Presidente da AML traz afetos nas páginas de seu novo livro

A escritora e presidente da Academia Mato-grossense de Letras (AML), Luciene Carvalho, lançará o seu 15º livro em evento no Palácio da Instrução, na terça-feira (19). A obra recebe o nome de “Saranzal”, uma forma de simbolizar um emaranhado de sentimentos e lembranças evocadas a partir de sua afetividade em relações familiares. Ao , a autora refletiu sobre o conteúdo abordado no novo trabalho. 

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“Eu sou uma filha de preta de Livramento (Nossa Senhora de Livramento) e de um pai baiano. Eu vou apresentar esse afeto, porque eu penso que as mulheres de hoje têm direito a todos os direitos, mas também anseio por todos os afetos. Então, eu vou dizer como que esse amor inicial sustentou a mulher que eu sou", explica a autora.

A poeta nasceu em Corumbá (MS), mas se mudou para a capital mato-grossense em 1974. Em 2008, a Câmara Municipal de Cuiabá concedeu-lhe o título de cidadã cuiabana. Com 14 obras publicadas, sua poesia tornou-se destaque pela vida cotidiana e a regionalidade retratada em versos ritmados. 

“A empatia é pelo humano, pela jornada. Eu tenho intensa vocação para falar sobre Cuiabá como personagem contínuo da minha obra. O meio ambiente e o modo de vida portense de quintal”, pontua. 

Um de seus livros mais relevantes é o "Porto", 2005, em que retrata personagens baseados em sua vivência na região tradicional. A obra também foi publicada em uma versão bilíngue, em português e espanhol, e teve lançamento no Chile. 

“Eu acho que meus livros vão tão profundo no humano, que eu resvalo por questões que são universais, no amar, no feminino, na luta cotidiana, no enfrentamento dos desafios que a vida apresenta”, acrescenta. 

Carvalho se tornou imortal da AML em 2015 e ocupa a 31ª cadeira. Em 2023, foi a primeira mulher negra a assumir a chefia da instituição em 103 anos de história. A artista também foi a primeira negra a ocupar a presidência dentre todas as academias de letras brasileiras.

Além de poeta, Luciene também é diretora e professora de teatro, formada pela MT Escola de Teatro. Entre seus trabalhos teatrais está a peça Projeto Arca, apresentada na SP Escola de Teatro, em São Paulo, em fevereiro deste ano. 

Entre os seus livros publicados, destaca-se Dona, lançado em 2018. A obra discute questões sobre o etarismo, aprofundando-se em retratar a mulher após os 50. No vestibular da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), de 2019 e 2020, foi indicada como uma leitura obrigatória. 

As produções literárias da autora, entretanto, não causam identificação apenas no meio feminino. Na poesia Gula D’Água, 2021, a artista perpassa todos os tipos de amor e a inclusão dos afetos. 

“Eu já percorri a diversidade poética. A meta poesia é presente. Eu não acredito que seja poesia feminina, eu acredito que o meu gênero seja feminino e isso emprega na minha poesia. Mas meu tema não é só o feminino, porque as dores e os viveres, os amares do masculino também me importam”, expressa. “Esse é um lado da minha poesia. Que não se condiciona às regras de gênero, mas que inclui sensibilidades de um arco maior de afeto”, finaliza.