mapa, matemática conexão nos fios 07.12.2025 | 12h03

redacao@gazetadigital
Reprodução/@dielatrancas
Com uma técnica secular, geração após geração, pessoas negras utilizam o cabelo trançado como um poderoso símbolo de identidade, remetendo diretamente à sua ancestralidade. Mais que um adorno, o penteado é um movimento cultural significativo. Num contexto de apagamento histórico e estratégico, simboliza uma ferramenta de conexão entre afrodescendentes e o continente africano.
A historiadora, professora e pesquisadora, Cristina Soares, pontua que as tranças se mantêm como resistência a uma cultura eurocêntrica que, no período da colonização, buscava extinguir o legado africano.
“Passamos por um processo de anulação da nossa identidade. O propósito da colonização era apagar as raízes, era apagar a memória da população negra. E tudo isso foi imposto de forma muito negativa. As tranças, hoje, são essa conexão com o continente africano”, afirma a pesquisadora ao
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“Vai além do sentido estético, é uma memória ancestral, é uma ponte que liga os espaços entre passado, presente e futuro. Conecta pessoas que estão separadas a milhares de quilômetros, pessoas que estão em diáspora, ao continente africano”, acrescenta.
A historiadora explica que as tranças eram uma forma de comunicação visual, permitindo saber a qual grupo a pessoa pertencia apenas pelo tipo de penteado que utilizava. O nome "Trança Nagô", um dos estilos mais usados, remete ao povo de origem iorubá, que foi trazido ao Brasil como escravizado.
O formato das tranças também pode ser associado aos Fractais, padrões geométricos que se repetem infinitamente em diferentes escalas. As narrativas orais, conforme destacado pela pesquisadora, trazem relatos de como o cabelo trançado poderia também ser um mapa que mostrava a rota de fuga para escravizados que conseguiam escapar, durante o período da escravização.
“Remetem também à própria tecnologia matemática que existia no continente africano. Então a própria trança é um contraditório, uma contranarrativa com relação a tudo aquilo que foi falado sobre o povo africano. Demonstra que o povo entende de matemática”, diz.
Assim como a professora, a trancista, empreendedora e assistente social, Diela Tamba Nhaque, 37, considera o penteado como uma ferramenta de fortalecimento da autoestima de muitas pessoas negras. “Quando estou com tranças, vejo em mim a força da nossa ancestralidade” diz a empresária.
Nhaque nasceu em Guiné-Bissau e as tranças sempre estiveram presentes em sua vida desde cedo, como brincadeira. Aos 9 anos, ela se recorda de já fazer o penteado em amigos e família. Quando prestou vestibular e se mudou para Cuiabá, no entanto, ela enxergou uma oportunidade de empreender com isso.
Logo no primeiro dia em território mato-grossense, outras estudantes estrangeiras que moravam na mesma república estudantil pediram o cabelo trançado. Com o tempo, outros universitários, encantados com a beleza dos fios enlaçados, passaram a solicitar o serviço também. Hoje, Nhaque tem o próprio salão, ministra palestras e já capacitou mais de 3 mil trancistas.
“Não é moda. As tranças vieram para ficar, porque trança é resistência. Trança é resgate de autoestima. É resgate de identidade ancestral, africana, negra. Isso nos representa onde a gente estiver. E os nossos que virão, os nossos pequenos que virão depois de nós, já vão seguir com essa mesma cultura, sem medo”, ressalta a guineense.
“Teremos crianças com autoestima, com vontade de andar com cabelos trançados, por muito mais geração. Então não é tendência, é ato cultural”, finaliza.
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