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entrevista da semana 25.09.2023 | 14h30

Psicóloga destaca fatores de risco à saúde mental e cuidados

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Vanessa Araujo - Especial para o GD

redacao@gazetadigital.com.br

Arquivo pessoal

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Carregando uma cor vibrante, setembro é marcado há quase uma década como mês crucial para dar visibilidade a questões ligadas a saúde mental e, em especial, a prevenção do suicídio. Em inúmeros países, o amarelo é associada ao Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, 10 de setembro.

 

Para falar sobre transtornos mentais, diagnósticos e uso de medicamentos, o conversou com a psicóloga Rose Ronchi, 55, especialista em neuropsicologia e transtornos de humor.

 

GD: Recentemente, uma pesquisa revelou que apenas 5% dos brasileiros fazem terapia, mas 16% tomam psicoativos. Como você interpreta esses números?

Rose: as causas são sempre multifatoriais e relacionadas, sendo algumas delas: a popularidade e facilidade de aquisição de psicoativo. No Brasil, quase 80% das pessoas acima de 16 anos relatam que se automedicam, é um hábito desaconselhável, mas cultural, com as casas tendo sempre uma 'farmacinha' à mão. A inacessibilidade ao tratamento adequado. O fato é: tanto os medicamentos, quanto o processo psicoterapêutico acabam pesando no bolso da pessoa que precisa de cuidados, embora existam serviços alternativos, estes não atendem a imensa demanda e não estão disponíveis para a grande maioria das pessoas. Assim, muitas delas tentam dar um jeito de se cuidar, optam por usar os medicamentos, não aderindo à psicoterapia, é o que chamamos de tratamento de torcida, você toma o medicamento e torce para dar certo.

 

Falha na orientação de saúde: falta ainda na área da saúde uma orientação sobre os protocolos de tratamentos envolvendo os outros pilares que vão além do medicamento, sendo eles além da psicoterapia, as suplementações e as terapias naturais (regulação de sono, alimentação saudável, hidratação, rotinas não sedentárias), esse é um conjunto de fatores protetivo para a saúde global, e assim que se cuida de pessoas.

 

Estigma: algumas pessoas não fazem acompanhamento por medo de serem taxadas pejorativamente, essas pessoas, muitas vezes, interrompem ou escondem o uso de medicamentos da própria família, ou círculo íntimo por medo da estigmatização que o cuidado com a saúde mental pode representar. Enfim, esse é um assunto longo e preocupante, que nós da saúde mental, combatemos diariamente no sentido da psicoeducação.

 

GD: Quando é indicado procurar uma psicóloga?
Rose: A psicoterapia promove o bem-estar e a autonomia pessoal, então sempre que isso estiver como objetivo e foco, há a possibilidade psicoterapêutica. Então quando alguém sentir que tem algum assunto que está trazendo algum tipo de incômodo, a psicoterapia é um caminho. Algumas pessoas acreditam que somente quem tem transtornos mentais precisam de ajuda, mas isso é um mito e um estigma. Toda pessoa pode se beneficiar dos processos psicoterapêuticos, porque naquele espaço são desenvolvidas estratégias de enfrentamento às mais variadas situações que podem afetar a saúde da pessoa. Claro que quanto mais grave é o sofrimento, mais urgente e necessário se faz uma intervenção psicoterapêutica, como, por exemplo, em caso de a pessoa estar muito deprimida, e/ou ansiosa, e/ou com ideação suicida, e/ou com alguma desregulação emocional, seja por um motivo conhecido ou não, é indicado passar por este processo, pois a psicoterapia nestes casos, auxilia na regulação e na autoproteção.

 

GD: Quais os sintomas mais comuns de uma crise de ansiedade?
Rose: A crise de ansiedade acontece quando o organismo de uma pessoa se prepara para enfrentar um grande perigo real ou imaginário futuro, com sensações que podem ir desde a preocupação, medo ou angústia, alterações de sono e apetite, evitação de lugares e de pessoas, ou ter reações fisiológicas, que podem escalonar para um estado de vigília constante, confusão mental, sudorese, aceleração cardíaca, falta de ar, sensação de morte, congelamento, tremores no corpo.


Então uma crise de ansiedade pode ocorrer em situações do dia a dia ou mesmo numa crise de pânico, de forma provisória e relacionada com estressores ambientais, mas quando ocorre de forma persistente, excessiva e disfuncional, pode indicar um transtorno de ansiedade, por exemplo, transtorno de ansiedade generalizada, fobia social, agorafobia entre outros.

 

GD: Por que os brasileiros apresentam altos níveis de ansiedade, levando em consideração o fato de o Brasil ser classificado como o país mais ansioso do mundo pela Organização Mundial da Saúde (OMS)?
Rose: O aumento no nível de ansiedade tem sido visto em escala mundial, e temos alguns motivos que podem ser comuns, como os crescentes conflitos entre países, a recente pandemia, o aquecimento global, etc.


Focando no Brasil, alguns fatores sociais que diretamente influenciam são: instabilidade econômica, violência, desemprego, desigualdade social, polarização política, entre outros. Tudo isso somado ao acesso precário aos serviços de saúde mental criam um ambiente futuro inseguro.


Outro ponto a se considerar, também, é o excesso de exposição a telas e a competição com as vidas fakes de redes sociais, porque ao olhar para o outro, que se mostra mais saudável, mais bonito, esbanjando qualidade de vida, a sensação de desvalorização se apresenta, derrubando a autoestima.


Veja que não são os mesmos fatores que são determinantes de níveis de ansiedade em diferentes países, há influências, sociopolíticas, climáticas, demográficas, culturais que também estão o tempo todo afetando as pessoas, mas o fato é que no geral o nível está bastante alto e em crescimento.


GD: Burnout é uma condição que tem sido pauta, principalmente em ambientes de trabalho. Poderia explicar como esse transtorno se desenvolve e quais são os sintomas mais frequentemente observados?
Rose: Burnout significa exaustão e esgotamento, em saúde mental é caracterizado por estresse crônico relacionado ao trabalho com sintomas físicos, emocionais e mentais. Alguns estudos apontam que alguns profissionais, da área da saúde e professores, estão mais sujeitas ao burnout. O ambiente estressante é um determinante do burnout, além das próprias funções da profissão e independe do profissional gostar ou não do que faz, o dano vem da pressão que o trabalho exerce sobre a pessoa.


Alguns sintomas de Burnout são: sensação de incapacidade; de desesperança; invalidação do próprio resultado do trabalho; falta de motivação; cansaço excessivo - físico e mental, mesmo após repouso e raciocínio e planejamento afetados. Estes sintomas, se estendem mesmo às atividades não relacionadas ao trabalho, como lazer e vida pessoal.


Assim como os outros transtornos, é importante adotar estratégias de enfrentamento de estresse e isso é possível em psicoterapia com foco também em boas práticas de retomada de hobbies, higiene do sono, alimentação saudável, pausas e descansos, respeito aos próprios limites e valorização do próprio trabalho. Não olhar para isso pode acabar em maior sobrecarga e desenvolvimento/agravamento de outras questões de saúde decorrentes deste sofrimento.

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