25.02.2007 | 03h00
Ainda está passando nos cinemas o filme do diretor Mel Gibson, Apocalypto. Mostra uma região da América Latina, possivelmente onde é hoje a Guatemala, antes da chegada dos colonizadores. Não é o filme em si que quero comentar, é a mensagem negativa que ele passa.
Mostra um violento povo indígena dominante. Ou melhor, um povo cruel. Mata-se com crueldade. Espanca-se e pune-se com crueldade. Arranca-se coração de pessoas ainda vivas em rituais. O filme choca com essas ações.
Não que não houvesse rituais religiosos e até sacrifícios naquela região, mas o que pontuo é que a mensagem que o filme passa é que se gosta de fazer aquilo. Ser cruel seria parte do nosso comportamento.
A cultura anglo-saxônica acredita que a América Latina tem algo de cruel no tratamento humano. Segundo eles, isso teria nascido na Espanha. Tem uma história por trás disso.
Havia uma dura disputa na Europa entre Inglaterra e Espanha. Uma vez os espanhóis quase invadiram a Inglaterra. A invasão não ocorreu por causa de uma tempestade que destruiu a armada espanhola. Um fato que talvez tenha mudado o curso da história.
Naqueles tempos de agressões mútuas começou a ser criada pela Inglaterra em toda a Europa a idéia de que os espanhóis eram cruéis. É o que os livros de história chamam de "lenda negra".
Ela tem início com as reclamações dos jesuítas espanhóis aos reis da Espanha sobre o tratamento que os colonizadores davam aos índios na América. As cartas de um frei, Bartolomeu de las Casas, se espalham pala Europa e espalha também a idéia da maldade inata do povo ibérico. E existe até hoje.
Essa é também a idéia que os norte-americanos têm a respeito de nossa região. Em muitos filmes isso é mostrado. Citando só um: Scarfe com Al Pacino. Um traficante latino usa uma motosserra para cortar o oponente. Enforcam alguém na Bolívia jogando-o de um helicóptero. Ou o sadismo de outro latino querendo explodir um carro com criança dentro. Aquela é a idéia que fazem da gente.
E agora vem o Mel Gibson e ajuda a espalhar ainda mais essa versão sobre a região. É que ele mostra no filme uma crueldade local antes dos espanhóis ou portugueses chegarem. Se for associado que eles acham que os colonizadores já eram maus por natureza, mais a inata crueldade indígena da região, nasce o monstro que somos.
É incrível como essa visão distorcida dos fatos impregna o mundo anglo-saxônico até hoje. Mas, ao mesmo tempo, eles não vêem como a brutalidade ou crueldade está mais entre eles do que entre os latinos.
É só ver o que os ingleses fizeram na África, Ásia e Oriente Médio. É constatar o que os mesmos ingleses fizeram com irlandeses e escoceses, incluindo torturas brutais. A Inglaterra no seu expansionismo foi de uma crueldade com outros povos que o que houve na América Latina é café pequeno.
Sua cria, os EUA, que ajudam a aumentar a idéia de crueldade da região, é outro país que tem mãos sujas. Os espanhóis maltrataram os índios na América Latina, mas os EUA os dizimaram quase que totalmente em atos de enorme brutalidade.
Outras ações "humanitárias"? O tratamento que aquele país deu aos negros por séculos. Ou nas guerras que participaram. O que fizeram no Vietnã. Não é brutal jogar bomba que queima a pessoa viva? Destruir vilas inteiras de pessoas num bombardeio brutal. Ah, era guerra. Mas que diabos eles foram fazer na terra dos outros? Isso não é um ato de brutalidade também? O mesmo fizeram os ingleses pelo mundo afora no século passado.
O que dizer da santa Europa com a inquisição? Queimaram milhares de pessoas com enorme crueldade em praça pública em nome da religião. E a crueldade que fizeram através dos séculos com os judeus e outras minorias? Mais? Japão na Ásia e a França na Argélia fizeram coisas que até Deus duvida.
Parece um desabafo. Fica assim mesmo. O diabo do filme do Mel Gibson ajudou nisso.
Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta às terças, quintas e aos domingos. E-mail: pox@terra.com.br
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