01.03.2009 | 03h00
Desde o começo do ano foram registradas 457 denúncias sobre bocas-de-fumo em Cuiabá e Várzea Grande. Do total, cerca de 50% correspondem a situações reais, segundo o coronel da Polícia Militar, Osmar Lino Farias. O número representa mais de 15 ligações por dia. O comércio ilegal apavora, amedronta e incomoda as pessoas que não traficam, não são usuárias de drogas, mas têm em frente às suas casas ou estabelecimentos comerciais bocas-de-fumo que funcionam muitas vezes 24 horas. As ameaças e o medo dos traficantes faz com que as pessoas se calem. O telefone e o e-mail estão sendo os meios mais usados pela população para delatar essa prática à polícia.
O combate ao tráfico doméstico não é tarefa fácil porque o crime precisa de materialidade e os traficantes criam mecanismo para dificultar o flagrante e fazer com que os presos sejam autuados como usuários. Isso seria um dos principais motivos da polícia "estourar", por exemplo, uma boca-de-fumo hoje e amanhã ela voltar a funcionar a todo vapor.
Farias explica que os donos das "bocas" estão usando viciados para fazer a venda direta nas ruas e esquinas, os chamados "aviãozinhos". Eles normalmente pegam pequenas porções e comercializam para conseguir manter o vício. Quando os policias abordam, a quantidade não configura tráfico e como não estão no ato da venda, são liberados depois de assinarem um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) no Centro Integrado de Cidadania (Cisc), responsável pela área.
Outra estratégia é utilizar as bocas-de-lobo como esconderijo. Eles colocam a droga dentro de um saco plástico ou preservativo, que é amarrado em um fio. Na ponta da linha, colocam um prego que é fixado na calçada. A embalagem do produto é jogada dentro da boca-de-lobo e na hora da abordagem, os policiais não encontram nada com o vendedor. Os terrenos baldios e muros também são utilizados pelos criminosos. Qualquer buraco serve de abrigo para as "trouxinhas".
Apenas a TV Record e o Jornal A Gazeta receberam no período do Carnaval cerca de 30 denúncias por e-mail. As pessoas - que têm medo de serem identificadas - narram a atuação dos traficantes e afirmam que ligam para a polícia, mas o negócio continua. Eles contam histórias, nas quais a viatura aparece, os traficantes são revistados e depois de alguns minutos de tranquilidade, a "correria" volta.
E um dos e-mails, um morador do bairro Pedregal diz estar indignado porque os criminosos não respeita nem sequer idosos e crianças. Caso uma pessoa olhe a atividade deles, logo chamam de "pescoço" e ameaçam os moradores. Os traficantes escondem a droga no muro da casa de habitantes que são trabalhadores e não têm nada haver com o comércio.
Farias explica que todas as denúncias são checadas, mas não basta prender na hora, é preciso um trabalho de investigação para conseguir subsídios que garantam a configuração do crime como tráfico de drogas para tirar o acusado de circulação.
O delegado titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), Marcelo Felisbino Martins, explica que o trabalho da Polícia Civil para combate do tráfico doméstico, ou em pequenas quantidades, está focado na prisão dos fornecedores. Estas pessoas não estão nas bocas-de-fumo, que são mais de 200 espalhadas em Cuiabá, e sim moram em apartamentos e andam em carros luxuosos. São traficantes que compram o produto de fora do Estado e fazem a mistura, para aumentar o volume da droga e em seguida distribuem para as "bocas". Ácido bórico e até mesmo pó de mármore são misturados ao produto. "Qualquer coisa branca, o objetivo é aumentar o volume sem se preocupar com reações à saúde".
Ele fala que tirar um fornecedor das ruas atinge vários pontos, já os que atuam diretamente com o cliente, na maioria das vezes são caso de saúde pública, pois são dependentes químicos e reféns do comércio. A ação dos agentes é focada em uma investigação minuciosa para dar subsídios a Justiça para manter os culpados na cadeia e fazer o sequestro de bens e contas bancárias. O delegado fala que apenas assim a atividade do traficante é suspensa, pois em muitos casos, os familiares dão continuidade ao negócio.
Além dos viciados, outra preocupação dos policiais são os mototaxistas. Eles se aproveitam da mobilidade do transporte para fazer a entrega do produto. Martins explica que não são todos os profissionais que atuam no ramo. Os "disk droga" normalmente não são filiados a associações ou sindicatos e trabalham de forma independente. As viagens aumentam nos finais de semana.
Proerd - O Programa Educacional de Resistência as Drogas (Proerd) é uma das ferramentas para combater o consumo de drogas na escolas, principalmente as que estão na periferia da cidade. O coronel Jaques Lopes da Cunha explica que para acabar com o tráfico não basta a repressão, deve-se investir na educação. Ele esclarece que o custo de um aluno é de R$ 15, divididos entre o uniforme e material didático, e o valor de um tratamento é muito superior, principalmente porque alguns dependentes passam pelo processo várias vezes.
O projeto segue um modelo norte americano, que foi implantado nos estados de São Paulo e Santa Catarina. Nos dois locais, o índice de jovens que participaram das aulas e não envolveram-se com entorpecente é de 95%.
O coronel relata que a presença dos policias fardados dentro de sala de aula afastam os traficantes das instituições, onde eles aliciam os "aviãozinhos". Nas aulas, destinadas a crianças, adolescentes e pais, os participantes aprendem como tomar decisões e os problemas causados pelo consumo de droga na vida de uma pessoa. Jaques assegura que os participantes são ensinados a avaliar os prejuízos futuros de um ato impensado.
Outra ação do projeto é quebrar o paradigma de que a polícia é agressora, como é divulgado pelos traficantes nos bairros. A idéia é fazer com que as crianças vejam o policial como educador social e alguém que chega para ajudar, aumentando o envolvimento da comunidade nas ações de segurança.
O trabalho de conscientização é realizado em 3 pilares: família, polícia e escola, explica o coronel. Ele alega que a participação dos pais na educação dos filhos têm reduzido e faz com que as crianças sejam adotadas pelo tráfico. "A polícia dentro da escola faz um trabalho de convencimento, utilizando argumento científicos e emocionais para afastar os jovens das drogas".
Serviço: As denúncias de bocas-de-fumo podem ser realizadas pelos telefones 197 e (65) 3613-6997. As pessoas que preferirem podem usar o e-mail denunciapc197@policiacivil.mt.gov.br e ciosp197@seguranca.mt.gov.br
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