Médico alerta para prevenção e sinais do câncer de cabeça e pescoço

Feridas que não cicatrizam na boca, rouquidão persistente, dificuldade para engolir e nódulos no pescoço exigem atenção. Estes são alguns sinais que podem indicar a presença de câncer de cabeça e pescoço, considerados um dos mais agressivos ao organismo humano.

Apesar de agressivo, seus sintomas ainda são ignorados por pacientes, na maior parte homens. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) conduziu um estudo inédito, que revelou que cerca de 80% dos tumores de cabeça e pescoço diagnosticados no Brasil, entre 2000 e 2017, foram diagnosticados em estágio mais avançado. Esse cenário compromete o tratamento e exige terapias mais severas contra o tumor.

Este 27 de julho, o Dia Mundial de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, traz luz para um assunto que ainda é pouco falado, mas que o esclarecimento pode ser decisivo na cura e qualidade de vida do paciente oncológico.  Em entrevista ao , o médico oncologista Rafael Sodré destacou que o diagnóstico precoce é fundamental e aumenta significativamente as chances de cura.

Para esclarecer dúvidas e orientar a população, ele respondeu as principais dúvidas sobre prevenção, sinais de alerta e opções de tratamento.

Gazeta Digital - O que é o câncer de cabeça e pescoço?  

Rafael Sodré - Chamamos de câncer de cabeça e pescoço um grupo de tumores que surgem nas regiões da cavidade oral (língua, gengiva, bochecha, palato), orofaringe, laringe, hipofaringe, nasofaringe, seios paranasais, cavidade nasal, glândulas salivares e pele da face e do couro cabeludo. São áreas com estruturas fundamentais para a fala, respiração, alimentação e aparência, o que torna esses tumores especialmente impactantes.

Gazeta Digital - Quais são os tipos mais comuns dentro dessa categoria? 

Rafael Sodré - O tipo mais comum é o carcinoma espinocelular, responsável por cerca de 90% dos casos. Ele geralmente se origina nas mucosas da boca, garganta e laringe. Outros tipos incluem os tumores de glândulas salivares, melanomas da face e tumores cutâneos, como o carcinoma basocelular e o espinocelular da pele.

Gazeta Digital - Há formas de prevenção eficazes? 

Rafael Sodré - Sim. A principal forma de prevenção é evitar os fatores de risco: não fumar, evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e proteger-se do sol. A infecção pelo HPV (Papilomavírus Humano) também está associada a alguns tipos de câncer de orofaringe e a vacinação contra o HPV é uma medida preventiva importante, especialmente entre os jovens.

Gazeta Digital - Quais são os primeiros sinais de alerta? 

Rafael Sodré - Feridas na boca que não cicatrizam em duas semanas, dor ou dificuldade para engolir, rouquidão persistente, caroços no pescoço, sangramentos ou dor na garganta que não melhora são sinais de alerta. Esses sintomas, muitas vezes, são negligenciados, mas devem ser levados a sério.

Gazeta Digital - Em que momento a pessoa deve procurar um médico? 

Rafael Sodré - Se qualquer um desses sintomas persistir por mais de 15 dias, especialmente em pessoas que fumam ou consomem álcool com frequência, é fundamental procurar um médico, preferencialmente um otorrinolaringologista, cirurgião de cabeça e pescoço ou cirurgião oncológico.  

Gazeta Digital - Como é feito o diagnóstico? 

Rafael Sodré - Com exame físico detalhado e biópsia da lesão suspeita. Também utilizamos exames de imagem, como tomografia, ressonância magnética e PET-CT para avaliar a extensão da doença.  

Gazeta Digital - Quais são os tratamentos mais utilizados atualmente? 

Rafael Sodré - O tratamento depende da localização e estágio do tumor. Pode envolver cirurgia, radioterapia e quimioterapia, isoladamente ou em combinação. Em alguns casos, também utilizamos imunoterapia, especialmente nas fases avançadas ou recidivas tumorais (retorno do tumor).

Gazeta Digital - Quais os principais efeitos colaterais do tratamento? 

Rafael Sodré -  Eles variam conforme o tipo de tratamento, mas podem incluir: dificuldade para engolir, alteração na fala, perda de paladar, boca seca, feridas, alteração estética e dor. São efeitos que exigem acompanhamento multidisciplinar, com fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos. 

Gazeta Digital - Que mensagem o senhor deixaria para a população sobre a importância do diagnóstico precoce? 

Rafael Sodré - Minha principal mensagem é: não ignore sinais persistentes na boca, garganta ou pescoço. O diagnóstico precoce salva vidas, permite tratamentos menos mutilantes e com maior chance de cura. Busque atendimento médico ao menor sinal de alerta. A prevenção e o cuidado com a saúde da boca e da garganta devem fazer parte do nosso dia a dia.