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'MAIS CARNE, MAIS FLORESTA' 25.10.2025 | 17h00

Demandas globais por proteína e sustentabilidade impulsionam criação de 1º selo de carne livre de desmatamento

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Mariana Lenz

Mariana Lenz

O recente lançamento do selo Beef on Track (BoT), primeira certificação de carne livre de desmatamento do mundo, tem movimentado o mercado da pecuária e também entidades do setor produtivo. O anúncio do selo ocorreu nos dias 21 e 22 de outubro, em Brasília, e contou com discussões entre autoridades nacionais e internacionais ligadas à produção da carne bovina e do meio ambiente. O intuito da iniciativa é reforçar a rastreabilidade do produto e incentivar práticas sustentáveis.

 

Presente no segundo dia do evento representando o setor mato-grossense, o diretor técnico operacional do Imac, Bruno de Jesus Andrade, acredita que o selo vem para avalizar tudo aquilo que os produtores já têm feito em relação à legislação ambiental vigente. "O selo, pelo que nós avaliamos, é uma certificação considerando os critérios do protocolo 'Boi na Linha', que já são amplamente utilizados pela indústria frigorífica. É uma iniciativa interessante que já está sendo aplicada e que vem trazer cada vez mais transparência para o setor, desde a originação de animais para bate. Ela está alinhada com tudo aquilo que está sendo construído por vários estados e no Mato Grosso", declarou ao .

 

Questionado se o selo pode encarecer o produto após sua implementação, o representante do Imac avalia que não e projeta que o BoT potencialize os benefícios ao setor de pecuária. "Estamos falando de critérios estabelecidos por lei, então é a comprovação daquilo que é correto, que a propriedade rural já faz. Não vemos a possibilidade de encarecer o produto. Obviamente, ele poderá ter um apelo maior no mercado e isso pode ser bom, porque gera um benefício para a cadeia produtiva, tanto para a indústria quanto ao produtor, mas encarecer custo de produção, não", argumenta

 

O diretor ainda comenta que, por ser um protocolo privado e de adesão voluntária, caberá aos participantes da cadeia produtiva decidirem se adotam ou não o selo. No entanto, vê com bons olhos a iniciativa. "Dependendo de como será aproveitado pelas indústrias e pelos produtores, pode ser uma grande oportunidade", analisa.

 

Imaflora

selo beef on track

 

Mesmo recém-lançado, o selo já tem aceitação positiva no mercado chinês, conforme exposto durante o lançamento na terça-feira (21) no "Comércio Sino-Brasileiro: perspectivas para a sustentabilidade e valorização de cadeia". Iniciativa do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), o Beef on Track tem como objetivo ser um instrumento de transparência e produção responsável, visando eliminar o desmatamento da cadeia produtiva da carne bovina. Chineses da Tianjin Meat Association já aderiram e se comprometeram a comprar 50 mil toneladas de carne com selo BoT até junho do próximo ano.

 

Sobre o tema, Bruno Andrade afirma que os compradores asiáticos mantêm diálogos mais estreitos com o Brasil, permitindo que os exportadores façam adequações às exigências de mercado sem tantos embates. 

 

"A China se preocupa com questões socioambientais, do jeito deles, sem exercer uma pressão igual à pressão que a União Europeia exerce. Os chineses entendem a necessidade de nos ter como grandes fornecedores. O Brasil tem a essa capacidade de fornecer um volume de carne que eles não encontrariam em outro lugar. Os chineses avançam de uma maneira muito comedida. Isso é muito bom pra nós, porque dá tempo de nos preparar. É uma discussão muito mais suave. Sem qualquer tipo de imposição", acrescenta.

 

Alta demanda e parceria China-Brasil

Atualmente, cerca de 50% da carne bovina comprada pela China é do Brasil. O mercado chinês tem mostrado uma tendência a aumentar seu consumo de proteínas, aliado as boas práticas ambientais. Cerca de 22% dos consumidores chineses afirmam que estariam dispostos a pagar mais para ter carne livre de desmatamento.

  

Imaflora

selo beef on track

 

Os dados apresentados são da China Meat Association, Institute of Finance and Sustentability (IFS), Tianjin Meat Association e a COFCO Joycome, que participaram do painel por transmissão online. Os asiáticos estão otimistas e encarando o selo como um valor agregado. Além disso, destacam cobranças por desmatamento zero, proteção das florestas visando o desenvolvimento sustentável, com objetivo de reduzir as emissões de carbono.

 

Embora também importem carne da Austrália, Argentina e outros países da América Latina, em menor quantidade, os chineses veem no Brasil preocupações sobre a forma como a carne é produzida que vão além das questões sanitárias, visando também a preservação da Amazônia e regiões de floresta.

 

Cobranças por sustentabilidade  

Representantes de entidades brasileiras como o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Ministério Público Federal (MPF), SEAPA MG, SEMAS (PA) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também estiveram no evento para debater a transição para formas de produção mais sustentáveis.

 

No evento, o procurador do MPF, Ricardo Negrini, expôs que a participação dos pecuaristas nos debates deve ser incentivada e crê que as discussões de requalificação precisam de adesão da categoria, e não promover uma 'exclusão sumária'. "São muitas divergências, tem assuntos espinhosos que não conseguimos consenso. O MPF, apesar da fama, trabalha com diálogo, não tentando só judicializar as discussões. Tentamos fazer essa aproximação entre as partes para ter resultados positivos. Não adianta o MPF pensar em inovações de TAC, novos protocolos sem discutir com ninguém e só publicar", cita.

 

Imaflora

selo beef on track

 

Um dos principais pontos do selo é reforçar a rastreabilidade da carne, mostrando que sua origem é sustentável a partir de uma série de critérios e requisitos. 

 

A diretora-executiva do Imaflora, Marina Piatto, espera que a certificação seja acessível e alcance do pequeno ao grande produtor, além de impactar positivamente o consumidor final. "Queremos que esse seja o novo normal. Precisamos separar o pecuarista que faz o certo daquele que faz o errado. A ideia é não ter aumento ao consumidor final. Nós não queremos que isso vire uma 'carne gourmet', todos têm direito a consumir uma carne livre de desmatamento", avalia.

 

O selo

Com o lema "More Beef, more forest" (mais carne, mais floresta) o Beef on Track (BoT) é a primeira certificação global que atesta carne livre de desmatamento, para reconhecer a conformidade socioambiental da pecuária. Podem aderir ao certificado frigoríficos, curtumes, varejistas, importadores e instituições financeiras, não sendo uma certificação para fazendas, mas da compra de produtos provenientes da pecuária de corte.

 

O objetivo é diferenciar produtos sem desmatamento no mercado nacional e internacional, com baixo custo, para atender demandas globais por transparência, facilitar a exportação para mercados mais exigentes como União Europeia, Reino Unido e China, fortalecendo a imagem do Brasil como produtor responsável.

 

Dentre os níveis de certificação estão o Bronze, que prevê legalidade dos fornecedores diretos; o Prata, livre de desmatamento e conversão dos fornecedores diretos; o Ouro, com legalidade da cadeia completa de fornecimento; e o mais alto, o Platinum, livre de desmatamento legal ou ilegal, do trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas.

 

A certificação tem como instrumento um sistema de monitoramento, baseado em protocolos já existentes e pactuados com o setor, como o Boi na Linha, utilizado pelo Ministério Público Federal para monitorar os frigoríficos signatários do Termo de Ajustamento de Conduta da Carne na Amazônia Legal, e o Protocolo do Cerrado, de adesão voluntária.

 

Passaporte verde em Mato Grosso 

Durante o evento também foi compartilhada a iniciativa mato-grossense do 'Passaporte Verde', por meio do projeto de lei n° 1145/2025, de autoria do Executivo estadual, que prevê política de sustentabilidade socioambiental da pecuária bovina e bubalina no Estado. O PL teve aprovação pela Comissão de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Recursos Minerais e Direitos dos Animais Domésticos da Assembleia Legislativa na terça-feira (21).

 

Dentre os objetivos estão previstos viabilizar o acesso ao mercado global da carne e promover uma metodologia de monitoramento ambiental da propriedade rural e rastreabilidade individual dos animais durante seu ciclo de vida. A propriedade que aderir e cumprir as condições estabelecidas no Passaporte Verde receberá atestado de regularidade socioambiental (ARS), estando habilitada ao mercado global da carne.

 

Outro ponto do PL é o Projeto de Reinserção e Monitoramento (PREM), instrumento do Passaporte Verde para reinserir propriedades que estejam sem acesso ao mercado por não atender obrigações ambientais vigentes na legislação nacional. O PREM consistirá em um diagnóstico, acompanhamento e monitoramento contínuo das medidas de regeneração ambiental em áreas desmatadas irregularmente. A propriedade que aderir a ele receberá a Declaração de Regularidade Socioambiental (DRS).

 

Mariana Lenz

selo beef on track

 

Em um dos painéis expositivos, a diretora-executiva do Imac, Paula Queiroz, indicou que os produtores, mesmo os irregulares, precisam de apoio para se regularizar sua situação para além de somente sanções e restrições, já que muitas vezes a informação não chega na mesma velocidade ao campo. 

 

"Nós percebemos que o produtor tem um conhecimento, mas não tão aprofundado. O principal desse programa é tornar simples. Não adianta uma cadeia de controle e comando que o produtor já está desgastado. [...] Toda vez que aperta o produtor se sente acoado, não é que ele queira descumprir, falta informação, temos que entender como funciona na ponta", cita.

 

Mato Grosso no ranking da carne

Atualmente o Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo, ultrapassando 202 milhões de cabeças de gado, e é líder nas exportações, respondendo por 22,7% dos embarques globais, segundo dados da Abiec em 2023. Em Mato Grosso, são 32,1 milhões de cabeças de gado, de acordo com balanço do Governo do Estado, por meio do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado (Indea). O estado segue na liderança nacional de rebanho, a frente do Pará e Goiás.

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