‘Já teve metaleiro buscando Raça Negra’ 01.05.2022 | 10h34
luizleite@gazetadigital.com.br
Luiz Leite
Independente do estilo, gênero ou ano de lançamento, quem não gosta de ouvir uma boa música? Você certamente faz isso usando um fone de ouvido, celular ou até mesmo a televisão, certo? Há quem prefira fazer ‘à moda antiga’. Muito presente na década de 80, os discos de vinil voltaram com tudo, seja pela memória afetiva onde ocupam lugar ou pela qualidade sonora perceptível aos ouvidos.
Graduada em Direito, Priscila Leventi e seu esposo, Max Amorim, viram no disco de vinil a oportunidade perfeita de juntar o útil ao agradável. Ambos relatam, em entrevista ao , que o contato com a música começou desde cedo. Os pais de Max eram colecionadores de discos de vinil e ele e o irmão sempre foram ligados à música, inclusive tocando em casa.
Quando questionados sobre a lembrança do primeiro disco que possuíram em sua coleção pessoal, Max é o primeiro a se manifestar e não pensa duas vezes antes de afirmar “meu foi um disco do Rush”, diz o fã da banda de rock canadense.
Então, no início de 2017, o casal que buscava se desfazer de seus discos abriu a loja, que hoje leva o nome de Tcha Por Discos. Priscila conta que a sugestão do nome- que faz referência ao linguajar cuiabano - partiu de um amigo estrangeiro, em uma conversa informal.
Utilizando as redes sociais como principal meio de atrair público, Priscila e Max perceberam o aumento na procura por discos de vinil durante a pandemia. “Muita gente procurou valorizar mais o ambiente de casa, aquela coisa mais doméstica”, relata Max ao .
O espaço, que abriga caixas e mais caixas de discos, está instalado no quintal da residência do casal, localizada no bairro Boa Esperança, em Cuiabá. Contando com um acervo variado de artistas e gêneros musicais, desde o brega até o heavy metal, a loja é procurada tanto por colecionadores como por curiosos, que acabam conhecendo e se interessando pelo acervo musical disponível, como relata Max, “já veio metaleiro aqui e comprou raça negra”.
Beatles, Elis Regina, Madonna e Belchior encabeçam a lista de artistas mais procurados. Partindo de R$ 5,00, os discos em promoção podem chegar a R$ 3,00 se adquiridos em certa quantidade. Já os valores mais elevados ficam por conta das prensagens mais recentes, estão na faixa de R$ 200,00, justamente pela qualidade superior que apresentam, explica o casal.
O interesse do público jovem por discos de vinil chama a atenção de Priscila que, empolgada, relatou à reportagem que por influência da família ou por curiosidade própria, os nascidos após os anos 2000 procuram a loja, a fim de conhecer um pouco mais sobre essa cultura. “Por mais que seja um hobby que vai às vezes criar um valor elevado ou não, a criança ou o adolescente têm buscado. Não é só o colecionador que vem aqui. É aquela pessoinha que está sendo formada.”
A universitária Ana Beatriz Chireia, 21, foi pega de surpresa ao descobrir uma coleção de discos de seu avô, falecido 3 anos antes dela nascer. Ana já tinha conhecimento das coleções do progenitor, desde discos até garrafinhas de refrigerantes antigos, pois sempre ouviu da família sobre a paixão de João Chireia por colecionar.
Então, semanas atrás, ao realizar a limpeza de um dos guarda-roupas de sua casa, a jovem se deparou com a coleção de discos do avô, formada por artistas como Paul Mauriat, Billy Vaughn, Balão Mágico e Menudo.
Em vida, o entusiasta da música chegou a ter mais de 150 vinis em sua coleção, hoje reduzida a 50 itens, relata a neta ao . Ana, que herdou do avô o gosto por músicas internacionais, relembra, com muito carinho, o momento exato da descoberta dos discos de vinil. “Emoção de encontrar uma coleção do meu avô. Uma história guardada. Foi emocionante, quase chorei.”
Chireia, que se diz consumidora assídua de música e assim como todos, ou quase todos da atual geração, utiliza as plataformas digitais como principal fonte de entretenimento, narra surpresa ao descobrir que além de discos musicais, o avô também possuía discos de histórias e narração, como é o caso da produção que conta os momentos mais emocionantes da copa de 1970.
Apesar de não possuir vitrola - equipamento necessário para reprodução dos itens - a estudante de jornalismo garante que não pretende se desfazer e muito menos vender o acervo encontrado em casa, reforçando por várias durante a entrevista, o valor sentimental das peças, e garante que na primeira oportunidade, o disco do Balão Mágico será o primeiro da coleção a ser ouvido.
Em outro canto da cidade, especificamente no bairro Popular, uma fachada colorida chama a atenção de quem trafega pela rua Sírio Libanesa. O quadro negro escrito a giz com letras coloridas revela o nome do estabelecimento: Livraria e Sebo Raro Ruído.
Em um balcão no interior do espaço, a reportagem do é recepcionada por Edson Xavier, professor universitário, advogado e proprietário da livraria e sebo. Assim como os demais personagens ouvidos para construção desta reportagem, Edson tem uma ligação muito forte com a música desde a infância. “Meu primeiro disco de vinil eu comprei com 11 anos e então nunca mais parei de comprar.”, relembra o professor ao contar que sua primeira aquisição foi o disco da banda britânica de rock Queen, intitulado Hot Space. “É considerado um dos piores discos do Queen, mas é um que eu gosto muito.”, conta Edson sorrindo.
Inaugurada em 2018, próxima a Universidade Federal de Mato Grosso, a loja mudou de local em 2021 e se tornou um ponto para colecionadores e simpatizantes do vinil, tendo sua divulgação feita por meio das redes sociais. O espaço é uma realização pessoal do professor, que sempre imaginou colocando em prática apenas quando aposentado. Foi então que a oportunidade surgiu antes mesmo da aposentadoria e ele, aficionado por discos e livros, usou como principal referências os sebos visitados em suas viagens para o exterior.
Edson afirma que 85% do público geral do sebo é feminino, mas faz um adendo que, quando o assunto é o consumo de discos de vinil, o interesse independe de gênero ou idade e atribui à experiência física, o interesse por este tipo de produto. “O digital não tem cheiro, não tem forma, não tem textura”, diz Edson, que se preocupa em não tirar os créditos do formato digital, que em suas palavras, democratizou o acesso à música, mas, por outro lado, retirou boa parte da experiência sensorial de sentar para ouvir um bom disco.
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