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Cuiabá, Quarta-feira 29/10/2025

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29.10.2025 | 10h52

Vivência do Axé!

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Kamila Garcia

Divulgação

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A descoberta do Orixá em sua vida é sempre mágica. É um despertar para cores que sempre estiveram lá, mas que agora brilham com uma intensidade nova. É sentir a fé pungente e serena de Oxalá; mergulhar na fonte do amor, da fertilidade e do ouro que é Oxum; encontrar a força para abrir o próprio caminho com a coragem de Ogum; buscar a justeza e não apenas a justiça, no trovão de Xangô. É o conhecimento silvestre de Oxóssi, a sabedoria ancestral e o colo acolhedor de Nanã, a cura que vem de Omulu e Obaluaiê, e toda a renovação que Iemanjá traz com suas ondas.


Tudo renasce, tudo cresce, tudo faz mais sentido sob a luz suave e poderosa dos tronos divinos. A vida, então, ganha um contorno mais confiante quando nos enxergamos na presença próxima de um guia amigo — um companheiro de estrada que anda ao nosso lado, não à frente ou atrás.


Contudo, a vida no axé nem sempre é um mar de rosas — ou melhor, um mar de alfazemas e manjericões. A calmaria que se espera encontrar é, por vezes, perturbada por ventos contrários que não sopram dos Orixás, mas da boca do homem. Talvez porque, historicamente, uma visão barroca do Sagrado e do Profano tenha forjado a imagem de um Deus intolerante, impiedoso com quem o busca de forma diferente. Ou porque, através da voz e da ação humanas — tão falíveis —, essa posição implacável seja transmitida, gerando dor e afastamento.


Aprendemos na Umbanda sobre amor e caridade; aprendemos em quase toda religião sobre amor e perdão. Contudo, a ação do homem nem sempre é voltada para esse amor genuíno, para esse perdão divino. E, em nome de Deus, cometem-se atrocidades há muitos e muitos séculos.


A minha visão de casa de axé é outra: é o acolhimento de toda dor, de toda ordem. Uma casa de axé tem Preto Velho e tem Nanã, tem colo e tem aconchego. Tem o cheiro do azeite de dendê, o clarão da vela e a reza carregada de amor na benzedura. Tem Mãe de Santo, tem a doçura de Oxum, a força de Iansã e a grandiosidade de Iemanjá.


E então me pergunto: se o meu irmão crê em algo com outro nome ou o expressa de outro modo, por que não posso simplesmente amar e respeitar o que ele acredita? Por que a necessidade urgente de definir um “certo” e um “errado”, se o amor deveria ser a base, o chão firme de qualquer fé?


Talvez nem houvesse a necessidade de se criar uma lei sobre intolerância religiosa se toda crença fosse aceita como uma forma legítima de um povo expressar seu sagrado — se houvesse apenas um olhar de Deus, um olhar de amor, sobre tudo.


A verdade dura é que o homem, muitas vezes, se incapacita de exercer sua vocação divina por conta do egocentrismo e da vaidade. E essa postura acontece em qualquer circunstância, infiltrando-se até nos lugares que deveriam ser os mais protegidos.


O filho de Deus, no fim das contas, deve apenas se abrigar em Deus e naquilo que vivencia: amando e prestando caridade. Esteja ele numa casa de axé, numa igreja, num templo ou simplesmente no altar do seu próprio coração.


Sim, claro que já sofri preconceitos. Já senti o olhar atravessado ao cantar um ponto baixo, ao acender uma vela para meu guia, ao reverenciar meu Orixá em silêncio. Mas aprendi uma lição valiosa: mesmo não estando hoje sob o teto de um terreiro, meu Orixá é dono da minha cabeça, e a ele reservo a oração mais sincera e o sorriso mais genuíno.


Acredito, com toda a força do meu ser, que meu Orixá me dá chão e me guia no caminho do bem, sem olhar a quem — seja para um católico, um crente, um budista. Todos são meus irmãos. E é essa a visão de Umbanda que eu, Kamila, carrego comigo. É com muita satisfação que olho para a pessoa que me tornei: mais amorosa, mais caridosa e sempre pronta a ouvir, sem julgamentos.


No fim, a maior magia que existe não está num feitiço complicado, mas no feitiço simples e transformador do amor.
Acredito na macumba da felicidade, no trabalho que se faz com o coração aberto, e no meu guia, que é a luz que me inspira a ter um bom pensamento, um bom sentimento e, acima de tudo, uma boa ação. E que o axé de todos nós seja forte o suficiente para construir um mundo com mais colo e menos pedra. Axé!


Kamila Garcia é bacharel em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, com pós-graduação em Psicanálise. Atualmente é estudante de Psicologia.

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