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fama de mal-assombrado 19.10.2025 | 16h00

Casarão guarda memórias de Ana Maria do Couto e familiar explica 'vozes' no local

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João Vieira

João Vieira

“Venho para somar. Somar ideias, esforços, recursos e dedicações: para dividir a riqueza produzida, os benefícios colhidos, a glória e o sucesso das realizações”, dizia a voz feminina que ecoava do interior do casarão onde viveu Ana Maria do Couto May, localizado entre as ruas Diogo Domingos Ferreira e Manoel Garcia Velho, no Bairro Bandeirantes. A fama de “mal-assombrado” ganhou força diante de relatos de vizinhos que teriam ouvido a voz da ex-vereadora, falecida há 54 anos, em 17 de outubro de 1971.

 

O trecho citado faz parte do último discurso público feito por May, tempos antes de falecer vítima de um câncer de estômago. No entanto, ao contrário de assombração, como por muito tempo se acreditou, as vozes que vinham de dentro do imóvel, na verdade, eram uma gravação que sua mãe, Francisca Torres do Couto, a “Chiquita”, colocava para ouvir e relembrar a filha amada após sua morte.

 

Ao , a sobrinha de May, Telma Cenira Couto da Silva, explica que por causa do costume da falecida avó até hoje as pessoas acreditam que a casa abriga forças ocultas. Ressentida pela perda precoce, Chiquita passou um tempo trancada no imóvel no escuro, ouvindo os discursos da filha. Não queria saber de visitas ou de música, rádio ou televisão. Magoada com os filhos por não contarem a ela sobre a gravidade da doença que acometeu May, preferiu o isolamento.

 

Hoje a casa vazia e colocada à venda perdeu as características originais de quando era habitado pela ex-vereadora. Foram muitas reforças desde então. Desenhada pelo arquiteto Antônio Carlos Candia, por um período moraram no local, além de Ana Maria do Couto, sua tia “Nenê”, e a mãe Chiquita. Contudo, após a morte, a família vendeu o imóvel.

 

Acervo da família

ana maria do couto may

Inauguração da praça com busto, em frente a antiga casa, em 1972

Em frente a casa, uma praça com o nome de May foi inaugurada um ano após sua morte, cuja homenagem se materializava no busto de bronze exposto ali.

 

“A praça May do Couto foi inaugurada em outubro de 1972, um ano após o falecimento dela. Vovó Chiquita deu este busto de bronze para ser colocado na praça. Quem sugeriu o nome da praça e fez a indicação foi a ex-vereadora Maria Nazareth Hans para o então prefeito José Vilanova Torres”, explica Telma ao

 

O busto permaneceu no local até o fim do ano de 2020, quando foi roubado. Feito em bronze por um escultor do interior de São Paulo contratado pela família, a obra foi doada pelos parentes à Prefeitura de Cuiabá. No entanto, a foto utilizada como referência pelo artista era de uma fase da vida em que Ana Maria já estava adoecida.

 

Reprodução

ana maria do couto may

Primeiro busto de Ana Maria do Couto, roubado da praça 

“Ela estava com a cara da morte. Emagreceu muito por conta do câncer, estava abatida, definhando. Vovó deu essa foto para fazer o busto e eu, quando vi, pensei parece que é a cara da morte, não tinha nada ver com a minha tia que era festiva, para frente, sorridente. [...] Eu dei graças a Deus que roubaram, quem olhasse iria pensar que ela era assim”, brinca a sobrinha.

 

No entanto, Telma, apesar de celebrar a troca da imagem, lamenta o roubo da placa que ficava abaixo da escultura, escrita pelo historiador Luis-Philippe Pereira Leite.

 

Somente em janeiro deste ano, um novo busto foi colocado no lugar do antigo. Dourado e reluzente, embora não seja feito de bronze. A sobrinha avalia que, desta vez, a escultura se parece mais com a tia em vida, sorridente, com vivacidade. A nova placa foi elaborada por ela e a filha, escrita com alguns dos feitos de May.

 

“A minha tia foi pioneira em um monte de coisas, ela não ligava para opiniões, as pessoas estranharam, mas eu falei ‘eu quero um busto com ela sorridente’. Queria que o cabelo dela parecesse esvoaçante, não liso, como quando ela andava de carro. Usamos de referência uma foto de quando ela era vereadora. Até minha filha ajudou a modelar”, recorda.

 

João Vieira

ana maria do couto may

 

Outro fato curioso se deve ao sumiço de outra escultura, mas instalada no Cemitério da Piedade, no Centro da capital. No túmulo de May, a mãe Chiquita mandou fazer e instalar uma grande imagem de Nossa Senhora Aparecida, também feita em bronze.

 

Telma acredita que a obra tenha sido roubada por criminosos, assim como o primeiro busto da tia, com intuito de derreter o material e vender.

 

Apesar das histórias que aproximam a vida de May do sobrenatural, Telma acredita que a tia nunca "voltaria" para assombrar quem quer que fosse, tendo em vista a pessoa alegre e prestativa que foi em vida. Muito pelo contrário, recorda-se com carinho dos momentos passados na infância ao seu lado. Um deles, que considera o mais marcante, foi quando a tia a salvou de um "fantasma".

 

“Eu morria de medo de fantasmas na infância, mas eu era uma criança muito danada, corria na rua, brincava de pega-pega, voltava para casa com a roupa rasgada. Para me dar medo, eles [familiares] me contavam histórias de fantasma. Um dia um deles se vestiu com um lençol branco e apareceu no quintal, falando comigo, eu quase morri de susto”, lembra.

 

Naquele momento, foi May quem acolheu Telma, que com apenas 7 anos acreditou na assombração que a repreendia pelas travessuras. Abraçada a tia, dormiu para esquecer do trauma, mas a lembrança da heroína está em sua mente até hoje. “Ela foi uma mulher forte, independente, dona de si, me ensinou muitas lições de vida”, revela.

 

A expectativa da família, agora, é que a praça seja revitalizada para honrar a memória de May e a nova escultura colocada no local. 

 

Pioneirismo

Nascida em Cuiabá em 13 de setembro de 1925, segunda irmã de 5 filhos de Hermínio do Couto e Francisca Torres do Couto, desde pequena se mostrava uma criança esperta e de personalidade marcante. O apelido May veio em função da fala do irmão mais velho, que ainda criança ao tentar pronunciar seu nome falava “Maí”.

 

Acervo da família

ana maria do couto may

 

Começou a se destacar ainda nova na vida pública, discursando em comícios. No meio acadêmico formou-se em Educação Física em 1944, no Rio de Janeiro. Pelo Fluminense, conseguiu o 1º lugar em arremesso de disco, sendo campeã no Estado. Em 1950 passou em 1º lugar no concurso para professora de educação física na Escola Pedro Celestino.

 

Chegou a ser radialista no programa “Bandeirante no Ar”, na rádio A Voz do Oeste, em 1952 e também trabalhou em televisão, recebendo anos mais tarde o registro de jornalista autônoma.

 

Formou-se em Direito na primeira turma do curso na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em 1962, mesmo ano em que foi eleita vereadora pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). 3 anos depois foi eleita a primeira presidente da Câmara Municipal de Cuiabá. Somente 40 anos depois, uma mulher voltaria a ocupar o posto de presidente, com a vereadora Chica Nunes, em 2005.

 

Foi membro do conselho Deliberativo do Clube Esportivo Dom Bosco e, em 1971, eleita presidente.

 

Chegou a candidatar-se para deputada estadual, contudo, em função de sua saúde, teve de deixar a campanha. Em 17 de outubro de 1971, faleceu no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá, em função de um câncer no estômago em metástase, aos 46 anos. Ela não se casou e nem teve filhos.

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