Saiba se visto americano pode ser cancelado por publicações nas redes sociais

A Embaixada e os Consulados dos Estados Unidos emitiram 379,3 mil vistos para brasileiros entre janeiro e maio de 2025, uma queda de 24,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A dificuldade de obter o visto americano aumentou após a volta de Donald Trump à Casa Branca, que endureceu medidas imigratórias e turísticas.

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Além disso, os Estados Unidos têm sido mais rigorosos com quem já tem o documento e passaram a considerar publicações nas redes sociais de estrangeiros para revogar o visto.

Um exemplo foi o de um médico pernambucano que ironizou a morte do ativista conservador Charlie Kirk em um comentário no Instagram.

O caso levou o vice-secretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, a pedir pessoalmente a anulação do visto do médico.

Histórico revisado
Especialistas em imigração ouvidos pelo R7 explicam que postagens que mostrem apoio a organizações terroristas, incitação à violência, condutas criminosas, ou outros elementos de inadmissibilidade previstos na lei podem ser consideradas na decisão de negar ou revogar vistos.

De acordo com Henrique Scliar, profissional de direito imigratório, o DS-160, formulário padrão de visto para não imigrantes, passou a incluir perguntas sobre quais plataformas o candidato utilizou nos últimos cinco anos e os nomes dos perfis.

“A instrução é que os perfis fiquem acessíveis para análise, porque os oficiais consulares usam o conteúdo público online como parte do processo de avaliação de risco e de admissibilidade.”

Ele resume que quando alguém pede um visto, a decisão de negar ou cancelar o documento é quase sempre uma escolha do próprio governo, e não uma decisão que precise ser justificada nos mínimos detalhes.

Essa liberdade de decisão é conhecida como poder “amplamente discricionário” e é baseada em leis específicas (como o INA, que é uma lei de imigração dos EUA).

Além disso, Scliar diz que é extremamente difícil conseguir que um juiz mude a decisão de negar um visto. Só em casos muito raros e com motivos muito fortes é que a Justiça pode intervir.

“As situações que tendem a pesar mais são postagens que expressam apoio a grupos designados como terroristas; incitação direta à violência; admissão ou evidência de envolvimento em crimes; e, em alguns programas recentes, manifestações interpretadas pelas autoridades como promoção de ódio ou ameaças à segurança”, conta.

Cuidados e dicas
Para Bruno Lossio, também especialista em direito imigratório, “o principal cuidado é compreender que as informações disponíveis em redes sociais são hoje parte do processo de análise consular”.

Segundo ele, mesmo depois da concessão, o visto pode ser revogado a qualquer momento se surgirem indícios de que o portador se tornou inelegível, como o caso do médico pernambucano.

Sobre críticas políticas ou opiniões divergentes, ele comenta que isso não constitui base legal para inadmissibilidade nos Estados Unidos, mas alerta que pode haver um adendo na análise do visto.

“O porta-voz do USCIS, Matthew Tragesser, anunciou em comunicado que o Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos vai considerar o ‘antiamericanismo’ como critério na hora de analisar solicitações de visto e outros benefícios para imigrantes, pois eles entendem que ‘os benefícios de imigração, incluindo viver e trabalhar nos EUA, são um privilégio, não um direito’.”

Entretanto, a dica é ser honesto e transparente ao solicitar o documento. “Transparência e preparação prévia, com um bom planejamento imigratório, são a melhor forma de reduzir o impacto de conteúdos passados”, garante.