12.11.2006 | 03h00
Cidadão Brasileiro foi uma espécie de laboratório para a Record. A trama, que chega ao fim esta semana, teve altos e baixos desde sua estréia, no início de março. Apesar do texto bem construído por Lauro César Muniz e da boa atuação dos personagens principais, a produção não conseguiu contornar problemas no figurino e cenografia, entre outras falhas.
A despeito das longas e arrastadas cenas durante toda a novela, que faziam com que o telespectador sofresse de uma irresistível vontade de zapear por outros canais, Cidadão Brasileiro contou com a satisfatória média de 11 pontos e 14 de participação. Em contrapartida, as atuações de Paloma Duarte e de Gabriel Braga Nunes, em especial, minimizaram os erros. O ator conseguiu elaborar um mocinho com nuanças que oscilam do mulherengo ao ambicioso e fugiu do lugar-comum nas três bem-construídas fases da trama.
O grande elenco da trama se destacou pela coragem de ter conseguido ultrapassar diversas intempéries enfrentadas ao longo da novela, como as fortes chuvas de março, que diminuíram o adiantamento dos capítulos gravados logo no início da produção. Foi o preço a pagar pela decisão de registrar a maioria das cenas em externas no interior de São Paulo.
Além da correria, a Record caiu na curiosa "maldição" que recai sobre as novelas gravadas em São Paulo. Não se sabe o motivo de elas contarem com uma música de fundo em todas as cenas que as aproxima do "clima" piegas das produções mexicanas. A capital paulista, aliás, não conta com mão-de-obra de primeira linha em dramaturgia, como técnicos e produtores. Assim sendo, a trama teve de utilizar profissionais já acostumados com a qualidade técnica de produções do SBT, ou seja, marcadas pela falta de refinamento artístico. Já no Rio, com Bicho do Mato, por exemplo, a Record se saiu melhor, já que existem profissionais mais gabaritados na cidade, formados pela escola da Globo, ou seja, o Projac. Esse detalhe é o que mais faz diferença no acabamento de cada cena.
Isso sem falar nos deficientes figurino e produção de arte da novela. As roupas retrataram perfeitamente todas as décadas das três fases, mas faltou o essencial: um caimento mais natural nas roupas para que parecessem usadas. Não basta um figurino irretocável da década de 50, por exemplo, se cada anágua ou colete parece que acabou de sair da loja. Já a produção de arte foi impecável ao garimpar objetos representativos das três épocas, mas o excesso de móveis e bibelôs nos cenários deu a impressão de que as tomadas aconteciam em brechós. É pouco crível ver um cenário só com mobiliário dos anos 60 ou 50, por exemplo, sem que eles estejam misturados a peças de décadas anteriores. Afinal, nenhuma casa costuma ser tão datada. Ou seja, faltou sensibilidade para dosar os limites da fidelidade do vestuário e mobiliário de época. A maquiagem carregada e a iluminação chapada também comprometeram o resultado artístico da produção.
Em compensação, o autor teve o mérito de fugir do didatismo e não criou personagens que transcendiam a obviedade do politicamente correto. Ninguém foi inteiramente bom ou mau, como normalmente ocorre nas tramas da Globo. Houve atuações realmente convincentes - entre elas, a de Paloma Duarte como a sofrida Luiza - e outras nem tanto. Caso da experiente Lucélia Santos, que se entregou à caricatura e se perdeu na composição da interesseira Fausta. Alguns ajustes poderiam ter sido feitos paulatinamente ao longo desta trama que chega ao fim. Cidadão Brasileiro representou um grande passo da Record na dramaturgia, mas ainda não se livrou de um persistente odor de naftalina, típico das velhas tramas mexicanas que o público já conhece de cor no SBT.
Cidadão Brasileiro
Record, de segunda a sábado, às 21:50h
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