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03.06.2003 | 03h00

Frases de Nelson Rodrigues

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Dias atrás escrevi aqui sobre Nelson Rodrigues. Volto a ele. Talvez a maioria das pessoas não o conheça. Nasceu em Pernambuco, foi criança para o Rio. Seu pai era jornalista. Ele e seu irmão, Mário Filho, enveredam por aí também. Esse Mário Filho é o mesmo que dá nome ao estádio do Maracanã. Envolveu-se mais com esporte.

Nelson escreveu também, por longo tempo, uma coluna sobre esporte. Mas caminhou para outros lados. Escrevia sobre tudo. Tinha uma coluna no jornal "O Globo" com um título sugestivo: "A vida como ela é". E é sobre os fatos do cotidiano que ele navega. Escrevia ainda peças de teatro. Tem até gente que o acha o maior de todos nessa área. Escritos seus também deram filmes.

Um nome que hoje está associado a Nelson Rodrigues é o de Ruy Castro. Foi este que o "recuperou" e o traz até os tempos mais recentes. Primeiro, escreveu uma biografia dele, depois juntou suas crônicas e as publica. Tudo com sucesso editorial.

Um desses livros chama-se "O Óbvio Ululante". São crônicas publicadas naquele jornal carioca, que vão de dezembro de 1967 e julho de 1968. Um momento trepidante do Brasil e do mundo. Aqueles anos fizeram história, aqui e fora. Militares no poder, movimento paz e amor, drogas, Vietnã, estudantes franceses quase botaram fogo no país, censura, liberação feminina. Fermento puro. E ele os retratando diariamente num canto de jornal.

Mas não era sobre isso que queria escrever hoje. Quero é colocar algumas frases de Nelson Rodrigues do livro citado acima. Elas estão nos artigos dele, no correr da escrita. Coloco algumas aqui. Depois de cada ponto é uma.

O ser humano é o único que se falsifica. A perfeita solidão há de ter pelo menos a presença numerosa de um amigo real. Como é bom o doer das velhas penas. O homem começa a ser homem depois dos instintos e contra os instintos. A grande dor não se assoa. A arte da leitura é a releitura.

Enquanto a esquerda que aí está não for substituída até seu último idiota, não vai acontecer rigorosamente nada. Pulavam como índios de filme. (Essa coisa ) é mais defunta que a primeira audição do Danúbio Azul. (A mulher que se porta como) grã-fina é uma flor do subdesenvolvimento. Morreu sem tempo de corrigir o sorriso.

Há sujeitos que se vestem e se calçam como os nostálgicos defuntos familiares. A multidão é inumana porque não tem cara. Somos um povo (assim ou assado) desde a Primeira Missa. Fazia mais calor que em Canudos. O brasileiro é um ser crispado de solidão, leva no peito uma sensação de orfandade. Todas as palavras são rigorosamente lindas, nós é que as corrompemos. (Enche-se de) um narcisismo homicida. Fulano atirava patadas como num espasmo mediúnico.

A esquerda brasileira não se comunica com ninguém, vive na mais obtusa solidão. Ela não atinge o povo, só doutrina para si mesmo. Fulano estava mais só do que um Robinson Crusoé sem radinho de pilha.

Xingar os EUA é uma maneira de ser inteligente sem ler, sem escrever, sem pensar. Falar mal dos EUA dá até (para pegar) mulher. No Brasil a glória está mais no insulto do que no elogio. O único negro que nos comove é o norte-americano porque serve ao ódio contra os EUA. (Dom Helder Câmara) deu uma resposta como um Moisés de Cecil B. de Mille. Fulano não interessa ter razão (numa discussão), a mim interessa, estou muito velho para andar de quatro.

Taí uma amostra das tiradas do Nelson Rodrigues. Estão em menos de oito meses de artigos escritos para o Globo. Vocês nem imaginam o que tem em centenas de outros.

Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta. E-mail: pox@terra.com.br

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