiati, traz uma reflexão sobre como o próprio homem age atualmente, na cultura capitalista neste novo século. As revoluções científica e industrial, pela via da descoberta e do crescimento, foram momentos necessários. Contudo, nessa transição, o homem passou a ter uma posição de como se fosse superior ao mundo natural, que pudesse explorar e domar a vida nele existente.
No entanto, o mundo natural continua sendo uma complexidade indomável pela astúcia humana. O homem não é o centro e esse recado a natureza tem enviado de maneira crucial ao reagir bruscamente nesses tempos, ditos modernos, de alterações climáticas.
Percebe-se que não pode haver mudança alguma se não houver mudança de dentro para fora. É um novo comportamento, mais reflexão e compreensão sobre a fragilidade da terra que o homem precisa adquirir. A natureza não pede para ser sacralizada novamente, basta que o indivíduo tenha por ela mais respeito, estima, cuidado, recuperação, contemplação. Que todo ser humano acolha a tudo que é natural como parte de si, da própria essência. Isso é repensar o modo de viver por aqui.
Jair Donato - Jornalista em Cuiabá, consultor de desenvolvimento de pessoas, professor universitário, especialista em Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida. E-mail: jair@domnato.com.br
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