RIQUEZA E CONTEMPLAÇÃO 08.04.2021 | 18h36

jessica@gazetadigital.com.br
Tema de música, poesia e lendas, o rio Cuiabá deu origem a cidade e a vida de muita gente que nasceu e cresceu às suas margens, assim como gerações anteriores. Cuiabá completa 302 anos e a corrente que protagonizou sua fundação, segue forte e vigoroso no desenvolvimento da cidade a quem dá nome.
Seja para a pesca, turismo, abastecimento da água que chega a torneira da população, o rio Cuiabá segue representando vida e prosperidade para o povo cuiabano e várzea-grandense.
O historiador Suelme Evangelista conta que entre 1719, quando Cuiabá foi descoberta, até meados de 1860, o rio era o único meio de acesso da futura capital ao resto do país. Grandes embarcações flutuavam pelo ribeirão trazendo desbravadores em busca de riqueza, alimentos para o povoado, material para construção da cidade que acabara de nascer.
“A única via de acesso a essas minas de Cuiabá era via navegação pelo rio, que passava pelo rio Tietê, Paraná, depois entrava no Taquari, na Bacia do Paraguai e São Lourenço até chegar aqui”, explica o estudioso.
Durante a guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870, a navegação foi suspensa. Depois foi retomada e seguiu como importante rota para chegar até a cidade. Nessa época, a tecnologia das embarcações se aperfeiçoou e as águas eram tomadas por barcos a vapor. Os tempos áureos dos navios seguiram até 1940, quando a aviação se expandiu e dividiu espaço com o transporte terrestre.
O rio sempre foi fonte de alimento e renda para comunidades ribeirinhas. Nos tempos de fartura de peixes, exemplares gigantescos eram pescados no rio Cuiabá. Por dia, era retirados caminhões de pescado nas águas cuiabanas. Atualmente, com a expansão da cidade e fatores ambientais, o rio não enche como antes e o peixe mudou de morada. Mas ainda há pescadores que vivem só com o que retiram dali.
O pescador Jorge Santana da Silva, 59, nasceu e cresceu na beira do rio. De pequeno já aprendeu o manejo para a pesca, vendo o pai, avô e tios nas canoas. Ele não tem lembranças em que o rio Cuiabá não esteja presente.
Com sotaque bem cuiabano e bom humor, o pescador explica sua história com o rio. Ele casou, criou filhos e ainda vive da pesca. “Não saiu daqui nem que me paguem. Essa tranquilidade não tem preço”, relata o ribeirinho.
Antes de se estabelecerem em Bonsucesso, a família de Jorge Santana morava na Barra do Aricá, em Santo Antônio do Leverger, onde também se dedicavam à pescaria. “Com 2 anos vim pra cá. Desde sempre estava envolvido com pescaria, no meio dos tios. A profissão está acabando, meus filhos não querem saber de rio”, comenta.
O pescador conta que hoje o rio não enche como antes e os peixes migraram para regiões do Pantanal. Sua rotina consiste em ir para o rio todos os dias, exceto domingo, “ mas se tiver bom de peixe a gente vai”, relata. Contudo, ele não fica o dia todo. Apenas algumas horas de manhã e à tarde, quando a chance de pesca é maior.
Antes, os ribeirinhos usavam redes e as retiradas eram cheias de peixes. Hoje a realidade é a pesca com vara e captura de 3 a 5 peixes, que são vendidos nas peixarias locais. “Cada peça custa entre R$ 20 e R$ 50. Se pega, dá para sobreviver”, conta.
O pescador relata que em tempo de rio cheio, o barranco ficava cheio de profissionais e amadores em busca do pescado e escolhiam qual espécie queria levar para casa.
“O rio Cuiabá é a vida pra mim. Estou até hoje nele. Enquanto tiver vida ele vai produzir”, afirma o morador.
Jorge Santana conta que quando o rio estava cheio, o que não ocorre há pelo menos uma década, era possível seguir de barco até próximo onde fica a estrada principal do distrito. Comenta que o ex-governador Dante de Oliveira navegou pelo local em torno das peixarias, quando era possível chegar com embarcações onde hoje está um amplo gramado.
Além de garantir o sustento das famílias, lazer e desenvolvimento para a cidade, o rio Cuiabá também garante ótimas histórias aos pescadores. Em vídeo, Jorge Santa conta a história do Jaú de 80kg que perseguiu pescadores e roubou todas as iscas. Outra lenda é de que os peixes desaparecem na Sexta-Feira Santa, quando a tradição cristã manda comer pescado.
“15 dias adiante não tem peixe. Antes a gente tinha até tanque para guardar o pescado para o dia, agora nem tem mais”. Não há explicação para o sumiço da fauna do rio Cuiabá.
Cada pescador tem uma canoa, que constrói com as próprias mãos. Se um deles precisa de ajuda, os ribeirinhos fazem mutirão para ajudar a elaborar a embarcação.
Com a diminuição de pescadores, as canoas estão dando espaços para embarcações maiores que transportam visitantes em busca de conhecer o rio Cuiabá e aventureiros que descem suas águas a bordo de caiaques.
Assim como rios de grandes cidades, o Cuiabá marca o início de algo novo, dá vida a quem vive dele, calma pra quem busca momentos de sossego e contemplação.
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